Scott Pruitt (dir.) e Trump no dia do anúncio da saída americana do Acordo de Paris (Foto: Reprodução de TV)

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Ministro do Ambiente de Trump renuncia após escândalos em série

Negacionista do clima, Scott Pruitt foi arquiteto da saída dos EUA do Acordo de Paris, e será substituído por um lobista do carvão

05.07.2018 - Atualizado 11.03.2024 às 08:28 |

DO OC – O administrador da EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos), Scott Pruitt, renunciou ao cargo nesta quinta-feira (5). A demissão foi confirmada pelo presidente Donald Trump – pelo Twitter, evidentemente.

A renúncia se deu após a imprensa americana revelar uma enxurrada de escândalos envolvendo o administrador, que soarão demasiado familiares aos brasileiros. O mais grave deles envolve um flat de luxo pertencente a um lobista da área de energia e alugado por Pruitt em Washington a preço simbólico. Pruitt também foi questionado por gastar US$ 43 mil numa cabine telefônica privada para seu gabinete e por viagens de luxo pagas por lobistas. No total, há 13 investigações federais contra ele, segundo o jornal The New York Times.

Negacionista do clima, Scott Pruitt foi o personagem mais controverso a ocupar o cargo, equivalente americano ao de ministro do Meio Ambiente. Sua nomeação já havia horrorizado os ambientalistas, já que ele fez sua carreira como procurador do Estado de Oklahoma movendo ações judiciais contra a EPA. Em sua sabatina de confirmação no Senado americano, disse que não havia evidência de que os humanos estivessem causando as mudanças climáticas.

Uma vez no cargo, Pruitt cumpriu “con gusto” o papel que Trump lhe havia designado de desmontar regulações ambientais – foram 22 revertidas em um ano e meio de mandado, e 44 outras nas quais a administração interferiu, segundo o site Think Progress –, perseguir cientistas (700 funcionários deixaram a agência, o maior êxodo de um órgão do governo americano em toda a história) e questionar a ciência das mudanças climáticas.

Neste quesito, o principal ato de Pruitt foi arquitetar a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, anunciada por Trump em 01 de junho de 2017 numa cerimônia no jardim da Casa Branca – ao lado do chefe da EPA. Ele também foi autorizado por Trump a reverter o Plano de Ação Climática de Barack Obama, principal instrumento de que os EUA dispunham para cumprir sua meta no acordo do clima.

Na carta de renúncia, vazada pela Fox News, Pruitt diz a Trump que a confiança nele depositada pelo presidente “me permitiu avançar sua agenda além do que qualquer pessoa previa”.

Segundo o Think Progress, porém, a maioria das tentativas da EPA de retroceder em regulações ambientais foi barrada na Justiça.

Desde o ano passado, a ficha corrida de Pruitt começou a ficar maior do que suas ações contra o meio ambiente. Além do apartamento e da cabine telefônica, ele gastou mais de US$ 100 mil em voos de primeira classe no último ano (nos EUA isso não é OK); teve uma viagem ao Marrocos paga por lobistas do setor de energia (a EPA não tem nenhuma ação no Marrocos); mentiu sobre encontros com lobistas na sede da agência; demitiu uma funcionária que o questionou sobre alterações na sua agenda; e, talvez a melhor de todas, deu calote em funcionários que usaram seus cartões de crédito pessoais para pagar despesas do chefe. No ano passado, foi chamado pela revista científica Nature de “o desmantelador de agência”.

“Fizemos um enorme progresso e o futuro da EPA é brilhante”, tuitou Trump ao anunciar a renúncia de seu ministro.

“Brilhante”, na acepção Trump, evidentemente é mau sinal para o meio ambiente. Pruitt será substituído por seu adjunto, Andy Wheeler, que antes de virar servidor público foi lobista da indústria do carvão. Wheeler também traz em seu currículo uma temporada como chefe de gabinete do senador republicano James Inhofe, o mais estridente negacionista do clima do Congresso dos EUA.

Segundo o New York Times, Wheeler vive em Washington há mais de duas décadas e, ao contrário de Pruitt, um interiorano deslumbrado, tem perfil discreto. Muitos apostam em que essa discrição possa ser mais efetiva do que o estilo de Pruitt no desmonte da proteção ambiental nos Estados Unidos.

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