Incêndio no Pantanal (Foto: Iberê Périssé/Projeto Solos)

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Dez fatos que marcaram o clima em 2020

Eventos extremos, boiada passando e uma ponta de esperança no final de um ano que todos queremos esquecer

21.12.2020 - Atualizado 11.03.2024 às 08:29 |

DO OC – Sim, foi um ano horrível. Fomos atingidos pela pior crise sanitária em um século, que já deixou 1 milhão de mortos e só agora dá sinais de que poderá ser controlada (claro, nos países que não têm um genocida antivacina na presidência). Assistimos a mais uma sucessão alucinante de eventos climáticos extremos, tantos que desafiam até a memória: quem se lembra de que milhares de australianos passaram o réveillon nas praias fugindo de incêndios mortíferos, ou da epidemia de branqueamento nos corais do Nordeste, ou das chuvas igualmente assassinas que castigaram Belo Horizonte em fevereiro de 2020 a.C (antes do coronavírus)? Vimos o desmonte ambiental avançar no Brasil a passos de estouro de boiada e o desmatamento subir. Ficamos 180% acima da meta estabelecida pela nossa lei nacional de clima para 2020.

Mas nem tudo foi desgraça para o clima. Os ventos da política começaram a mudar de direção e um consenso inédito em torno de uma recuperação da economia em bases sustentáveis parece (repetimos: parece) emergir nas maiores economias do mundo. Não é todo dia que a maior potência econômica da Terra elege um presidente cujo slogan de campanha é “reconstruir melhor”, diretamente inspirado nos green deals americano e europeu. Uma nova expressão entrou no léxico dos líderes políticos co mundo todo: net zero, ou emissão líquida zero. Mais de uma centena de países já sinalizaram que neutralizarão suas emissões de carbono até 2050.

Nada disso é suficiente para deter o aquecimento da Terra, que segue no rumo dos 3ºC ou mais neste século. Mas a sociedade parece ao menos ter concordado com a direção a tomar e com a gravidade da emergência climática. Quando os líderes mundiais sinalizam, o mercado segue. Esta ponta de esperança talvez seja o evento mais marcante para o clima e 2020, e é com ela que abrimos nossa retrospectiva. Boa leitura e feliz 2021, na medida do possível.

 

1 – Joe e Kamala

Joe Biden e Kamala Harris (Foto: Divulgação)

No combate à mudança climática tamanho é documento. Portanto, quando o maior emissor histórico de gases de efeito estufa elege um presidente comprometido com essa agenda, o resultado é uma onda global de otimismo que, ao menos em tese, pode se reverter em mais ambição.

No último dia 14, o democrata Joe Biden foi confirmado vencedor das eleições presidenciais nos Estados Unidos. Ele derrotou o sociopata Donald Trump tanto no voto popular quanto no colégio eleitoral (pela folgada margem de 306 a 232, 36 votos eleitorais a mais do que o necessário para se eleger e 74 a mais que o atual presidente).

Biden e sua vice Kamala Harris foram eleitos dias depois de os Estados Unidos saírem do Acordo de Paris, e sob a promessa de retornar ao tratado já no primeiro dia de governo, em 20 de janeiro. A chapa, cujo lema de campanha era a retomada verde da economia pós-covid (“build back better”, ou “reconstruir melhor”), também prometeu US$ 2 trilhões para o combate à crise do clima, uma das prioridades do novo governo.

Biden terá muito trabalho pela frente refazendo as regulações à poluição que Donald Trump derrubou, como o padrão mínimo de eficiência para veículos, revisando a meta climática (NDC) altamente insuficiente dos EUA e lidando com o poderoso lobby fóssil do país que se tornou o maior produtor de petróleo do mundo. Sua eleição, porém, ajuda a recolocar o acordo do clima nos eixos ao alinhar os três maiores emissores: EUA, China e União Europeia.

2 – Net zero, o novo normal

O secretário-geral da ONU, António Guterres, discursa na Cúpula da Ambição Climática (Foto: Reprodução UNTV)

É bom o leitor não ir se acostumando, mas o ano desgracento de 2020 termina com uma ponta de esperança no combate à crise do clima. Além do alívio planetário representado pela eleição americana, desde setembro uma chuva de anúncios vem delineando uma espécie de “novo normal” no combate às emissões: a chamada “neutralidade de carbono”, ou net zero, em 2050.
A ciência diz que será impossível refrear os piores efeitos do aquecimento global e mantê-lo em 1.5oC sem que o mundo zere emissões líquidas naquela data. Em 2050, todo o carbono o que a humanidade emite precisará ser capturado de alguma forma: ou por florestas, ou por solos, ou diretamente na chaminé das termelétricas e enterrado no subsolo. O Acordo de Paris faz uma menção oblíqua ao tema, mas limita-se a dizer “por volta do meio do século”.

Na cúpula realizada pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, durante a Assembleia Geral, em setembro, sessenta países se comprometeram com o net zero em 2050. O anúncio mais importante foi feito pelo ditador da China, Xi Jinping. O maior emissor do planeta se comprometia a zerar suas emissões líquidas “antes de 2060”.

Segundo o consórcio Climate Action Tracker, 127 países já indicaram ou se comprometeram com a neutralidade de carbono. Caso todos esses anúncios sejam de fato traduzidos em legislação e políticas, o mundo terá pela primeira vez na história uma perspectiva real de cumprir o Acordo de Paris, limitando o aquecimento a 2,1oC (ainda bem acima da meta do tratado, mas muito abaixo dos 2,9oC a que nos levariam as metas colocadas na mesa em 2015).

É claro, promessas para o meio do século são mais fáceis de fazer. O Climate Action Tracker e os cientistas esperam compromissos mais firmes dos países para 2030, porém. Só para lembrar, segundo o IPCC, o painel do clima da ONU, a humanidade precisa cortar 7,6% de suas emissões todos os anos até 2030 para termos chance de estabilizar o aquecimento da Terra em 1,5oC. Isso ainda não está em vista: no ano da pandemia, quando a economia global parou em uma das maiores recessões da história, a queda de emissões foi de 7%.

3 – “Vamos passar a boiada”

Ricardo Salles fala em aproveitar distração da imprensa para “passar a boiada”, durante reunião ministerial em 22/04/2020.
Foto: Reprodução de TV

No fim da tarde de 22 de maio, o Brasil assistiu estarrecido à divulgação de um vídeo que revelava o governo Bolsonaro sem máscara. Na fatídica reunião ministerial de 22 de abril, vimos o Presidente da República, entre palavrões, falar que trabalhava para transformar o Brasil num bangue-bangue e ameaçando demitir o ministro da Justiça se não pudesse trocar a chefia da PF para resguardar sua “hemorroida”. Vimos o ministro da Educação, sem nenhuma, chamar os juízes do STF de “vagabundos” que deveriam ser presos. Vimos a ministra dos (pois é) Direitos Humanos ameaçar governadores e prefeitos que ousassem tomar medidas para proteger a população do coronavírus.

Mas nenhum ministro traduziu tão bem o espírito do bolsonarismo quanto o do Meio Ambiente. Sem pudor ou rodeio, ele sugeriu que o governo aproveitasse a pandemia, que àquela altura havia matado mais de 2.000 pessoas, para desmontar o Estado brasileiro – e, claro, as proteções ambientais.

“Então pra isso precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só [se] fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De Iphan, de ministério da Agricultura, de ministério de Meio Ambiente, de ministério disso, de ministério daquilo. Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação, é de regulatório que nós precisamos, em todos os aspectos.”

O ministro também revelou a estratégia do governo de operar o desmonte de forma infralegal, ou seja, sem passar pelo Congresso – onde a barbárie tem sido mais ou menos refreada. Segundo ele, na base do “parecer, caneta”, usando para isso a Advocacia-Geral da União, para ficar “de stand-by para cada pau que tiver”.

Tão determinado está o ministro a colocar os pareceres da advocacia-geral a serviço da sua caneta que não hesitou em usá-la como sua banca particular de advocacia para perseguir críticos de sua gestão. Como revelou o Uol, ele lançou mão da AGU para interpelar na Justiça dois jornalistas, um cientista e o ambientalista Marcio Astrini, secretário-executivo do OC.

4 – NDC: Não Deu para Crescer a ambição

O Palácio Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores (Foto: Expedia)

Passava das 19h de 9 de dezembro quando o ministro do Meio Ambiente fez um anúncio curto e propositalmente confuso à imprensa: a NDC, como é chamada a meta do Brasil no Acordo de Paris, havia sido atualizada. O país ratificava a meta indicativa de reduzir suas emissões em 2030 em 43% em relação aos níveis de 2005. Também se comprometia a zerar suas emissões líquidas em 2060, podendo antecipar esse prazo caso recebesse a partir de 2021 US$ 10 bilhões por ano. Numa cena de manipulação explícita da mídia, o texto da NDC, que já estava disponível, só foi divulgado no dia seguinte, de forma a produzir manchetes positivas naquela mesma noite diante da impossibilidade de escrutínio – o que de fato ocorreu.

O objetivo da patranha era colocar Jair Bolsonaro entre os líderes mundiais que falariam na Cúpula de Ambição Climática, que ocorreria no dia 12 e na qual só teria assento quem anunciasse metas mais ousadas no acordo do clima. O governo vem tentando negar as aparências e disfarçar as evidências do desmonte ambiental de forma a garantir a assinatura do acordo UE-Mercosul, que está pendurado devido à devastação da Amazônia. Ter Bolsonaro na cúpula seria fundamental para a propaganda do governo, já que o Acordo de Paris é a maior preocupação dos europeus.

Só que o plano não funcionou. Assim que o texto da NDC foi disponibilizado, descobriu-se que a meta era de mentirinha. O tal compromisso de neutralização em 2060 não passava de um “objetivo indicativo”, do tipo “na volta a gente compra”. E a meta para 2030 na verdade era de aumentar as emissões em 400 milhões de toneladas de CO2: isso porque o Brasil atualizou o inventário de emissões no qual a NDC foi baseada, que aumentava em muito as emissões no ano-base de 2005. Sem ajuste no percentual, o Brasil se dava um passe livre para poluir mais e não menos. Mesmo que as emissões no ano-base sejam reajustadas depois de acordo com o quarto inventário (que já estava pronto quando a NDC foi apresentada, mas que Salles censurou porque a nova metodologia aumenta as emissões do agro), ainda emitiremos mais do que o 1,2 bilhão de toneladas sinalizado em 2015. Um retrocesso único até aqui entre as partes do Acordo de Paris.

O Itamaraty bem que tentou, mas Bolsonaro acabou, merecidamente, cortado do line-up da cúpula do dia 12.

5 – Emissões em queda (menos aqui)

Foto: Tam Wai/Unsplash

Pode parecer impossível imaginar que a pandemia trouxe algo de positivo para o mundo, mas em termos climáticos ela serviu como um pequeno alento. As restrições de circulação e demais medidas para conter a disseminação da Covid-19 levaram a uma queda sem precedentes nas emissões de CO2 em 2020. A mais recente análise do Global Carbon Project (GCP) indica que as missões globais de dióxido de carbono de combustíveis fósseis e da indústria devem cair 7% neste ano, com uma contribuição importante de grandes emissores, como Estados Unidos, que reduziu 12%, União Europeia (11%), Índia (9%) e China (1,7%).

A mesma previsão global foi feita pelo relatório Emissions Gap Report do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), que compara as reduções reais com as necessárias na luta contra o aquecimento global. De acordo com o documento, esta seria a maior redução anual já registrada desde que os levantamentos começaram a ser realizados sistematicamente, nos anos 1990. O relatório aponta, no entanto, que essa queda significa apenas uma redução de 0,01°C no aquecimento global até 2050 e que, se essa diminuição for apenas momentânea, o mundo seguirá no rumo de esquentar 3oC até 2100. Por isso é importante não só manter como também intensificar a redução nas emissões daqui para a frente.

O Brasil foi um caso à parte neste cenário. Depois de apresentar um aumento de quase 10% nas emissões em 2019, as emissões devem crescer também em 2020, devido ao desmatamento na Amazônia, mesmo que a pandemia tenha reduzido a emissão de CO2 da indústria e do transporte.

6 – Pantanal carbonizado

Foto: Iberê Périssé/Projeto Solos

Nos últimos meses, o Brasil e o mundo ficaram consternados com as imagens vindas do Pantanal, que retrataram a devastação causada por um aumento de 121% nas queimadas em comparação ao ano anterior. Segundo a UFRJ, nada menos do que 30% bioma queimou, inclusive duas terras indígenas, que perderam mais de 84% de sua área para o fogo. De acordo com o monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o bioma registrou, até o dia 14 de dezembro, 21.988 focos de incêndio. Esse é o maior número já registrado no Pantanal desde o início do monitoramento, em 1998. Até então, o ano com mais queimadas havia sido 2005, com 12.536. O resultado dessa tragédia foi um compilado de danos irreversíveis à fauna e flora, além de uma disputa de narrativas para responsabilizar os culpados.

O presidente Jair Bolsonaro, em discurso na Assembleia Geral da ONU, culpou indígenas, caboclos, imprensa e ONGs pelas queimadas tanto na Amazônia como no Pantanal. Já a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o chefe-geral da Embrapa Territorial, Evaristo de Miranda, tentaram ao longo do ano convencer a população que as queimadas estavam associadas à retirada de gado da região, já que o boi seria “um bombeiro do Pantanal”. As duas teses estapafúrdias foram desmentidas pelos dados. O cruzamento dos dados de fogo com a variação do rebanho nos municípios do Pantanal, feito pelo Fakebook.eco, não encontrou nenhuma correlação entre os dois fatores. No início de dezembro, um relatório apresentado pela comissão externa da Câmara dos Deputados que analisa as queimadas em biomas brasileiros relacionou o aumento das queimadas no Pantanal a “ações humanas criminosas” e “condutas estatais, no mínimo, ímprobas”. A Polícia Federal também abriu inquérito para investigar as causas dos incêndios no bioma e as análises iniciais indicaram que as queimadas começaram dentro de quatro fazendas e se espalharam, reforçando a suspeita de incêndio proposital.

7 – Fogo de norte a sul

Incêndio florestal na Sibéria em 2020 (Foto: Greenpeace Internacional)

Parece que faz tanto tempo que ninguém se lembra mais. Mas foi neste ano que os australianos passaram o réveillon na praia – não celebrando, mas se refugiando dos incêndios florestais que devastaram o país a partir de meados do ano passado e se estenderam até fevereiro deste ano. Na primavera-verão de 2019, o período mais quente e seco da história do continente, as temperaturas chegaram em dezembro a 41,9oC de média. Em novembro registrou-se o primeiro dia sem chuva em parte alguma do território australiano. Até março, 18,6 milhões de hectares (mais de cem vezes a cidade de São Paulo) haviam queimado e 34 pessoas perderam a vida. Os incêndios fizeram o Dicionário de Oxford incluir a palavra bushfire (“queimada”) entre as palavras do ano de 2020.

No extremo norte do planeta, na Sibéria, incêndios florestais de grandes proporções também ocorreram – inclusive acima do Círculo Polar Ártico, onde a vegetação da tundra incendiou, liberando centenas de milhões de toneladas de CO2 estocadas nos solos ricos em matéria orgânica da região.

O fogo no Ártico em 2019 e 2020 não tem precedentes nos registros históricos e indica que uma transformação do clima da região está em pleno curso, com primaveras e verões muito mais quentes e secos. Na Rússia, 18.591 incêndios haviam sido detectados até setembro e mais de 14 milhões de hectares foram queimados. Um cenário que só espanta quem não leu as avaliações do IPCC (o painel do clima da ONU), que desde os anos 1990 vem alertando que isso ocorreria num mundo aquecido.

8 – Fogo na Califórnia

San Francisco durante as queimadas (Foto: Reprodução de TV)

Sim, sabemos, isso não deveria mais ser notícia. Mas neste ano a Califórnia incendiou mais uma vez, numa assinatura inequívoca da crise do clima. O fogo deste ano não foi tão mortífero quanto Camp Fire de 2018, que matou 86 pessoas. Mas os aerossóis das queimadas pintaram o céu de laranja e chocaram San Francisco (e o mundo) na primeira quinzena de setembro.

9 – No top 3

Imagem de satélite do furacão Eta (Foto: Noaa)

O ano de 2020 se encaminha para entrar na história como um dos três mais quentes desde que os registros começaram a ser feitos, em 1850. E isso apesar de uma pandemia de coronavírus que derrubou a atividade econômica (e as emissões de carbono) e de um evento La Niña que, em tese, deveria ter resfriado o mundo. A estimativa é da Organização Meteorológica Mundial (OMM), que indica ainda que a década de 2011 a 2020 deve ser a mais quente registrada.

O relatório divulgado pela instituição no início de dezembro destacou alguns eventos de alto impacto que ocorreram durante o ano, incluindo calor extremo, temporada recorde de furacões no Atlântico (30 tempestades nomeadas), incêndios florestais inclusive no Ártico – que viu os termômetros baterem 38ºC na Sibéria acima do círculo polar – e inundações afetaram milhões de pessoas, levando ao deslocamento de populações em massa e prejudicando a segurança alimentar de muitas comunidades.

O Brasil teve destaque no relatório. A OMM lembra que 2020 começou com chuvas mortíferas em Belo Horizonte, que viu em 24 de janeiro a maior chuva de sua história: 172 milímetros. Também destacou a onda de calor em setembro e outubro, que provocou o recorde de temperatura em Nova Maringá (MT) de 44,6oC e recordes históricos de temperatura em Cuiabá, Curitiba e Belo Horizonte. E isso sem falar na epidemia de branqueamento maciço que atingiu os corais do Nordeste, causada por uma onda de calor marinha sem precedentes.

10 – Desmate e desmonte na Amazônia

O vice-presidente Hamilton Mourão (Romério Cunha/VPR)

A taxa oficial de desmatamento da Amazônia em 2020 foi de foi de 11.088 km², um aumento de 9,5% em relação ao ano anterior, que já havia registrado uma assustadora alta de 34%. Isso fez com que a maior floresta tropical do mundo registrasse a taxa mais alta taxa desde 2008. O número é 70% maior que a média da década anterior (6.500 km² por ano) e também 2,8 vezes superior à meta fixada pela Política Nacional de Mudança do Clima para 2020, de 3.925 km², prevista na lei 12.187 de 2009. Em relação aos focos de incêndio, o cenário foi igualmente devastador. Até 14 de dezembro, o Inpe registrou um aumento de 15% em relação às grandes queimadas de 2019.

Esse aumento da destruição florestal ocorre mesmo após seis meses de presença das Forças Armadas na Amazônia, sob a batuta do vice-presidente, Hamilton Mourão (PRTB). Recrutando mais de 3.400 militares, a Operação Verde Brasil 2, que iniciou em maio deste ano, falhou em conter qualquer tipo de dano ao bioma. De acordo com levantamento do Fakebook.eco, o aumento do desmatamento coincidiu também com uma queda de 42% das multas por infrações contra a flora. Desde maio, quando todas as ações do Ibama ficaram submetidas às forças armadas, os fiscais do órgão aplicaram 1.964 autos de infração nos nove estados da Amazônia Legal. É o nível mais baixo já registrado no combate ao desmatamento.

Em uma tentativa de responder à pressão internacional frente ao cenário ambiental do país, o vice-presidente enviou ao Ministério da Fazenda, no início de novembro, um pacote de documentos da reunião do Conselho Nacional da Amazônia Legal, o “Plano Mourão”. No documento, que delineia um plano para ampliar o controle militar na Amazônia, o Inpe é citado nenhuma vez; o Ibama e o ICMBio, os principais órgãos federais de meio ambiente, são citados apenas num item que fala sobre sua “reestruturação” e “revisão doutrinária”. O Ministério da Defesa aparece 22 vezes. Além disso, não há nenhuma menção nas 62 páginas do documento ao PPCDAm, o Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia, que foi determinante para a redução em 83% das taxas de desmatamento na Amazônia entre 2004 e 2012.

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