Tyrannosaurus rex, que vivia num mundo muito mais quente que o atual (Imagem: Elena Duvernay/Stocktrek Images/Corbis)

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Emissão de carbono é a maior desde era dos dinossauros, diz estudo

Velocidade do efeito estufa é dez vezes superior à de fenômeno natural ocorrido há 56 milhões de anos que aqueceu o planeta em 5 graus, sugere estudo; para autores, estamos em "era sem análogos"

21.03.2016 - Atualizado 11.03.2024 às 08:27 |

DO OC

Bom trabalho, humanidade: um novo estudo acaba de indicar que a atual taxa de emissão de gases de efeito estufa é a maior da história do planeta nos últimos 66 milhões de anos. Ou seja, para encontrar algum momento no passado do planeta em que houve tanto carbono lançado no ar, seria preciso recuar até a era em que os tiranossauros caminhavam sobre a Terra.

O estudo, publicado nesta segunda-feira, afirma que a velocidade de emissão de carbono em 2014 é pelo menos dez vezes maior do que a de um pico natural de aquecimento global ocorrido há 56 milhões de anos – e que fez as temperaturas médias subirem 5oC no mundo todo.

Até agora, os cientistas achavam que esse fenômeno, conhecido como PETM (sigla em inglês para “máximo termal do Paleoceno-Eoceno”) fosse a coisa mais parecida com o efeito estufa provocado pela humanidade nos últimos 200 anos, pela quantidade gases-estufa lançados no ar – algo entre 2 trilhões e 4,5 trilhões de toneladas de carbono, mais ou menos o equivalente às nossas reservas restantes de combustíveis fósseis.

O novo estudo, liderado por Richard Zeebe, da Universidade do Havaí em Manoa, concluiu que não é o caso: as taxas de emissão durante o PETM foram muito mais modestas: algo entre 0,6 bilhão e 1 bilhão de toneladas de carbono (o equivalente a 2,1 bilhões a 3,6 bilhões de toneladas de CO2) por ano, contra 10 bilhões de toneladas de carbono (36 bilhões de toneladas de CO2) emitidas apenas pela queima de combustíveis fósseis em 2014.

“Entramos efetivamente numa era sem análogos”, escreveram Zeebe e colegas no artigo científico descrevendo seus resultados, publicado no site do periódico Nature Geoscience. Segundo os cientistas, a velocidade das emissões hoje poderá significar “amplas extinções de espécies no futuro”, em especial nos oceanos.

Os cientistas já sabiam que o pulso de carbono do PETM havia sido grande, disparado talvez por mudanças no leito oceânico que liberaram grandes quantidades de metano, um poderoso gás de efeito estufa. Até agora, no entanto, ninguém conseguia calcular direito as taxas anuais de emissão e a duração precisa do evento. Isso porque os registros geológicos usados para esse tipo de datação são “míopes”: trata-se de colunas de sedimentos depositados no fundo do mar muito lentamente, que não permitem estimar a variação anual do carbono.

Zeebe e colegas resolveram o problema analisando uma coluna de sedimentos extraída há muito tempo do fundo do mar em Nova Jersey, nos EUA. Eles reanalisaram quimicamente os sedimentos, prestando atenção em dois indicadores: a proporção de oxigênio pesado (18O, um indicador de temperatura) e a de carbono pesado (13C, um indicador de gases-estufa).

Caso o pulso de metano do PETM tivesse sido cataclísmico, os sedimentos mostrariam primeiro uma enorme variação no teor de carbono das amostras e, depois, um aumento de temperatura. Mas o sedimento de Nova Jersey mostrava a temperatura subindo em sincronia com a liberação de carbono, o que denota uma taxa de emissão mais lenta – calculada em até 1 bilhão de toneladas de carbono por ano ao longo de 4 milênios.

No PETM, o pulso de carbono causou enormes mudanças ecológicas, com extinção extinção em massa de microrganismos do fundo do mar e sua substituição por outras espécies. Segundo o estudo, porém, essas mudanças foram lentas o suficiente para permitir que a maior parte dos ecossistemas se adaptasse.

Não deverá ser o caso com emissões anuais que ocorrem dez vezes mais rápido, nas quais as espécies marinhas sofrerão com o aumento de temperatura e com a acidificação do oceano. “[É] possível que as taxas atuais de mudança excedam a capacidade de adaptação dos ecossistemas marinhos e de seus constituintes”, escreveu em comentário na mesma edição da Nature Geoscience o geólogo Peter Stassen, da Universidade Católica de Leuven, na Bélgica.

O alerta veio no mesmo dia em que a OMM (Organização Meteorológica Mundial) divulgou seu balanço Estado do Clima Global em 2015, confirmando que o ano passado – o mais quente da história – foi de fato excepcional, com recordes quebrados de seca, calor, chuvas intensas, ciclones e redução de gelo marinho.

“O futuro está acontecendo agora”, sintetizou o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas. “Hoje, a Terra já está 1°C mais quente do que no início do século XX.  Ou seja, estamos na metade do limite crítico de 2°C.  E os planos nacionais sobre alterações climáticas adotados até agora podem não ser suficientes para evitar um aumento de temperatura da ordem de 3°C.  Mas podemos evitar os piores cenários com medidas urgentes e de longo alcance para reduzir as emissões de dióxido de carbono”, prosseguiu Taalas. Os autores do novo estudo são menos otimistas: para eles, rápidas reduções nas emissões antropogênicas de gases-estufa são “cada vez menos prováveis no futuro próximo”.

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