Londrino se refresca durante onda de calor em 2010 (Foto: Christian Julliard/Flickr/Creative Commons)

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Aquecimento global causa 37% das mortes por calor no mundo

Estudo inédito envolveu 70 pesquisadores, inclusive do Brasil, e reuniu dados de 43 países entre 1991 e 2018

31.05.2021 - Atualizado 11.03.2024 às 08:30 |

DO OC – Um estudo inédito mostrou que mais de um terço das mortes relacionadas ao calor no mundo foram resultado direto das mudanças climáticas causadas pelos seres humanos. O trabalho, publicado nesta segunda-feira na revista Nature Climate Change, reuniu o maior banco de dados até o momento sobre clima e saúde e conseguiu separar os impactos do aquecimento relacionado às atividades humanas daqueles decorrentes de variações naturais.

A pesquisa foi realizada por mais de 70 cientistas e reuniu dados de centenas de locais em 43 países entre os anos de 1991 e 2018. Um de seus autores é o médico Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP. Segundo os pesquisadores, nesse período uma média de 37% das mortes relacionadas ao calor em estações quentes foram impulsionadas pelo aquecimento global antropogênico. Em diversos locais analisados, a mudança climática “já é responsável por dezenas a centenas de mortes a cada ano”, e em várias regiões a ação do homem sobre o clima aumentou em até 5% as taxas de mortalidade no período analisado.

De acordo com o estudo, em Santiago, no Chile, ocorreram 136 mortes adicionais por ano em função do aquecimento global (44,3% do total de óbitos por calor, acima da média). Já em Nova York foram 141 (44,2%). Ao traçar um panorama global, a pesquisa identificou também que países mais pobres tendem a ser os mais afetados. Na América Latina, em países como Equador ou Colômbia, a porcentagem de mortes por calor atribuídas à crise climática chegou a 76%. Já no Sudeste Asiático países registraram taxas entre 48% e 61%.

Dann Mitchell, climatologista da Universidade de Bristol (Reino Unido) que assina um artigo comentado sobre o estudo na mesma revista, afirma que a pesquisa, além de preocupante, pode trazer resultados subestimados. Isso porque estudos em escala global requerem dados consistentes e localizados que ainda não estão disponíveis em muitas regiões do planeta, como por exemplo em países e cidades da África e Ásia. “Os países onde faltam os dados de saúde necessários são frequentemente os mais pobres e mais suscetíveis às mudanças climáticas”, alerta.

Para a principal autora do estudo, Ana Maria Vicedo-Cabrera, que é pesquisadora do Instituto de Medicina Preventiva e Social da Universidade de Berna, na Suíça, a pesquisa reforça que os impactos das mudanças climáticas não devem ser considerados um problema do futuro: “Seguimos pensando que esse é um problema que a próxima geração enfrentará, porém é algo que já estamos sentindo”, disse ao jornal The New York Times. Os dados do estudo foram extraídos de um cenário atual, em que o planeta já está 1°C mais quente do que na era pré-industrial. Se o mundo falhar em implementar o Acordo de Paris e as previsões de que os termômetros seguirão aumentando se confirmarem, as projeções futuras para a saúde de populações em todo o mundo serão catastróficas, alerta a especialista. (JAQUELINE SORDI)

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