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Olimpíada, enfim, traz mudança do clima para as massas

Cerimônia de abertura mostrou consequências do uso do petróleo, degelo polar, elevação dos oceanos e importância do reflorestamento para mais de 3 bilhões de pessoas no mundo todo

06.08.2016 - Atualizado 11.03.2024 às 08:27 |

CLAUDIO ANGELO
DO OC

O aquecimento global tornou-se enfim um fenômeno de percepção global nesta sexta-feira (5). Os organizadores da Olimpíada do Rio aproveitaram a audiência cativa de mais de 3 bilhões de pessoas na cerimônia de abertura dos jogos para dar uma aula de por que o planeta está esquentando, o que está em jogo se não agirmos – e mais ou menos o que dá para fazer a respeito.

Foram cinco minutos de um vídeo produzido pelo cineasta Fernando Meirelles (Cidade de Deus), projetado na imensa tela na qual o piso do Maracanã foi convertido para a festa. Do degelo do Ártico aos recordes de temperatura deste século, do aumento do nível do mar à importância das florestas para o ciclo de carbono, estava tudo lá. Todas as mensagens importantes que os cientistas tentam entregar desde 1990, quando o IPCC (o painel do clima da ONU) começou a publicar seus relatórios, foram transmitidas na abertura, com forte impacto visual, para mais ou menos literalmente meio mundo. Foi provavelmente a maior audiência da história para a temática do clima.

“Então, uma versão da minha espiral de aquecimento global acaba de ser usada na abertura dos Jogos Olímpicos. Caramba”, tuitou o climatologista britânico Ed Hawkins, da Universidade de Reading, ao ver pela transmissão da BBC uma animação produzida por ele neste ano e que tornou-se a imagem climática mais compartilhada do mundo. O gráfico, em forma de espiral, mostra o crescimento das temperaturas da Terra desde a era pré-industrial até os dias de hoje, por conta das emissões de carbono causadas pela queima de combustíveis fósseis e pelo desmatamento.

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O vídeo mostrou a conexão entre o uso de petróleo e o aquecimento, destacando que 15 dos 16 anos mais quentes já registrados ocorreram neste século. E trouxe as consequências do problema para perto da audiência ao mostrar projeções de aumento do nível do mar em várias regiões costeiras – Rio, Xangai, Amsterdã, Dubai, Lagos e Flórida – no caso de um aumento de temperatura de 4oC. Várias delas são praticamente engolidas pelo oceano.

A produção teve consultoria científica de dois pesquisadores brasileiros: o físico Paulo Artaxo, da USP, membro do IPCC, e o engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa), do Observatório do Clima.

Segundo Artaxo, a opção foi por mostrar o chamado “aumento comprometido” do nível do mar caso as emissões de carbono não sejam drasticamente reduzidas até 2050. “Quisemos ir além de 2100 e mostrar o que aconteceria no longo prazo no cenário ‘business as usual’ [caso as emissões atuais sejam mantidas]. A mensagem é que precisamos agir”, afirmou o cientista. Segundo Artaxo, as projeções topográficas usadas foram minuciosas, baseadas em dados da Noaa (agência de oceanos e atmosfera dos EUA) e do IGBP (Programa Internacional da Geosfera-Biosfera).

Ao drama seguiram-se imagens da solução – ou ao menos o que os organizadores consideraram ser a solução: recompor florestas no mundo inteiro para sequestrar carbono. Imagens de reflorestamento na China, na Austrália e na África se sucederam enquanto as atrizes Fernanda Montenegro e Judy Dench (a M. dos filmes 007) recitavam em português e inglês o poema A Flor e a Náusea, de Carlos Drummond de Andrade.

A própria pira olímpica também foi pensada com um viés de proteção ao clima. “É a primeira pira híbrida da história das Olimpíadas”, brincou Meirelles num vídeo postado pelo comitê organizador. Ela é menor do que as piras dos Jogos Olímpicos anteriores porque, segundo o cineasta, a mensagem é de redução do uso de combustíveis. “Não fazia sentido a gente chegar na hora da pira e soltar aquele tamanho de chama.”

A escultura movida a energia eólica e a pira olímpica

A escultura movida a energia eólica e a pira olímpica “híbrida”(Foto: Rio2016)

Atrás da pira, uma escultura do artista plástico americano Anthony Howe, que lembra o Sol e é movida a energia eólica, completa a mensagem: “Vamos fazer uma emissão de carbono pequenininha e vamos usar a energia solar e a energia do vento”.

Todos os atletas participantes dos Jogos plantaram sementes de árvore, que serão transplantadas para um futuro bosque no Rio. Vários atletas também têm aderido à campanha 1.5o C – O Recorde que Não Devemos Quebrar, organizada pelo Fórum de Vulnerabilidade Climática com parceiros como o OC, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o GiP (Gestão de Interesse Público).

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