A enviada especial da França para o clima, Laurence Tubiana, no encerramento da reunião de Bonn (Foto: Claudio Angelo/OC)

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Paris inverte agenda e terá chefes de Estado na abertura, não no fim

Temendo problema que vitimou Copenhague, governo francês convidará presidentes e premiês para “energizar” negociadores no primeiro dia da conferência do clima

08.09.2015 - Atualizado 11.03.2024 às 08:26 |

CLAUDIO ANGELO
(DO OC, EM BONN)

O governo da França está elaborando os convites a chefes de Estado e governo do mundo inteiro para que participem da abertura da COP21, a conferência do clima de Paris, em 30 de novembro.

A decisão do presidente François Hollande e do chanceler Laurent Fabius inverte o formato tradicional desse tipo de encontro internacional. Cúpulas internacionais são precedidas de dias de negociações intensas entre diplomatas, seguidas de decisões de alto nível, tomadas por ministros. Chefes de Estado participam no último momento, geralmente para dar sua bênção a um acordo já fechado, fazer um discurso político, tirar uma foto coletiva (chamada de “foto de família”) e ir embora.

Uma exceção importante, e a provável causa da mudança de atitude do governo francês, foi a COP15, a conferência do clima de Copenhague, em 2009.

Maior encontro de chefes de Estado da história, Copenhague assistiu em seus dias finais a um mico político. Quando os líderes mundiais começaram a chegar, a três dias do encerramento – que deveria culminar com o anúncio de um acordo do clima “justo, ambicioso e legalmente vinculante”, não havia nada acertado entre diplomatas ou ministros. Presidentes e primeiros-ministros viram-se, assim, na delicada tarefa de negociar um acordo. O então presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, reclamou em seu segundo discurso em Copenhague de que jamais imaginou que fosse fazer uma coisa daquelas.

No final, os EUA, a União Europeia, Brasil, China, Índia e África do Sul costuraram um acordo político – o Acordo de Copenhague – que terminou a conferência sem nem mesmo ser oficialmente adotado pela plenária como resultado formal. Os líderes cancelaram a “foto de família” e mais ou menos fugiram da capital dinamarquesa antes do final.

Falando a jornalistas na última sexta-feira em Bonn, durante o encerramento da penúltima rodada de negociações antes da COP21, a embaixadora francesa para o clima, Laurence Tubiana, afirmou que a presença dos chefes de Estado no dia 30 em Paris ajudará a dar o “impulso político de que precisamos no final”.

Segundo ela, o formato que está sendo proposto pela França deve criar “algumas complicações para o processo”, mas a melhor solução é usar a capacidade política máxima no início do encontro.

“Nós sabemos que, mesmo que estejamos satisfeitos com o ritmo [das negociações], nós certamente teremos muita coisa para fazer em Paris. O que temos para fazer é complicado, é um texto legal, não uma declaração política”, disse. E prosseguiu: “Para isso precisaremos de energia e determinação. E nada pode ser melhor para dar essa energia aos ministros do que os chefes de Estado dizendo, ‘olha só, pessoal, nós queremos esse acordo, queremos que ele seja ambicioso, equitativo, inclusivo e vocês precisam entregá-lo em 11 de dezembro.”

Hollande deve aproveitar a Assembleia-Geral das Nações Unidas, no próximo dia 28, para reforçar o convite aos líderes mundiais. Segundo Tubiana, neste momento não se está imaginando nenhuma declaração política formal dos presidentes.

“Acho que essa mensagem é a grande contribuição e esse [o início da COP21] é o momento certo. Então vamos ter de organizar isso, mas não é tão difícil assim.”

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