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Brasil deve ousar mais em proposta para Paris, aponta pesquisa

Em pesquisa online, 97% acham que o Brasil precisa liderar negociações do acordo de Paris; falta de debate é apontada como entrave ao posicionamento do governo

20.06.2015 - Atualizado 11.03.2024 às 08:26 |

CÍNTYA FEITOSA (OC)

O Brasil precisa fazer mais do que tem feito para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. Este é o principal resultado de uma pesquisa de opinião online realizada pelo Observatório do Clima, com o apoio do Climate Reality Project e do GIP (Gestão de Interesse Público), entre abril e maio deste ano. A maior parte dos participantes da consulta, 56%, sinaliza que as ações de combate ao desmatamento são importantes, mas devem ser aprimoradas. Além disso, o Brasil precisa assumir compromissos de redução de emissões por setor, principalmente no energético e de agricultura.

Para 97% dos 274 respondentes da pesquisa, o Brasil deve liderar a negociação climática em Paris. De acordo com 27,5% dos entrevistados, a liderança se expressará por meio de uma INDC (Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida) ambiciosa, compatível com as recomendações do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas). Outros 27% defendem que o país precisa apresentar uma meta robusta independentemente da posição de outros países. As outras opções são assumir esforços mais expressivos em adaptação às mudanças do clima e divulgar a INDC o quanto antes.

No entanto, não há consenso sobre como traduzir a ambição do Brasil na causa climática. Uma matriz energética 100% renovável até 2050 é apontada por 27,1% dos participantes como uma meta ambiciosa. O desmatamento zero vem em segundo lugar, com 26,4% dos resultados. A proposta de desmatamento líquido zero é considerada ambiciosa  por 15% dos respondentes.

A proposta brasileira de estabelecer “círculos concêntricos” ainda é pouco conhecida entre os participantes da pesquisa: 59% deles afirmaram não conhecer a proposta, que estabelece responsabilidade de mitigação para todos os países, inclusive aqueles em desenvolvimento, mas criando responsabilidade diferenciada em relação ao nível de industrialização e às condições de cada país.

“Esta pesquisa é reveladora, pois demonstra que uma parcela importante da sociedade acredita que ter ações ambiciosas de redução de emissões de carbono é não só uma obrigação, mas principalmente uma oportunidade importante para o desenvolvimento brasileiro”, diz Ana Toni, do GIP. Para ela, o Brasil tem todas as condições de manter uma liderança no tema de mudanças climáticas, pois já fez isto no passado nas conferências do Rio de Janeiro, Copenhague e Durban. “A pergunta é se o governo está ouvindo estas vozes e vai traduzir este desejo em compromissos concretos, nacional e internacionalmente.”

Ausência de liderança

De acordo com esta pesquisa, o Brasil carece de líderes políticos na causa climática: mais da metade dos que responderam ao questionário afirma não reconhecer nenhuma liderança sobre o tema no Congresso Nacional. Sarney Filho (PV) foi citado por 15 dos participantes. A responsabilidade de decidir sobre a proposta brasileira, de acordo com 31% das respostas, é da presidência da República.

A ausência de debate público sobre o tema no Brasil foi apontada por 31% dos participantes como o principal fator de impacto sobre o posicionamento brasileiro na Conferência do Clima no final deste ano. Em segundo lugar, está o contexto político desfavorável.

A presidente Dilma Rousseff, no entanto, quase não se posiciona sobre o tema. Em abril, na Cúpula das Américas, a chefe de Estado brasileira declarou que a questão é prioritária, sem sinalizar internamente a adoção de políticas condizentes com a sua preocupação. Ainda neste mês, Dilma Rousseff fará visita oficial aos Estados Unidos, quando se espera que trate do tema com o presidente norte-americano, Barack Obama.

Veja o resultado completo da pesquisa

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