Thelma Krug, em foto de 2009 (Foto: IISD)

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Diretora é demitida e ‘desdemitida’ do Ministério do Meio Ambiente

Thelma Krug, vice-presidente do IPCC, cuida de combate ao desmatamento e soube de sua exoneração por colegas; ministério diz que foi “mal-entendido administrativo” e anulou ato

06.07.2016 - Atualizado 11.03.2024 às 08:27 |

CLAUDIO ANGELO
DO OC

A matemática paulista Thelma Krug foi demitida e “desdemitida” da diretoria que ocupa no Ministério do Meio Ambiente em menos de 12 horas nesta quarta-feira. O caso é um recorde até mesmo para o governo Temer, no qual, no sentido inverso, três ministros caíram em média 20 horas após serem alvo de denúncias no Petrolão.

Krug é diretora de Políticas de Combate ao Desmatamento do MMA, pesquisadora licenciada do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e vice-presidente do IPCC, o painel do clima da ONU. É uma das responsáveis pela criação do Prodes, o sistema de monitoramento da taxa anual de desmatamento na Amazônia.

Ela foi surpreendida às 7h da manhã ao saber, por colegas do Inpe, que sua exoneração estava publicada no Diário Oficial da União. Krug fora nomeada havia menos de seis meses pela então ministra Izabella Teixeira. O ato de demissão foi assinado pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Em seu lugar havia sido nomeado – literalmente – um Zé da Silva: José da Silva Gasparinho Neto, conterrâneo do ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho (PV-MA). Ele não pôde ser localizado pelo OC nesta quinta-feira. O nomeado não tem experiência na área ambiental – havia sido coordenador financeiro da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) no Maranhão.

Há uma distribuição de cargos acontecendo no governo federal, na esteira do impeachment de Dilma Rousseff. O presidente interino, como sua antecessora, tem usado a máquina pública para acomodar aliados do Congresso e apaniguados políticos diversos. Nessa divisão, cargos altos, como as diretorias de ministérios (chamados DAS 5 no jargão da administração pública), são disputados por políticos. Importa menos o grau de conhecimento do indicado do que a influência de quem indica.

A saída de Thelma Krug gerou confusão no ministério: os servidores da diretoria cruzaram os braços. O OC manifestou preocupação com a exoneração, já que a cientista toca uma série de agendas importantes, como o monitoramento ambiental dos biomas e a estratégia nacional de REDD+.

No meio da tarde, a pesquisadora recebeu do secretário-executivo do MMA, Marcelo Cruz, a notícia de que seu ato de exoneração estava sendo cancelado. A readmissão deverá ser publicada nesta quinta-feira no Diário Oficial.

No final da tarde, o Ministério do Meio Ambiente soltou uma nota atribuindo a exoneração de Krug a um “mal-entendido de cunho administrativo”.

Segundo a nota, “o ministro Sarney Filho considera a colaboração da senhora Thelma Krug muito importante para este ministério, e, por isso mesmo, foi uma das primeiras pessoas da gestão anterior que convidou a permanecer no cargo”.

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