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s biocombustíveis são fontes de energia de combustão obtidas a partir do processamento de insumos vegetais, produzidos em geral pela agricultura de larga escala, como da cana-de-açúcar, da soja e do milho.

07.01.2015 - Atualizado 11.03.2024 às 08:26 |

Os biocombustíveis são fontes de energia de combustão obtidas a partir do processamento de insumos vegetais, produzidos em geral pela agricultura de larga escala, como da cana-de-açúcar, da soja e do milho. O potencial de baixa emissão de poluentes dos biocombustíveis tem atraído grande interesse da comunidade internacional , uma vez que possibilitam a substituição dos combustíveis fósseis, reduzindo a quantidade de gases de efeito estufa emitida para a atmosfera, o que representa mitigação do aquecimento global e uma alternativa para que países desenvolvidos alcancem suas metas de redução junto ao Protocolo de Quioto.

Mas o fato dos biocombustíveis serem produzidos de matrizes vegetais não significa que são automaticamente sustentáveis. Daí alguns autores preferirem o termo agrocombustíveis.

Existem hoje dois tipos principais de biocombustíveis: aquele obtido a partir de óleo vegetal de espécies como a soja, o milho, a mamona e o dendê, que leva o nome de biodiesel; e aquele obtido a partir do álcool, o etanol, que tem como principal matriz a cana-de-açúcar.

Algumas diferenças importantes para o entendimento da discussão sobre os biocombustíveis surgem da comparação desses dois produtos.  A primeira é que o rendimento do óleo vegetal para a produção de combustível é bastante inferior ao rendimento da cana-de-açúcar para a produção do etanol, o que significa que é necessária uma quantidade bem maior de insumos no primeiro caso em comparação com o segundo.

Outra questão é que as matrizes vegetais do biodiesel também são importantes gêneros agrícolas para a alimentação, enquanto a cana-de-açúcar não é utilizada diretamente como comida.  Finalmente vale destacar que as emissões geradas pela combustão de biodiesel são superiores às emissões da combustão de uma mesma quantidade de etanol, considerando-se apenas as matrizes e não o processo produtivo que as gerou. Isso não significa que o etanol seja um produto mais sustentável que o biodiesel. Isso vai depender das condições socioambientais de produção.

 

Etanol

Quando se fala em etanol hoje em dia está implícita a referência ao álcool da cana-de-açúcar produzido em larga escala quase que exclusivamente pelo Brasil.  Essa posição está associada às políticas energéticas adotadas pelo país desde os anos 1970.  Com a disparada do preço do petróleo naquela década, o governo brasileiro estabeleceu o Programa Nacioal do Álcool (Proalcool), para reduzir a dependência do pais dos combustíveis fósseis. De modo genérico, o programa era um conjunto de regras e incentivos para estimular a produção e o uso do etanol de cana-de-açúcar como combustível.

Desde então, a produção do álcool foi mantida, mas o produto foi quase deixado de lado no fim dos anos 1980 por falta de incentivos governmaentais aos produtores de cana e pela descrença do público sobre o etanol, não só porque a gasolina passava por um período de relative estabilidde mas porque o fornecimento do álcool se tornara instável.  Foi no início dos anos 2000 que uma nova alta nos preços do petróleo levou o governo a reduzir impostos para a produção de carros movidos a etanol e para reaquecer a produção do agrocombustível no país, uma vez que poderia se tornar uma commodity importante para a economia mundial pressionada pela mudança do clima. Teve início a produção dos veículos bicombustíveis, que se tornaram um sucesso no mercado interno e resultaram na valorização do álcool pelo consumidor novamente.

A estratégia do governo era aprimorar uma indústria que já funcionava há 30 anos no Brasil com boas conquistas tecnológicas e de infra-estrutura e tomar um lugar de destaque na corrida mundial por fontes alternativas de energia.  Um exemplo de quanto essa aposta poderia se tornar lucrativa é a meta da União Européia de substituir 20% de seu combustível fóssil por agrocombustível.

O principal argumento para a utilização do etanol como um produto sustentável é que, em teoria, ele não adiciona carbono à atmosfera e sim emite de volta o carbono capturado pela cana-de-açúcar durante seu crescimento, apenas alguns meses antes do tanque do automóvel ser enchido com etanol.  Em outras palavras, é um ciclo curto que está em ação, enquanto que a gasolina, por exemplo, emite carbono que esteve armazenado no subsolo por milhares ou milhões de anos, adicionando quantidades significativas de carbono extra à atmosfera.

Mas para ser considerado de baixa emissão, o etanol depende de um processo produtivo limpo nas diferentes etapas.  E para ser considerado sustentável é necessário que siga critérios socioambientais rígidos.

 

Biodiesel

O biodiesel tem sido a principal modalidade de biocombustível produzida fora do Brasil. Seu insumo básico é o óleo vegetal extraído de gêneros como a soja, o milho, o algodâo, a palma e o dendê. A expansão da produção de agrocombustíveis resultou em dois impactos importantes. O primeiro, a exemplo do Brasil, é o desmatamento de floresta tropical em regiões onde a expansão da fronteira agrícola é realizada pela supressão da mata. Um exemplo é a denúncia feita no ano passado que florestas da Indonésia estavam sendo suprimidas para o plantio de palmeiras cujos frutos podem ser usados na produção de óleo para combustível.

Outro impacto é sobre a alimentação. Como muitos dos gêneros utilizados para a produção de biocombustível são também produtos alimentares, diversos países em desenvolvimento e desenvolvidos passaram a direcionar parte significativa de suas produções para o processamento de biocombustível.

Isso levou a um aumento de preços desses gêneros agrícolas por duas frentes correlacionadas: por um lado, a agregação de valor dessas commodites, que passaram a ser não apenas fonte de alimento mas de combustível. Por outro lado, a falta de alimentos no mercado, levou a um processo inflacionário no mundo inteiro, mas com destaque para os países em desenvolvimento.

Alguns números esclarecem a situação. O preço do bushel de milho já supera os 6 dólares, após duas décadas cotado a 2,40 dólares.  A explicação para isso é que, só nos Estados Unidos, 100 milhões de toneladas do grão estão sendo usadas para a produção de biodiesel. Os reflexos acontecem no mundo inteiro. No México, por exemplo, uma série de manifestações chamadas de “rebelião da tortilla” vêm acontecendo contra o aumento excessivo do preço da tortilla que é base da alimentação mexicana e é produzida a partir do milho.

Outros impactos socioambientais relacionados à agricultura voltada aos biocombustíveis são a contaminação do solo e da água por insumos químicos, isolamento de áreas de floresta com ameça para o intercâmbio e a perpetuação da biodiversidade, alteração de condições micro-climáticas, ameaça a áreas prioritárias para a conservação, interferência no volume hídrico de rios e reservatórios subterrâneos, exploração de mão-de-obra, êxodo rural. Esses são impactos também observados no Brasil, para a produção em larga escala de gêneros como a soja, insumo do biodiesel brasileiro.

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