Vazamento de metano no Mar Báltico (Foto: Danish Defense)

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Desastre provoca emissão recorde de metano no Mar Báltico

Gás emitido em quatro dias já equivale ao despejo de um ano em país do tamanho da Dinamarca. Vazamento acende alerta para impacto climático e vulnerabilidade dos gasodutos a ataques

04.10.2022 - Atualizado 11.03.2024 às 08:30 |

DO OC – Ainda não se sabe o que provocou os vazamentos ocorridos nos gasodutos russos Nord Stream 1 e 2 na semana passada, mas tanto autoridades europeias quanto a Rússia, além da Otan, mencionam sabotagem de estruturas. Os gasodutos, construídos para transportar gás da Rússia à Europa pelo Mar Báltico, estão no centro de uma crise internacional desde pouco antes da invasão da Ucrânia, em fevereiro. As preocupações com a imensa nuvem de metano que se formou sobre o oceano e avançou em direção à Europa Ocidental se multiplicam: o metano é o segundo gás de efeito estufa mais importante: cada molécula de CH4 esquenta o planeta cerca de 28 vezes mais do que uma molécula de dióxido de carbono.

Além do impacto climático específico do desastre no Mar Báltico, preocupa o possível uso de reservatórios de gás como armas em conflitos internacionais, além da vulnerabilidade dessas estruturas a ataques desse tipo. Mesmo que o ciclo do metano seja mais “rápido” — o gás emitido na atmosfera se decompõe em cerca de 12 anos, enquanto o CO2 leva 120 anos —, a sua alta capacidade de absorção de calor faz com que o gás seja um dos maiores vilões do aquecimento global.

Controlar as emissões de metano é uma necessidade imediata para garantir a meta de 1,5º do Acordo de Paris — o que, aparentemente, exigirá além de iniciativas como o Compromisso Global do Metano, mais atenção a possíveis ações de sabotagem, ataques e controle da vulnerabilidade os gasodutos, em um cenário internacional turbulento como o atual.

Segundo declarou à agência Reuters Manfredi Caltagirone, coordenador do Observatório Internacional de Emissões de Metano (IMEO, na sigla em inglês), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, este foi “muito provavelmente o maior evento de emissões de metano já registrado”. “Isso não nos ajuda em um momento em que definitivamente precisamos reduzir as emissões”, afirmou.

Na última quinta (29), o IMEO divulgou análises de imagens obtidas por satélite que confirmaram o impacto do vazamento dos gasodutos e a grande nuvem de metano no Mar Báltico.  Os dados obtidos indicaram que, entre segunda (26) e quinta-feira, o raio visível da bolha de gás diminuiu de aproximadamente 700 metros para 520 metros. Na sexta (30), o tamanho era de 290 metros. No entanto, os cientistas que conduziram a análise estimaram que a quantidade de metano emitido no Mar Báltico seja “substancialmente maior” do que as emissões resultantes dos vazamentos ocorridos no México há algumas semanas.

Segundo o Sistema Integrado de Observação do Carbono (Icos, na sigla em inglês), uma rede de cientistas, o desastre  da semana passada no Mar Báltico emitiu tanto metano quanto um país do tamanho da Dinamarca ou uma cidade do tamanho de Paris despejam em um ano na atmosfera. O instituto, que possui estações de observação na Suécia, Noruega e Finlândia, afirmou que as análises em solo são mais acuradas do que as por satélite, que podem subestimar a gravidade das emissões em função do tempo nublado. Em um vídeo, o Icos simula o movimento do metano pela atmosfera (aqui).

Especialistas em política climática divulgaram em redes de pesquisadores preocupações quanto à vulnerabilidade de gasodutos e os riscos envolvidos no atual cenário internacional. Um cientista classificou o caso no Mar Báltico de “supercrime ambiental”. Segundo ele, os vazamentos mostram a alta vulnerabilidade dos gasodutos a ataques e, ao mesmo tempo, o enorme impacto climático de casos desse tipo, mesmo em estruturas consideradas “seguras”, como os gasodutos europeus.

O Nord Stream é central para o abastecimento de países europeus, que dependem do gás russo para se aquecer no inverno. A dependência do regime de Vladimir Putin só aumentou na última década – as importações russas representavam 27% do uso de gás na Europa em 2013, e chegaram a 38% em 2021. Dois dias antes da invasão da Ucrânia, a Alemanha suspendeu a aprovação do gasoduto Nord Stream 2, em reação ao reconhecimento, pela Rússia, das autoproclamadas repúblicas de Luhansk e Donetsk, no leste ucraniano.

O gasoduto russo de US$ 11 bilhões e 1.200 km foi construído para transportar gás do oeste da Sibéria para o nordeste da Alemanha, dobrando a capacidade do Nord Stream 1. Estava pronto, faltando só uma certificação do governo alemão para o início das atividades. Em março, a empresa responsável pela obra estava à beira da falência: ela encerrou os contratos com seus funcionários após os “desdobramentos geopolíticos que levaram à imposição de sanções”.

Só na Alemanha, metade das residências é aquecida com gás, e a parcela do gás natural russo no consumo do país aumentou de 40% para 55% desde 2012. Essa dependência é ainda maior em países como Áustria e Hungria (60%), Polônia (80%) e Bulgária (100%) (LEILA SALIM)

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