Rubão com um de seus violões (Foto: Oela)

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Morre Rubens Gomes, 60, o luthier da floresta

Músico e ambientalista amapaense pesquisava madeiras da Amazônia para fazer violões

29.05.2020 - Atualizado 11.03.2024 às 08:29 |

DO OC – O Observatório do Clima lamenta profundamente a perda do amigo e colega Rubens Gomes, aos 60 anos, na noite de quinta-feira (28).

Músico, artesão, educador e ativista ambiental, Rubão, como era conhecido, foi o primeiro luthier (fabricante de instrumentos musicais) a usar madeira certificada da Amazônia. Ele foi fundador da Oela (Oficina Escola de Lutheria da Amazônia) e presidente do GTA (Grupo de Trabalho Amazônico), uma rede de movimentos sociais integrante do OC.

Nascido no Amapá, Rubão estudou música na Universidade Federal do Pará e na Universidade de Brasília. Em 1997, morando em Manaus e lecionando na Universidade Federal do Amazonas, mudou-se para o bairro Zumbi dos Palmares 2, na periferia da capital amazonense. Estava preocupado com a violência entre jovens na cidade e resolveu intervir.

No ano seguinte fundou a Oela, para atender jovens em situação de risco e ensinar-lhes a fabricar instrumentos. Rubão raciocinou que, com a maior diversidade de árvores do mundo, a Amazônia também seria o lugar com as melhores madeiras para instrumentos do mundo. Ele vinha pesquisando o uso de madeiras achadas no chão da floresta e em pastos queimados para fazer instrumentos.

Por sugestão de Tasso Azevedo, um engenheiro florestal recém-formado que acabara de fundar uma ONG, o Imaflora, Rubão iniciou sua escola usando em seus violões madeiras certificadas, produzidas de forma sustentável. Os instrumentos foram testados e aprovados pelo violonista Turíbio Santos, à época diretor do Instituto Villa Lobos, e por Paulinho da Viola.

“Via a lutheria como uma arte e ciência capaz de transformar a vida de uma pessoa, uma família, uma comunidade e toda Amazônia. Era capaz de passar horas me explicando como o corte da madeira deveria ser feito para que o som fluísse harmônico ao mesmo tempo em que cuidava para que quem aprendesse na escola enxergasse o mundo à sua volta”, relembrou Azevedo num texto em homenagem ao amigo.

A escola já formou mais de 2.300 alunos e tornou-se referência na produção de instrumentos de corda. Em 2009, foi visitada pelo príncipe Charles, em reconhecimento ao seu trabalho social e ambiental.

A Oela também implementou um projeto de manejo comunitário de açaí no arquipélago de Bailique, no Amapá, além de atuar em parceria com outras entidades em Manaus em educação socioambiental, informática e esporte.

Rubão foi submetido a um transplante de pulmão em 2018, em Porto Alegre, após um longo período de tratamento de enfisema que o manteve afastado das aulas por dois anos. O curso foi retomado em 2019.

O músico estava isolado em Manaus com a mulher, Jéssica, cumprindo a quarentena pelo coronavírus. Mesmo de casa, coordenava a entrega de cestas básicas para as famílias de baixa renda da periferia de Manaus. No final de semana passou mal e foi internado na UTI do Hospital da Unimed, na capital amazonense. Ele faleceu na noite desta quinta-feira por insuficiência respiratória.

Sem filhos, Gomes deixa a mulher.

* Com informações da Oela e da agência Amazônia Real

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