Acesso precário à água é ameaça na Índia. (Foto: India Meteorological Department and Ministry of Rural Development)

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Abril de temperaturas recordes na Ásia

Onda de calor forçou fechamento de escolas e afetou atividades econômicas em ao menos seis países. Na Índia, calor extremo é obstáculo ao desenvolvimento, mostra estudo

28.04.2023 - Atualizado 11.03.2024 às 08:31 |

DO OC – “Uma onda de calor monstruosa”, de acordo com os cientistas climáticos Peter Carter, diretor do Climate Emergency Institute e membro do IPCC (o painel do clima da ONU), e Maximiliano Herrera, pesquisador especializado em estatísticas climáticas. As temperaturas recordes que atingiram o continente asiático neste mês de abril causaram mortes, forçaram o fechamento de escolas e afetaram atividades econômicas, como a agricultura e a construção civil, em ao menos seis países. 

Índia, China, Bangladesh, Laos, Vietnã e Tailândia foram os mais fortemente afetados pelas temperaturas extremas, que seguiram aumentando até a semana passada. Além desses países, Myanmar, Cambodja e Nepal também foram atingidos. 

Na Índia, a onda de calor matou ao menos 13 pessoas que participavam de um evento ao ar livre, na cidade de Navi Mumbai, no último dia 16/4. Um policial da cidade declarou sob sigilo à CNN que entre 50 e 60 pessoas foram hospitalizadas em Navi Mumbai na ocasião. O número de atingidos, no entanto, pode ser muito maior, já que o evento contou com a participação de cerca de 1 milhão de pessoas vindas de diferentes regiões. Acredita-se que muitas delas podem ter buscado atendimento em suas cidades. 

Na terça-feira da semana passada (18/4), o Departamento Meteorológico da Índia colocou parte do país em alerta para ondas de calor intensas, com destaque para áreas com preponderância de atividade agrícola e trabalhos que exigem permanência ao ar livre. Escolas foram fechadas por riscos à saúde em diversos estados. 

Na China, que em setembro do ano passado enfrentou sua mais longa onda de calor desde o início dos registros, em 1961, novas temperaturas recordes foram atingidas. As regiões de Hangzhou e Nanjing, ao leste do país, e Chengdu, no sudoeste, foram inicialmente as mais afetadas. No último sábado, quatro províncias registraram temperaturas acima dos 39ºC. No dia seguinte, a província de Luodian, no sul do país, viu os termômetros marcarem 40,1ºC, o dia mais quente para o mês de abril registrado na região desde 1958. Os dados foram sistematizados pelo climatologista Maximiliano Herrera. 

A capital do Laos, Vientiane, marcou 41,4ºC no último sábado, a temperatura mais alta de sua história. No mesmo sábado, Dhaka, capital de Bangladesh, teve seu dia mais quente em 58 anos, com temperaturas acima de 40ºC que fizeram estradas derreterem

Na Tailândia, que registrou temperaturas acima de 45ºC (em 15/4, os termômetros chegaram a 45,4ºC em Tak, noroeste do país), foi declarado alto risco para insolação e a população de várias regiões foi alertada a permanecer em ambientes fechados. Segundo as autoridades, há temor de que o calor se prolongue para além dos meses de alto verão, que começa em março no país, ocasionando secas e prejudicando colheitas. 

Índia: emergência climática pode barrar metas do desenvolvimento sustentável 

Enquanto os termômetros não paravam de subir na Ásia, um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Cambridge e publicado em 19/4 no periódico PLOS Climate mostrou que as ondas de calor agravadas pelas mudanças climáticas tornaram quase 90% da população indiana mais vulnerável a problemas de saúde pública, contaminações e escassez de alimentos, aumentando o risco de morte. 

O estudo “Ondas de calor mortais estão ameaçando o desenvolvimento sustentável na Índia” (em tradução livre do inglês) apontou, ainda, que o indicador utilizado pelo governo do país (Climate Vulnerability Indicator) para medir a vulnerabilidade climática e elaborar políticas de adaptação não considera o risco físico provocado por ondas de calor, o que seria um fator-chave para analisar o real impacto da emergência climática para a população. 

A pesquisa incluiu em sua análise um “índice de calor”, mensurando as respostas do corpo humano ao aumento vertiginoso de temperatura e umidade, e sugere que o índice atualmente utilizado para a elaboração de políticas públicas na Índia subestima os principais riscos e ameaças causadas por ondas de calor. 

Segundo o time de pesquisadores, liderado por Ramit Debnath, as ondas de calor que se agravam na Índia por causa das mudanças climáticas podem impedir que o país atinja os objetivos do desenvolvimento sustentável pactuados pela ONU. O país se comprometeu com as 17 metas estabelecidas, incluindo a erradicação da pobreza, saúde e bem-estar e a fome zero e agricultura sustentável. 

Como sugestões, a pesquisa apresenta a necessidade de ação politica para melhorar a medição da vulnerabilidade climática; elaborar ações de prevenção ao superaquecimento em habitações da população de baixa renda; o estabelecimento de parcerias com países vizinhos para adaptação às ondas de calor; e a necessidade de aprendizado a partir das experiências de outros países para combater ondas de calor, como a Austrália, o Reino Unido, os Estados Unidos e a União Europeia. “Se o impacto [das ondas de calor] não for enfrentado imediatamente, a Índia pode retardar seu progresso em direção aos objetivos do desenvolvimento sustentável”, reforçam os autores. (LEILA SALIM)[:]

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