Usina a carvão em Estocolmo (Foto: Petter Rudwall/Unsplash)

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Investimentos do setor energético afastam países de meta de Paris

Apenas em 2018 US$ 129 bilhões financiaram energia fóssil, mostram novos estudos

15.12.2020 - Atualizado 11.03.2024 às 08:29 |

DO OC – O crescimento global de investimentos em fontes energias limpas não será suficiente para conter o aquecimento global se não vier acompanhado de uma redução drástica no aporte em combustíveis fósseis e de iniciativas para descarbonizar os estoques de fontes de energia sujas existentes. A conclusão é de uma serie de estudos conduzidos pela Iniciativa de Políticas de Clima (Climate Policy Initiative, ou CPI) e divulgados na semana passada, às vésperas do aniversário de cinco anos do Acordo de Paris

As três pesquisas desenvolvidas pela organização apontam que nenhum grande país ou região importante está descarbonizando seu setor de energia no ritmo necessário para cumprir as metas firmadas. Em 12 de dezembro de 2015, quando adotou o acordo, o mundo se comprometeu a estabilizar o aquecimento global neste século abaixo de 2oC em relação à média pré-industrial, fazendo esforços para limitá-lo a 1,5oC.

O uso de energia é de longe a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa causadas por seres humanos: ele responde por 73% das emissões mundiais. Se a proporção de investimento do setor em fontes renováveis e em combustíveis fósseis seguir a tendência atual, indicam os estudos, o mundo se encaminha para atingir um aumento de 3,2ºC na temperatura até 2100, o dobro da meta de Paris.

“A transição de investimento em energias sujas para as renováveis está ocorrendo de forma muito lenta. A geração de energia por combustível fóssil não está diminuindo com rapidez suficiente para cumprirmos nossas metas climáticas. Precisamos de uma mudança de paradigma na maneira como investimos e produzimos energia”, explica o pesquisador Cooper Wetherbee, analista da Climate Policy Initiative.

De acordo com a avaliação da iniciativa, somente em 2018, 29% dos novos investimentos em energia foram direcionados às usinas de combustíveis fósseis, que tendem a continuar operando pelos próximos anos, emitindo gases-estufa pelas próximas décadas. Isso representa um financiamento recente de U$129 bilhões em um setor que deveria estar se encaminhando para o fim.

Para que os países consigam se manter nos limites de emissões de carbono até 2030 acordados em Paris, todos os novos investimentos em energia deveriam ser direcionados unicamente às fontes limpas, e o descomissionamento de usinas a combustível fóssil deve ocorrer em um ritmo acelerado. “Muitos países em todo o mundo estão atrasados ​​na descarbonização de suas usinas de geração de eletricidade. Como observamos no artigo, nenhum país ou região importante está atualmente no caminho para um setor de energia alinhado ao que foi acordado Paris”, explica.

A tendência atual é particularmente preocupante na Ásia e na América do Sul, onde países como Brasil, China, Índia e Japão seguem investindo em usinas com altas taxas de emissões de gases-estufa. O caso brasileiro chamou a atenção dos pesquisadores pois, mesmo com usinas hidrelétricas representando uma significativa parte da matriz energética nacional, o país ainda está desalinhado com as metas de mitigação globais. Segundo o mais recente relatório do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), em 2019 houve um aumento de 9,6% das emissões brutas de gases de efeito estufa no país, sendo que o desmatamento e a agropecuária foram os principais responsável por essa elevação. As emissões por energia responderam em 2019 por 19% do total, tendo um aumento discreto de 1,1% em relação ao ano anterior.

“Embora o Brasil não esteja recebendo uma grande quantidade de financiamento de combustíveis fósseis em comparação com outras grandes economias, há alguns novos investimentos no setor que estão tornando mais difícil reduzir as emissões. O país precisa se afastar dessa tendência e também focar na mitigação de outros setores, como transporte e agricultura”, alerta Wetherbee.

Além de traçar um panorama das emissões por países, o grupo de pesquisadores também avaliou a forma como grandes empresas estão agindo para mitigar os danos, e encontraram um cenário igualmente preocupante. Megacorporações direcionam apenas cerca de 43% de seus investimentos para ajudar a alcançar as metas regionais, enquanto bancos multilaterais de desenvolvimento destinam 28% a esse fim. Nos demais setores econômicos, essa taxa não ultrapassa os 20%.

Para honrar o Acordo de Paris, os estudos apontam que o grande desafio é encontrar soluções tantos para o setor público como para o privado visando resolver o quanto antes a questão das emissões já comprometidas, ou seja, os gases que ainda serão lançados na atmosfera nos próximos anos por causa da demanda atual. A pesquisa recomenda que líderes tomem medidas imediatas com base nesses novos relatórios, identificando soluções para interromper novos investimentos em carbono, acelerar o fechamento de usinas de combustíveis fósseis e expandir os investimentos em fontes de energia renovável, eficiência energética, captura e armazenamento de carbono, entre outros.

“A verdadeira mensagem deste relatório é para os bancos que financiam os maiores emissores do mundo. E a mensagem é esta: invista em energia limpa. Cada dólar que você aloca para empresas e projetos de alta emissão é um dólar que torna mais difícil prevenir as piores consequências das mudanças climáticas. O dano econômico de tempestades mais fortes, calor extremo, quebra de safra e outros eventos causados ​​pela mudança climática é um grande risco para os retornos financeiros de credores e proprietários de ativos, e os bancos devem levar mais explicitamente esse risco climático em consideração ao tomar decisões de financiamento”, conclui o pesquisador. (JAQUELINE SORDI)

 

 

 

 

 

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