O físico Luiz Pinguelli Rosa (Foto: Fabio Pozzebom/Agência Brasil)

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Morre aos 80 anos o físico Luiz Pinguelli Rosa

Pesquisador presidiu a Eletrobras e coordenou a produção do Plano Nacional sobre Mudança do Clima em 2008

03.03.2022 - Atualizado 11.03.2024 às 08:30 |

DO OC – Morreu nesta quinta-feira (3/3) aos 80 anos o físico e engenheiro nuclear Luiz Pinguelli Rosa, que estava internado no Rio em decorrência da Covid-19. Um dos principais especialistas em energia do país, ele presidiu a Eletrobras no início do governo Lula (2003-2004) e foi secretário-executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas (FBMC) de 2004 a 2016. Em seu mandato o Brasil criou o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, de 2008, base das políticas climáticas federais.

Pinguelli integrou o Painel do Clima das Nações Unidas (IPCC), a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e o Conselho Mundial da Conferência Pugwash, associação fundada por Albert Einstein e Bertrand Russell. Professor emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele dirigiu por quatro mandatos a Coppe, um dos principais centros de pesquisa em engenharia da América Latina, e criou o Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais na instituição.

Pinguelli começou sua carreira na área militar em 1962, mas abandonou o Exército cinco anos depois, quando tornou-se bacharel em física pela UFRJ. Em 1969, concluiu o mestrado em engenharia nuclear na UFRJ. Cinco anos depois, completou o doutorado em física pela PUC do Rio.

Em 1975, ele integrou a comissão especial da Sociedade Brasileira de Física (SBF) que elaborou um relatório sobre o processo de transferência de tecnologia previsto no Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, firmado em junho daquele ano. Quatro anos depois, em depoimento à comissão parlamentar de inquérito (CPI) do Senado sobre o Acordo Nuclear Brasil-Alemanha, criticou a concepção e a forma de execução do programa nuclear brasileiro, questionando, entre outros pontos, as projeções superestimadas de crescimento do mercado de energia elétrica do país e a subestimação da possibilidade de atendê-lo com fontes não nucleares, em especial a hidreletricidade; os custos das centrais nucleares previstas no acordo; a escolha da tecnologia de enriquecimento de urânio pelo processo de jato centrífugo e dos reatores com água leve pressurizada (PWR); e a possibilidade efetiva de transferência de tecnologia.

Na década de 1980, Pinguelli integrou comissão da SBF cujos estudos revelaram a construção de instalações militares na Serra do Cachimbo (PA) para a realização de testes com artefatos nucleares. O caso foi denunciado com grande repercussão em 1986 pela Folha de S. Paulo. Em 1990, o presidente Fernando Collor fechou o túnel feito pelos militares para os testes da eventual bomba brasileira.

A atuação de Pinguelli no primeiro governo Lula foi marcada por divergências com a então ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Apesar de ter coordenado o programa de governo de Lula na área energética, ele ficou apenas 16 meses no cargo de presidente da Eletrobras, cedendo espaço ao então PMDB para evitar a instalação de uma CPI no Congresso. Na ocasião, Pinguelli comentou, em reação a uma suposta declaração de Lula, que teria dito que gostava muito do físico, mas que ele não tinha votos no Senado: “Eu não tenho votos no Senado, mas tenho bastante na área acadêmica”. Em seguida, Pinguelli assumiu o FBMC, onde ficou por 12 anos. Em 2016, pediu demissão do cargo em solidariedade a Dilma, alegando considerar injusto o impeachment da presidente.

Hoje ex-presidente, em sua conta no Twitter, chamou o pesquisador de “um homem à frente do seu tempo, um visionário defensor da ciência e do país”.

A UFRJ declarou luto oficial de três dias e divulgou nota em que “lamenta profundamente a partida de Pinguelli, defensor nato da universidade brasileira e da difusão da ciência e da tecnologia”. “Seu compromisso com uma universidade de qualidade que transpira pesquisa deixará uma lacuna entre nós e um aprendizado permanente.”

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