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Análise: Corte das emissões nos EUA é bom, mas pouco para conter aquecimento

A notícia mais aguardada das últimas semanas na agenda de clima global chegou nesta segunda-feira, 2 - os Estados Unidos deverão conter suas emissões de gases de efeito estufa em 30% em relação aos índices de 2005

07.01.2015 - Atualizado 11.03.2024 às 08:25 |

02/06/2014 – Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima

A notícia mais aguardada das últimas semanas na agenda de clima global chegou nesta segunda-feira, 2 – os Estados Unidos deverão conter suas emissões de gases de efeito estufa em 30% em relação aos índices de 2005, com base na regulação e no controle de emissões de gases de suas usinas termelétricas.

Essa é, sem dúvida, uma notícia positiva. O presidente Barack Obama começa a tratar como prioridade a agenda de mitigação das mudanças climáticas, algo que prometia desde 2009, começando pelo setor que é o maior emissor de gases, o de energia (38% das emissões daquele país).

E a mensagem vinda de Washington pode trazer um novo vigor para as negociações da Convenção sobre Mudanças Climáticas da ONU para um novo acordo para o período pós-2020. Os Estados Unidos e sua inação sempre foram a desculpa mais fácil para que outros fizessem pouco ou não fizessem nada para o avanço das negociações. Agora ficará mais difícil se escorar em um país que começa a caminhar.

No entanto, a boa notícia precisa ser analisada com cuidado.

O anúncio desta segunda é ainda uma proposta da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), colocada em consulta, e cujo formato será conhecido nos próximos meses. A oposição republicana já analisa alternativas possíveis para questionar judicialmente as medidas a serem aprovadas.

O sucesso dessa proposta depende de regulamentação da mesma no âmbito dos estados americanos, que têm até 2016 para decicir como se ajustarão às novas regras. Tal ajuste inclui a possibilidade de substituição de carvão por gás natural, hoje extraído de folhelho e muito criticado pelas emissões associadas de metano e contaminação de solos e águas.

E, mais importante, o passo anunciado nesta segunda é muito pequeno em relação ao nível de ambição mínimo necessário para que os Estados Unidos façam o que se espera para ajudar a limitar o aquecimento global a 2ºC. Com os 30% de redução de emiss]oes em relação a 2005 com base nas medidas anunciadas, os Estados Unidos ainda emitiriam mais de 5 bilhões de toneladas de gases anualmente, o que seria péssimo para o clima do planeta.

Assim, a boa notícia, tomada como cautela, vem junto com muita expectativa. Que esse seja apenas o primeiro movimento dos Estados Unidos para ajudar a enfrentar de fato o desafio global das mudanças climáticas.

Texto originalmente publicado no portal Estadão.

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