Líderes do G7 se reúnem no Reino Unido (Fto: Flickr/G7 UK 2021)

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Sem plano concreto, G7 promete intensificar combate à crise do clima

Declaração do clube dos países mais ricos falha em atacar subsídios a combustíveis fósseis, deixa vagas promessas de financiamento climático e mantém desigualdade em vacinação, tema-chave para a COP26

15.06.2021 - Atualizado 11.03.2024 às 08:30 |

DO OC – A primeira reunião presencial em dois anos entre os líderes dos sete países mais ricos do mundo trouxe boas e más notícias para o meio ambiente. A boa é que o combate ao aquecimento global foi um dos destaques da roda de conversas, que incluíram ainda temas como vacina, diplomacia e Jogos Olímpicos. A ruim é que, apesar das expectativas, não foi dessa vez que os representantes do G7 apresentaram planos concretos para o alcançar os objetivos de redução nas emissões de gases de efeito estufa.

Ao longo do encontro de três dias, realizado no último final de semana no litoral da Cornuália, na Inglaterra, chefes de Estado e de governo de Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Estados Unidos e Reino Unido repetiram promessas antigas, concordaram em acabar até 2021 com o financiamento de projetos de carvão que não utilizem tecnologias de captura e armazenamento de CO2, reafirmaram o objetivo de aumentar o financiamento anual previamente estabelecido de U$ 100 bilhões até 2025 para ajudar países pobres a reduzir suas emissões e se mostraram dispostos a investir na transição energética. Faltou apontar caminhos concretos para alcançar esses objetivos.

Em uma declaração divulgada ao final do encontro, concluíram dizendo que estão “comprometidos em alcançar a meta de emissões zero líquidas até 2050, reduzindo pela metade as emissões coletivas nas duas décadas até 2030”. Os líderes prometeram, ainda, “aumentar e melhorar o financiamento para o clima até 2025 e conservar ou proteger pelo menos 30% de nossas terras e oceanos até 2030”.

Para Mark Lutes, conselheiro-sênior de Política Global de Clima do WWF, além da falta de planos concretos, os líderes falharam em avançar nos esforços de reduzir o financiamento da indústria do petróleo e do gás: “É decepcionante que os países não tenham ido além do apelo de 2016 para eliminar os subsídios aos combustíveis fósseis ‘ineficientes’ até 2025. Afinal, subsidiar os combustíveis fósseis de forma eficiente não ajudará o planeta ou o clima”, afirma.

O especialista alerta, ainda, que as declarações dos líderes sobre a descarbonização do transporte e da indústria parecem boas, mas não estabelecem prazos ou metas concretas. Em encontro com jornalistas há algumas semanas, a conselheira climática doméstica dos EUA, Gina McCarthy, afirmou que o governo americano está focado em estratégias para reduzir as emissões nestes setores, e que a retomada econômica do país deverá ser focada na geração de energia limpa.

Em relação à promessa de aumento do financiamento anual de U$ 100 bilhões dos países ricos aos pobres no combate às mudanças climáticas, tema considerado crucial para atingir a meta do Acordo de Paris pela secretária-executiva da Convenção do Clima da ONU, Patricia Espinosa, Lutes destaca que houve um avanço em relação ao anúncio feito na semana anterior durante a cúpula dos Ministros das Finanças do G7: “O comunicado da semana passada sinalizou que os países do G7 aumentariam coletivamente o financiamento. Neste encontro, cada membro se comprometeu individualmente em aumentar suas contribuições entre agora e 2025. Mas apenas o Canadá e a Alemanha fizeram anúncios concretos de aumentos até o momento. A Itália não mencionou suas contribuições este ano e as contribuições anunciadas pelos Estados Unidos no início deste ano os deixam bem abaixo dos outros”, explica.

Para Rubens Born, especialista em políticas públicas e mudanças do clima, os países perderam também uma importante oportunidade de avançar nas discussões sobre mitigação climática ao não terem anunciado, entre outras coisas, medidas efetivas de transição energética. “Sem metas fica difícil saber se estão na velocidade de maior ambição. Isso é necessário para ir além de promessas em encontros diplomáticos”, afirma.

Apesar de o encontro ter deixado a desejar na pauta ambiental, ainda há tempo, antes da COP26, para que os membros do G7 e outros países estabeleçam propostas concretas de enfrentamento à crise climática que sejam eficazes para colocar o mundo no rumo de estabilizar o aquecimento global em 1,5°C, conforme estabelecido em 2015 no Acordo de Paris. “Esperamos que, até novembro, os membros do G7 tenham intensificado os esforços climáticos para encarar o abismo que estamos enfrentando. Precisamos que os políticos sejam obstinados em relação a esse desafio sem precedentes”, conclui Lutes.

Os planos para a conferência em Glasgow, Escócia, porém, podem esbarrar em outra insuficiência do G7: a distribuição de vacinas contra a Covid para os países pobres a tempo de imunizá-los e garantir sua representatividade na COP26. Na última semana, durante as reuniões virtuais informais de negociação que antecedem a conferência, representantes da sociedade civil dos países do Sul reclamaram de que a desigualdade na vacinação espelha as desigualdades no clima. O G7 prometeu 1 bilhão de vacinas para o mundo em desenvolvimento até 2022 (segundo a agência Bloomberg, o número real de doses novas está mais perto de 613 milhões). Dificilmente chegará para os países pobres a tempo de garantir sua imunização até Glasgow. E, num precedente para a COP do clima, a ONU provavelmente adiará a COP da biodiversidade, que ocorreria em outubro na China, para abril ou maio do ano que vem.[:]

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