DO OC – A transformação dos sistemas de energia, alimentos, materiais e resíduos, acompanhada de uma mudança estrutural na economia, pode gerar benefícios econômicos globais de US$ 20 trilhões anuais até 2070, que continuariam a crescer depois disso. Se mantidas as atuais políticas, no entanto, apenas as mudanças climáticas causarão uma queda de 20% no Produto Interno Bruto (PIB) global anual até o final deste século. 

As conclusões estão na sétima edição do Global Environment Outlook Report (GEO-7), lançado nesta terça-feira (9/12) pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) na sétima sessão da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente, em Nairóbi, Quênia. Segundo o órgão, a avaliação é a mais abrangente já realizada sobre o estado do meio ambiente global, elaborada por 287 cientistas de 82 países.

O levantamento multidisciplinar listou as consequências de manter o atual modelo de desenvolvimento, baseado em energia de fontes fósseis, exploração predatória do meio ambiente e consumo exacerbado. 

Os cientistas lembram que as emissões de gases de efeito estufa bateram novo recorde em 2024, quando deveriam estar caindo radicalmente. Em relatório lançado no mês passado, o Pnuma afirmou pela primeira vez que  a ultrapassagem do limite de temperatura de 1,5ºC, fixado pelo Acordo de Paris, não pode mais ser evitada. Viveremos nos próximos anos o chamado cenário de overshoot, até que cortes de emissões reduzam (se tudo for feito corretamente) as temperaturas novamente a limites próximos à meta de Paris. 

No  levantamento publicado hoje, o órgão destaca que os custos de eventos climáticos extremos  causados pela mudança do clima nos últimos 20 anos é estimado em US$ 143 bilhões por ano. E projeta que, mantidas as políticas atuais, haverá queda de 4% no PIB global anual de até 2050, que chegarão a 20% até o final deste século, por conta da mudança do clima. 

A estimativa inclui apenas impactos adversos na agricultura, danos por inundações, ondas de calor e perdas de produtividade. “Os impactos na saúde, as perdas de biodiversidade relacionadas ao clima e os pontos de não retorno (tipping points) não estão incluídos, o que significa que o dano real ao PIB seria ainda maior”, ressaltam os cientistas.

A análise estimou ainda que entre 20% e 40% da área terrestre mundial está degradada, o que afeta mais de três bilhões de pessoas. Se nada for feito, a degradação das terras continuará a avançar no ritmo atual, em que o planeta perde todos os anos uma área de terras férteis e produtivas equivalente ao tamanho da Colômbia ou da Etiópia. E isso “justamente no momento em que as mudanças climáticas podem reduzir a disponibilidade de alimentos por pessoa em 3,4% até 2050”, adiciona o relatório.

Do total estimado de oito milhões de espécies de animais no planeta, um milhão está ameaçado de extinção. Isso significa que 12,5% de toda a fauna planetária pode desaparecer se o modelo de desenvolvimento atual não mudar. 

A análise aponta ainda que anualmente nove milhões de pessoas morrem em decorrência da poluição, e lembrou que o  custo econômico dos danos à saúde causados apenas pela poluição do ar foi de cerca de US$ 8,1 trilhões em 2019, representando cerca de 6,1% do PIB global.

Junto a isso, manter o atual estado de coisas significa que as 8 bilhões de toneladas de resíduos plásticos que hoje se acumulam no planeta continuarão a aumentar, o que elevará  as perdas econômicas relacionadas à saúde. Hoje, o montante estimado é de US$ 1,5 trilhão por ano em perdas causadas por exposição a substâncias químicas tóxicas de plásticos.

Transformação

Para enfrentar o colapso, o Pnuma propõe trajetórias de transformação em cinco áreas-chave: economia e finanças; materiais e resíduos; energia; sistemas alimentares; meio ambiente. Para o setor de energia, o caminho é conhecido: descarbonizar as fontes, aumentar a eficiência energética com atenção à sustentabilidade social e ambiental na extração de minerais críticos e enfrentar a pobreza energética. 

Quanto ao meio ambiente, o órgão aponta a necessidade de acelerar a conservação e a restauração da biodiversidade e dos ecossistemas, apoiar a adaptação climática e a resiliência baseadas em soluções baseadas na natureza e implementar estratégias de mitigação climática.

Tudo isso não acontecerá sem uma mudança no modelo de produção e consumo atuais. Por isso, o Pnuma propõe que, no campo da economia, se adotem métricas de riqueza inclusiva que possam ir além do PIB. Entre as medidas práticas imediatas, está a eliminação e redirecionamento de subsídios, impostos e incentivos que resultam em impactos negativos sobre a natureza – como aos combustíveis fósseis.

“O Global Environment Outlook apresenta uma escolha simples para a humanidade: continuar pelo caminho que leva a um futuro devastado pelas mudanças climáticas, pela diminuição da natureza, pela degradação das terras e pelo ar poluído, ou mudar de direção para garantir um planeta saudável, pessoas saudáveis e economias saudáveis. Na verdade, não é sequer uma escolha”, disse Inger Andersen, Diretora-Executiva do Pnuma.