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Fijianas – notas sobre a COP23

18.11.2017 - Atualizado 11.03.2024 às 08:28 |
BULA!

Para lembrar que conferência do clima está sendo hospedada por Fiji, cartazes ensinando expressões na língua da ilha foram espalhados por todas as instalações da COP23 em Bonn. “Bula vinaka” significa “olá”, “sota tale”, “adeus” e “kalougata na siga nikua”, “tenha um bom dia”. A ilusão de paraíso tropical, porém, era rapidamente desfeita por qualquer um que saísse do centro de conferências para um outono alemão com temperaturas abaixo de 10oC.

QUEM TEM MEDO…

A temida delegação americana chegou à COP23 sem meter medo em ninguém. O embaixador Thomas Shannon, que deveria chefiar os americanos, teve uma emergência médica familiar e ficou em Washington. O negociador-chefe Trigg Talley precisou voltar às pressas também por um problema de saúde na família. Os americanos foram chefiados por uma diplomata jovem, de um nível hierárquico mais baixo.

…DO LOBO MAU?

A moral americana estava tão baixa na COP23 que um evento realizado pelo governo Trump para promover combustíveis fósseis e energia nuclear foi abandonado pela plateia após ser interrompido por um protesto de jovens. O auditório começou lotado e com fila do lado de fora. Depois do protesto, permaneceu apenas a claque levada pelos organizadores.

FAÇA O QUE EU DIGO

Da porta para dentro, a COP23 era uma utopia: comida local e orgânica, lâmpadas eficientes, carros elétricos e ônibus movidos a energia solar. Quem saísse do complexo para entrar num táxi, porém, era imediatamente lançado no mundo real: na Alemanha, eles são quase todos carrões movidos a diesel.

AGORA VAI

Durante a conferência de Bonn, a rede de organizações Climate Action Tracker lançou uma nova estimativa do quanto as políticas de combate ao efeito estufa que vêm sendo implementadas conseguiriam reduzir a temperatura da Terra no fim deste século. O resultado não chega a animar: a queda prevista é de 3,6oC para 3,4oC em 2100.

TE CUIDA, PETROBRAS

As 90 maiores empresas de combustíveis fósseis do mundo produziram 46% do aquecimento global observado desde 1880 e 32% do aumento do nível do mar. A conta foi apresentada na COP23 pela União dos Cientistas Responsáveis e se baseia em cálculos anteriores, que mostraram que essas mesmas empresas respondem por dois terços das emissões de carbono da humanidade. Ela deverá ser usada por advogados numa crescente onda de ações judiciais contra a indústria do petróleo e do carvão.

AMIGO É PRA ESSAS COISAS

Um movimento precipitado do Paraguai nas horas finais da COP23 impediu que o anúncio de que o Brasil sediará a COP25 fosse feito em Bonn. O país, que como o Brasil tem um governo de centro-direita, ocupa a presidência do Grulac (Grupo da América Latina e Caribe) e achou por bem subscrever a candidatura brasileira sem consultar o restante do grupo. Um texto formal com o anúncio chegou a ser publicado no site da Convenção do Clima na sexta-feira à noite, mas foi retirado do ar depois que os paraguaios foram advertidos do faux-pas. O martelo deve ser batido na próxima reunião do Grulac, em Nova York, ainda este ano.

A KATOWICE E ALÉM

A rotação obrigatória das conferências do clima por regiões do planeta vem produzindo um viés pró-Polônia. A cada cinco anos O país carvoeiro, que tem a política de clima mais retrógrada de toda a Europa, se beneficia do fato de que a cada cinco anos as COPs caberem a uma nação do Leste do continente, e caminha para a sua terceira conferência (Katowice 2018, após Póznan 2008 e Varsóvia 2013). Pior, o rodízio acabou fazendo com que as rodadas quinquenais de aumento da ambição do Acordo de Paris possam cair todas na Polônia. “Nesse ritmo, daqui pouco a COP será dentro de uma mina de carvão”, brincou um negociador do G77, o bloco dos países em desenvolvimento.

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