DO OC – A Coalizão Palestina na COP30 realizou manifestação ontem (11/11) na entrada da Blue Zone, onde acontecem as negociações da conferência, em Belém. Os manifestantes denunciaram o genocídio cometido por Israel na Faixa de Gaza, pediram embargo global de energia e o veto à participação do país nas negociações da COP. O protesto lembrou ainda a destruição ambiental e de infraestrutura de energia renovável e as altas emissões decorrentes da agressão ao enclave palestino.

Um estudo publicado neste ano mostrou que, de outubro de 2023 a janeiro de 2025, as agressões militares em Gaza emitiram 1,89 milhão de toneladas de CO2 equivalente (CO2e), sendo 99% dessa poluição climática atribuída aos bombardeios aéreos e invasões terrestres israelenses ao enclave. 

Segundo o levantamento, a pegada de carbono de longo prazo desses 15 meses de agressão militar, considerando a destruição de infraestrutura, limpeza e reconstrução de Gaza, ultrapassaria as 31 milhões de toneladas de CO2e emitidas – mais do que Costa Rica e Estônia emitiram juntas em 2023 . 

“O céu de Gaza foi transformado em arma. Milhões de toneladas de CO2 foram emitidas durante o genocídio”, disse a ativista Rana Harrara, da organização Swana Climate Sirens, no protesto da última terça-feira em Belém. “97% da água está contaminada e paineis solares têm sido sistematicamente destruídos”, completou.

A publicação mostrou ainda que o uso de geradores movidos a diesel em Gaza despejou cerca de 130 mil toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera, aproximadamente 7% do total de emissões decorrentes do conflito. 

“Painéis solares geravam cerca de um quarto da eletricidade de Gaza, um dos percentuais mais altos do mundo, mas a maioria dos painéis e a única usina elétrica do território foram danificados ou destruídos. Agora, o limitado acesso de Gaza à eletricidade depende majoritariamente dos geradores a diesel”, dizem os pesquisadores no artigo. 

“Não há justiça climática sem a libertação da Palestina”, disse Jamal Juma, ativista palestino do movimento BDS (Boicote, Desinvestimentos e Sanções) ao Observatório do Clima. 

“A destruição que está acontecendo no nosso meio ambiente, as milhares de toneladas de bombas lançadas, a poluição de nossa terra e de nossa água é responsabilidade internacional. Estamos falando de um mesmo sistema colonial, de apropriação de recursos naturais, destruição da terra que pertence aos povos, contaminação da água e da produção agrícola. Isso é feito não apenas por Israel, mas por um conjunto de corporações que lucram com isso, na Palestina, na Amazônia, no Brasil e em muitos outros lugares”, afirmou Juma.

Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) publicado em setembro confirmou a “limitação severa” do acesso a água doce em Gaza e poluição do que sobra do recurso. A contaminação da água no território já era severa antes de 2023 – em 2019, uma pesquisa do Palestinian Central Bureau of Statistics revelou que 97% da água obtida do aquífero costeiro de Gaza não atingia os parâmetros de qualidade da Organização Mundial da Saúde.

O documento do Pnuma apontou ainda que o colapso nos sistemas de tratamento de esgoto e os danos à infraestrutura de saneamento básico aumentaram significativamente a contaminação do aquífero que abastece a maior parte do território. 

“Grande parte da vegetação de Gaza foi destruída. Desde 2023, o enclave perdeu 97% de suas árvores frutíferas, 95% de seus arbustos e 82% de suas culturas anuais. A produção de alimentos em larga escala não é possível. Isso ocorre enquanto mais de 500 mil pessoas em Gaza enfrentam a fome, com cerca de 1 milhão em situação de emergência alimentar”, adiciona o levantamento, que destaca ainda os impactos da perda e degradação da vegetação na qualidade do solo, que perdeu grande parte de sua capacidade de absorver água. “Isso aumenta os riscos de enchente e reduz o reabastecimento de água subterrânea”.

Para Jamal Juma, a participação de Israel nas negociações mesmo após a comissão independente da ONU ter confirmado sua responsabilidade no crime de genocídio em Gaza é inaceitável. “A Coalizão Palestina na COP30 veio para Belém com demandas muito claras. A primeira e mais importante é que Israel seja excluído das negociações aqui e dos fóruns da ONU. É preciso também banir a participação de todas as empresas cúmplices do genocídio na conferência. Elas também são cúmplices da destruição do meio ambiente, da terra e da água na Palestina”, afirmou.

A Coalizão propõe ainda um “embargo energético global pela Palestina”, com o fim do fornecimento de combustíveis fósseis,  uma ação global de boicote a empresas como a estatal israelense Mekorot (responsável pela distribuição e restrição do acesso à água na Palestina) e as também israelenses Netafim, ICL e Adama, do setor do agronegócio, que atuam no Brasil e são alvo dos manifestantes por sua ação em territórios ocupados ilegalmente na Palestina.