Nós gostaríamos de dizer que “acabou 2025” desde o final da COP30, em 22 de novembro. Mas Brasília não deixa. Enquanto a sociedade civil ainda vivia a ressaca da conferência, o Congresso Nacional, contando com a incapacidade de mobilização social no pós-COP, resolveu destruir o licenciamento ambiental no intervalo de uma semana. O inepto Hugo Motta, presidente da Câmara, e o traidor Davi Alcolumbre, do Senado, pautaram para o pós-COP a análise e eventual derrubada dos vetos de Luiz Inácio Lula da Silva ao PL da Devastação, que torna o licenciamento letra morta. Na semana seguinte, em 90 segundos, o Senado concluiu a análise da LAE, a Licença Ambiental Especial, um licenciamento expresso justamente para as obras nas quais ele deveria ser mais demorado. Enquanto escrevíamos esta newsletter, Suas Excelências aprovaram uma emenda à Constituição que estabelece o marco temporal para terras indígenas. A tese havia sido decretada inconstitucional pelo STF, mas o ministro Gilmar Mendes pensou bem e resolveu que cabia “conciliar” os interesses dos indígenas com os dos invasores de suas terras. O mesmo Gilmar pautou para a última semana antes do recesso de Natal a análise de quatro ações sobre o marco temporal. Já deu, 2025!
O ano que termina com o Congresso de traidores vendendo o futuro do país e tentando livrar da cadeia os piores criminosos da história do Brasil começou com Donald Trump tomando posse nos Estados Unidos e quase instantaneamente transformando o mundo num lugar pior. Além de sair do Acordo de Paris e tentar reverter toda a política climática americana, o agente laranja ainda tratou de bombardear a liderança climática europeia ao deixar claro que não vai mais investir na Otan: os europeus que se virem para evitar uma invasão russa – reorientando suas prioridades para a defesa e não para o clima. Com esses centros gravitacionais geopolíticos destruídos, não havia chance de a COP30, em Belém, ter sucesso.
E, no entanto, um coelho foi tirado da cartola pelo presidente Lula, que resolveu defender, para espanto geral, a produção de mapas do caminho para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e para o fim do desmatamento. As propostas não vingaram, mas, com a ajuda da Colômbia, um movimento político envolvendo 84 países foi criado pela produção dos mapas do caminho. E os fósseis, que eram um não-assunto, tornaram-se o assunto da COP do Brasil.
Houve outras alegrias no ano: o desmatamento segue em queda em 2025, mesmo com as queimadas do segundo semestre de 24; as emissões de gases de efeito estufa do Brasil tiveram sua maior queda em 15 anos; e, por último, mas não menos importante, Jair Bolsonaro e seus generais estão na cadeia. Valeu, 2025!
Boa leitura, Feliz Ano Novo e não deixe de ir às manifestações no domingo contra a anistia aos criminosos que tentaram golpear a nossa democracia.
10 fatos climáticos de 2025, o ano em que o Congresso destruiu o Brasil
1 – Congresso inimigo do povo
O ano de 2025 será lembrado como o ano em que o Congresso Nacional promoveu o maior retrocesso legislativo ambiental da história do país. Concluída em dezembro, a destruição do licenciamento ambiental foi um enredo que contou com meias-vitórias, reviravoltas, traições e uma punhalada final do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, no presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A derrota, no entanto, não foi de Lula. Perdem o Brasil e todos os brasileiros, expostos aos riscos de empreendimentos aprovados a toque de caixa, sem análise de risco e com consequências que ameaçam as futuras gerações.
O mesmo Congresso que se empenha em barrar conquistas sociais (como o fim da escala 6×1) e se apressa para anistiar quem tentou enterrar a democracia brasileira (com o infame “PL da dosimetria”) operou, durante todo o ano, para acabar com o licenciamento ambiental. Após ampla mobilização da sociedade, Lula vetou, em agosto, vários dos aspectos mais nocivos do PL da Devastação (PL 2159). E fez uma troca com Alcolumbre: para ter os vetos garantidos, transformaria em Medida Provisória a LAE (Licença Ambiental Especial), inventada pelo presidente do Senado para acelerar o licenciamento da exploração de petróleo na Foz do Amazonas, antecipando sua entrada em vigor.
Menos de uma semana após a COP30, o Congresso derrubou os vetos de Lula em novembro, ressuscitando os piores aspectos do PL da Devastação, agora convertido em lei; e, nos primeiros dias de dezembro, liquidou a fatura, transformando a Medida Provisória da LAE também em lei, mas não sem antes piorá-la. A votação no Senado aconteceu em um minuto e meio.
A nova legislação, além de inconstitucional, ameaça a saúde e a segurança dos brasileiros, libera a destruição dos nossos ecossistemas e impede o cumprimento das metas climáticas do país. Entre os pontos críticos vetados por Lula e retomados pelo Congresso, está a ampliação da LAC (Licença por Adesão e Compromisso, o “autolicenciamento”) para empreendimentos de médio impacto. Com isso, cerca de 90% dos licenciamentos estaduais – a imensa maioria dos licenciamentos do país – poderão ser feitos automaticamente, num apertar de botão. Além disso, grandes obras como a pavimentação da BR-319, na Amazônia, também não precisarão de licenciamento.
Como não há nada tão ruim que não possa piorar, o Senado aprovou, na sequência, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 48/2023, que insere na Constituição a tese (já declarada inconstitucional pelo STF) do Marco Temporal. O ataque sem precedentes limita o direito originário dos povos indígenas às suas terras tradicionais.
Terminamos 2025 com um recado contundente do pior Congresso da história. Para 2026, é rua, voto e tribunal. A sociedade brasileira precisa se mobilizar, acionar a Justiça e dar nas urnas a resposta à destruição do licenciamento e do futuro do país: não reeleger os inimigos do povo.
2 – Trumpocalipse 2.0
O negacionista climático mais perigoso do planeta assumiu em janeiro a presidência do país campeão histórico de poluição climática e passou a entregar tudo o que prometeu na campanha. Seguindo o roteiro dos autocratas modernos que consolidam suas ditaduras no segundo mandato, Donald Trump implementou um ataque sem precedentes à ciência climática e às políticas de transição energética – nos EUA e no resto do mundo.
Trump retirou os Estados Unidos (novamente) do Acordo de Paris no primeiro dia de mandato. Extinguiu o departamento de clima da Secretaria de Estado, demitindo todos os diplomatas que cuidavam da área climática. Também no primeiro dia, vetou a expansão de energia eólica em terras federais (mas abriu uma reserva natural no Alasca à exploração de petróleo). Numa guerra total às renováveis, também vetou um projeto de energia eólica de US$ 4 bilhões no estado de Rhode Island que estava 80% concluído.
O republicano, que em seu primeiro discurso na ONU declarou que a mudança climática é “a maior enganação do mundo”, listou “mudança climática” e “poluição” entre as palavras proibidas nos sites do governo federal, mandou cortar programas de clima, observação da terra e monitoramento de desastres de agências federais como a Noaa (a agência nacional de oceanos e atmosfera) e fez ataques diversos à principal legislação americana de clima, a Lei de Redução de Inflação de Joe Biden (mandando suspender créditos tributários para energia renovável, por exemplo).
Os cortes nas agências de monitoramento e resposta a desastres fizeram-se sentir em julho, quando uma enxurrada no Texas matou 135 pessoas, inclusive 27 meninas que passavam o verão numa colônia de férias à beira-rio. Mas Trump não se abalou, e seguiu investindo contra o clima. Naquele mesmo mês, tentou empurrar US$ 750 bilhões em gás fóssil à Europa num acordo para encerrar a sobretaxa imposta ao bloco. Em outubro, ameaçou sobretaxar países pobres que votassem por um acordo para descarbonizar o setor de navegação, fazendo naufragar a negociação. O inferno é o limite.
3 – Os roadmaps da “COP da Verdade”
Contra todas as probabilidades, o Brasil sediou sua primeira conferência do clima em 2025 numa metrópole empobrecida da Amazônia. Lula prometeu em 2023 que Belém seria a sede da COP30, e Belém foi. Apesar da incompetência da Casa Civil, que não preparou adequadamente a cidade, apesar da atitude do governador do Pará, Helder Barbalho, de estimular a população a tentar ganhar dinheiro fácil com a COP em vez de instruir os belenenses sobre o que significa sediar um evento desse tipo. Apesar da crise logística sem precedentes, da inflação dos preços de acomodação que levou dezenas de países a exigir a troca da cidade-sede e o secretário-executivo da Convenção do Clima, o bovino Simon Stiell, a mandar cartas furiosas ao ministro Rui Costa reclamando das barbeiragens.
O povo de Belém, a guitarrada, o carimbó, o açaí e o sorvete trataram de fazer o que o governo brasileiro não fez: acolher os delegados e transformar o que poderia ser mau-humor em paixão pela cidade (exceto, talvez, no caso de Friedrich Merz). Nem mesmo o pavilhão mais desconfortável da história das COPs, onde as temperaturas em salas de reunião chegaram a 48 graus e onde não faltou nem mesmo um incêndio, abalou a disposição dos participantes.
Contra todas as probabilidades, a COP30 não terminou num fiasco completo na negociação da implementação do Acordo de Paris. Mesmo com o pior contexto geopolítico desde 1992, com genocídios em Gaza e no Sudão, Putin barbarizando na Europa e Donald Trump transformando os EUA numa ditadura obscurantista, Belém manteve o Acordo de Paris vivo. Mais do que isso, obteve decisões importantes sobre transição justa e adaptação climática, e criou um movimento político contra os combustíveis fósseis.
Esse movimento começou com outra improbabilidade: Luiz Inácio Lula da Silva, que duas semanas antes da COP havia licenciado a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, abriu o segmento de líderes de Belém discursando pelo estabelecimento de “mapas do caminho” (roadmaps) para superar a dependência da humanidade em relação aos causadores da crise do clima e para zerar o desmatamento até 2030. Lula foi convencido pela ministra Marina Silva de que o mundo precisa de critérios para fazer a transição, e que o Brasil não será o primeiro país a ter de desmamar do petróleo.
O sinal político dado por Lula estimulou o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, a tentar inserir os mapas do caminho no texto da negociação. Os países árabes, a Rússia e a Índia, previsivelmente, vetaram. O jeito foi Corrêa do Lago dar uma de Alexandre de Moraes e estabelecer os roadmaps “de ofício”, por iniciativa informal da presidência. Àquela altura, um movimento paralelo iniciado pela Colômbia pela eliminação dos fósseis, convocando uma conferência para abril na cidade caribenha de Santa Marta, passou a ganhar apoio. A COP30 começou com um país (o Brasil) apoiando a ideia; terminou com 85. O que era um não-assunto tornou-se o grande assunto da conferência. A “COP da Verdade”, como Lula a apelidou, não pôde desviar o olhar da mais inconveniente das verdades: é hora de os combustíveis fósseis ficarem debaixo da terra.
4 – Overshoot
A gente já sabia que não ia dar, mas ouvir do secretário-geral da ONU é sempre mais triste. Em outubro, poucos dias antes da COP30, António Guterres declarou numa reunião da Organização Meteorológica Mundial que “nós não seremos capazes de conter o aquecimento global abaixo de 1,5oC nos próximos anos”. A chamada ultrapassagem (overshoot, em inglês) da meta do Acordo de Paris, segundo Guterres, “é hoje inevitável”, e isso significa que “teremos um período, menor ou maior, com maior ou menor intensidade, acima de 1,5oC nos próximos anos”.
Desde a assinatura do tratado do clima, em 2015, parte da comunidade científica vinha dizendo que as emissões anuais de gases de efeito estufa eram incompatíveis com a manutenção do aquecimento global em 1,5oC, limite a partir do qual a sobrevivência de países-ilhas no longo prazo se torna impossível devido à elevação do nível do mar. Modelos climáticos criaram, então, o cenário de overshoot, que diz mais ou menos o seguinte: tudo bem se as temperaturas ultrapassarem temporariamente a marca, porque com cortes acelerados de emissões e um tanto de “emissões negativas” (ou seja, sequestro de carbono), nós poderemos retornar os termômetros para níveis próximos de 1,5oC na segunda metade do século. Políticos, diplomatas e ambientalistas vinham argumentando, porém, que admitir o overshoot poderia ser lido como admitir o fracasso do Acordo de Paris, o que seria um risco moral para o sistema internacional – afinal, ainda era fisicamente viável cortar emissões até 2030 para permanecer dentro da meta com pouco ou nenhum overshoot.
Só que o mundo físico e o mundo político são duas coisas bem diferentes: o corte de 43% de emissões até 2030 em relação aos níveis de 2019, que seria necessário para evitar a ultrapassagem do 1,5, provou-se impossível no mundo real dos governos influenciados pelo lobby do petróleo. Então a ONU precisou reconhecer, em 2025, que falhamos. A declaração de Guterres foi seguida pelo relatório Emissions Gap, do Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), dias depois, reconhecendo a inexorabilidade do overshoot. Na COP30, a decisão Mutirão admite, pela primeira vez na história da Convenção do Clima, que perdemos a meta, e que o que resta a fazer é “limitar a magnitude e a duração de qualquer ultrapassagem da temperatura”.
5 – Desmatamento em queda
Na seara das boas notícias está a queda histórica do desmatamento na Amazônia. O mesmo Ibama pressionado por Lula para licenciar o petróleo na Foz da Amazonas entregou um dos melhores resultados do governo. Em outubro, os dados oficiais do sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostraram que a derrubada no bioma caiu 11% em 2025 na comparação com o ano anterior. Foram 5.796 km² de floresta desmatados, a menor extensão em 11 anos e a terceira menor da série histórica. Também houve queda no Cerrado: foram 7.235 km², 11% a menos que no ano anterior.
A retomada das políticas de prevenção e controle do desmatamento produziu os resultados esperados e fez o atual governo, que assumiu com uma alta de 50% nos alertas de desmatamento na Amazônia no último semestre de 2022, reduzir a derrubada aos mesmos níveis da redução observada em 2011-2014. No Cerrado, os esforços reverteram a tendência de alta dos últimos anos e confirmaram o segundo ano consecutivo de queda da devastação.
A queda no desmatamento se traduziu em queda histórica nas emissões de gases de efeito estufa, como mostraram os dados da 13a edição do SEEG, o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima. Em 2024, o despejo dos gases causadores do aquecimento global na atmosfera pelo Brasil caiu 16,7%, atingindo 2,145 bilhões de toneladas brutas de gás carbônico equivalente (GtCO2e) (em 2023, haviam sido 2,576 GtCO2e). Foi a segunda maior queda na poluição climática do país já registrada desde o início das medições, em 1990, e a maior desde 2009 (que registrou recuo foi de 17,2%). As chamadas emissões líquidas, que consideram desconto de remoções de carbono por florestas secundárias e áreas protegidas, tiveram queda de 22%, ficando atrás apenas de 2009 em percentual de redução (24%).
Isso não bastará, porém, para o Brasil cumprir sua NDC, a meta climática nacional para 2025. Segundo projeção feita pela equipe do SEEG, as emissões líquidas neste ano ficarão em 1,44 bilhão de toneladas de CO2 equivalente, 9% acima da meta, de 1,32 bilhão de toneladas. À medida que a derrubada é controlada, a redução de emissões brasileiras dependerá cada vez mais do controle da poluição climática em outros setores.
6 – O fogo apagou no hemisfério Sul
O combate ao desmatamento, aliado a um ano relativamente frio no hemisfério Sul (em oposição, como veremos, ao calor extremo no Norte) e ao fato de que sobrou pouca coisa para queimar depois do arraso de 2024, produziram mais um recorde positivo para o Brasil: o número de queimadas até 11 de dezembro era o mais baixo em 25 anos. Depois de um 2024 trágico, com recordes em várias regiões, a América do Sul conviveu com muito menos fogo e fumaça ao longo deste ano. De acordo com o serviço Copernicus, o observatório climático da União Europeia, o total de emissões relacionadas aos incêndios florestais foi um dos mais baixos já registrados para a região.
No Brasil, o total de emissões por fogo acumulado no ano até o final de novembro estava em cerca de 80 milhões de toneladas de CO2 equivalente, segundo o levantamento do Copernicus. A estimativa passa longe das 241 milhões de toneladas calculadas pelo SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) no ano anterior, quando 30 milhões de hectares foram queimados em todo o país.
Incêndios de baixa intensidade foram registrados na Argentina e no Chile. Na Bolívia, que também sofreu pesadamente os eventos do ano passado, e no Paraguai, o número de queimadas foi o menor desde 2001.
7 – … e arrasou o Norte
Em 2025, a combinação de secas extremas e ventos fortes fez o fogo se espalhar pelo hemisfério Norte de forma intensa. Na Europa, segundo o observatório climático Copernicus, as emissões de CO2 em decorrência de incêndios alcançaram 13 milhões de toneladas, o maior volume já registrado.
Alguns dos incêndios florestais mais significativos ocorreram na Península Ibérica. No norte de Portugal, frentes de fogo originadas no final de julho se estenderam por vários dias, obrigando a região a decretar estado de emergência.
Na Espanha, em meados de agosto, os incêndios atingiram mais de 120 mil hectares em Castela e Leão, Galícia, Astúrias e Extremadura. Três pessoas morreram e milhares tiveram que deixar suas casas. Como resultado, a fumaça cobriu grandes partes da Península Ibérica e alcançou a França, o Reino Unido e o noroeste da Europa.
Foram registrados, ainda, incêndios no sul da França, nos Bálcãs e em toda a região do Mediterrâneo, especialmente em países como Grécia, Chipre e Turquia. No Reino Unido, o norte da Escócia queimou significativamente no final de junho e início de julho. Segundo a Organização Meteorológica Mundial, 400 mil hectares pegaram fogo.
A partir de junho, a Europa começou a ser atingida por fortes ondas de calor, que elevaram as temperaturas para perto dos 40 graus na Alemanha. Naquele mês, os recordes históricos de calor foram batidos em Portugal (46,6oC) e na Espanha (46oC). Em julho, a Turquia registrou acachapantes 50oC.
Na América do Norte, o Canadá viveu seu terceiro ano consecutivo de intensos incêndios florestais. O total de emissões de carbono de incêndios florestais do país para o ano totalizou cerca de 263 milhões de toneladas CO2 até o fim de novembro, a segunda maior marca da história. A fumaça cobriu o país e alcançou a Europa.
Nos Estados Unidos, o mês de janeiro foi marcado por incêndios na região de Los Angeles, na Califórnia. O fogo atingiu áreas urbanas densamente povoadas, causou mortes e obrigou a evacuação emergencial de cerca de 200 mil moradores. O prejuízo foi estimado em cerca de US$ 150 bilhões.
8 – O segundo ano mais quente
Enquanto a ação climática patina, a matemática implacável das emissões não falha. As emissões seguem aumentando, mesmo que em ritmo mais lento, mantendo as temperaturas globais nas alturas. O ano de 2025 será provavelmente o segundo mais quente da história, empatado com 2023 e ficando atrás somente de 2024. Os dados são do Copernicus, o observatório climático da União Europeia. De janeiro a novembro deste ano, a temperatura média global alcançou 1,48°C acima do período pré-industrial (1850–1900).
No ano passado, a concentração de CO2 na atmosfera registrou o maior salto desde o início das medições, em 1957. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), órgão das Nações Unidas, a média global de CO2 na superfície aumentou em 3,5 partes por milhão (ppm) no ano passado em relação a 2023 e chegou a 424 ppm. Nos anos 60, o aumento anual era de 0,8 ppm. Na década passada, o aumento médio foi de 2,4 ppm por ano. Explicam o salto a elevada queima de combustíveis fósseis em níveis elevados, o aumento das emissões por incêndios florestais e a queda na eficácia dos sumidouros naturais de carbono terrestres e oceânicos, disse a OMM.
9 – Petróleo na Foz do Amazonas
O ano não acabou sem que o governo brasileiro liberasse a exploração de petróleo na bacia sedimentar da Foz do Amazonas. A decisão, catastrófica, teve ainda um timing desastroso: ocorreu pouco mais de duas semanas antes da COP30. A licença de perfuração no bloco FZA-M-59 foi concedida pelo Ibama contrariando pareceres técnicos do próprio órgão e recomendações do Ministério Público Federal, depois de quatro anos de pressão da Petrobrás e do Ministério de Minas e Energia. Contou, ainda, com um empurrão do Executivo – Lula chegou a chamar de “lenga-lenga” a demora do órgão para emitir a licença.
A decisão é um contrassenso climático, ambiental e do ponto de vista da sociobiodiversidade. Ignora a ciência, que diz que nenhum novo projeto fóssil pode ser licenciado se quisermos ter uma chance de manter o aquecimento global em (ou próximo de) 1,5oC. Ainda, vai na contramão de decisões legais de tribunais internacionais sobre a urgência da interrupção da expansão dos combustíveis fósseis, como as recentes deliberações da Corte Interamericana de Direitos Humanos e da Corte Internacional de Justiça que reforçaram a obrigação legal dos países de proteger o clima. Uma sabotagem ao planeta, ao futuro da humanidade e ao próprio papel de liderança climática que o Brasil pretende ocupar.
A liberação, é claro, já está na Justiça: em outubro, oito organizações e redes dos movimentos ambientalista, indígena, quilombola e de pescadores artesanais entraram com uma ação na Justiça Federal do Pará contra o Ibama, a Petrobras e a União, pedindo a anulação do licenciamento.
10 – Jair em cana
Sim, querida leitora, para encerrar este ano difícil nunca é demais repetir: Jair Messias Bolsonaro está na cadeia. Vamos deixar você reler essa frase e saborear mais um pouquinho.
A prisão do maior criminoso da história do Brasil em 22 de novembro, por tentar fugir após ter sido condenado por tramar um golpe de Estado e o assassinato do presidente eleito, é obviamente uma tremenda notícia para a democracia brasileira e mundial. Punimos militares golpistas pela primeira vez em 525 anos. Sinalizamos à extrema-direita mundial que nem todo país é uma república bananeira como os Estados Unidos. Mas a punição ao Jair é também uma tremenda notícia ambiental. Porque nenhum presidente desde a ditadura fez tanto para arrasar as nossas florestas e os nossos rios, nem praticou tanto ódio aos povos indígenas e às comunidades tradicionais.
Pelo tratamento que dispensou aos povos indígenas – estimulando abertamente a invasão e a pilhagem de suas terras, descumprindo ordens do STF para protegê-los durante a pandemia, deixando de cumprir o dever constitucional de reconhecer e demarcar os territórios –, Bolsonaro enfrenta uma denúncia no Tribunal de Haia. Já seus crimes contra o meio ambiente e o clima permanecem impunes.
A lista é longa, e acrescentaria mais uns bons anos de cadeia para o deputado Paulinho da Força tentar abater depois. Mas pode ser resumida um crime fundamental: desmontar a governança socioambiental brasileira vigente desde a Constituição de 1988. Isso incluiu manietar os órgãos de elaboração de políticas públicas, como o Ministério do Meio Ambiente, que sofreu extinção branca nas mãos do hoje deputado Ricardo Salles (PL-SP); e de controle, como o Ibama e a Funai. Além disso, Bolsonaro e seus comparsas promoveram um clima sem precedentes de assédio a cientistas e funcionários desses órgãos. O resultado foi a maior elevação percentual do desmatamento num único mandato presidencial, 60%, e o retrocesso nas metas climáticas do Brasil, que, na ausência dos quatro anos de Jair, teriam sido provavelmente cumpridas em 2025.
Bolsonaro está preso e já não oferece risco às árvores nem aos peixes de Angra dos Reis. Só que seu legado no Congresso Nacional está vivíssimo. E, em 2026, seus herdeiros menos estúpidos, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), podem chegar ao Planalto para terminar o serviço.