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Brasil perde oportunidade para mostrar engajamento real com futuras ações climáticas

Na Cúpula do Clima, a presidente Dilma Rousseff reafirmou o que o país fez e o que está fazendo, mas não falou nada sobre o futuro da luta contra as mudanças climáticas no Brasil.

07.01.2015 - Atualizado 11.03.2024 às 08:25 |

Na Cúpula do Clima, a presidente Dilma Rousseff reafirmou o que o país fez e o que está fazendo, mas não falou nada sobre o futuro da luta contra as mudanças climáticas no Brasil.

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Observatório do Clima, 23/09/2014

O Observatório do Clima lamenta que a presidente da República, Dilma Rousseff, tenha ido à Cúpula do Clima, em Nova York, para se omitir sobre os esforços futuros do Brasil para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) a partir de 2020. Em seu discurso, a presidente não demonstrou que o Brasil vai se comprometer com metas ambiciosas de redução no futuro.

A realização desse evento de alto nível, num momento tão importante no processo de negociação do novo acordo climático, nos dava a esperança de que os anúncios feitos pelos líderes globais demonstrassem o nível de compromisso desses países com o futuro da luta contra as mudanças do clima. Infelizmente, a presidente Dilma repetiu discursos antigos, dizendo o que o Brasil já fez – importante redução de emissões de desmatamento na Amazônia ao longo de 10 anos – e o que está fazendo atualmente, perdendo uma excelente oportunidade para o Brasil desempenhar efetivamente um papel de liderança nas negociações internacionais em clima.

Infelizmente, o cenário brasileiro não é tão otimista quanto a fala de Dilma. Depois de uma década de queda consistente no desmatamento da Amazônia – o que resultou numa diminuição considerável das emissões nacionais neste período -, a devastação da floresta cresceu 29% entre 2012 e 2013, e a tendência é que esse crescimento persista entre 2013 e 2014. Além disso, as emissões em setores estratégicos, como energia, transportes, processos industriais, agropecuária e resíduos sólidos, estão crescendo consistentemente nos últimos anos, o que comprometerá esforços futuros de redução das emissões no Brasil.

Além disso, o governo federal reduziu o investimento em fontes renováveis de energia; hoje, 70% dos recursos investidos em energia no país são destinados para combustíveis fósseis. Na corrida pelo desenvolvimento de tecnologias de energia limpa, estamos ficando atrás da Europa, dos Estados Unidos e da China.

A realidade é essa: as emissões estão crescendo em todos os setores, fazendo do Brasil o 7º maior emissor mundial. Segundo estudo publicado recentemente na IOP Science, o Brasil já é o 4º maior responsável pelo aquecimento global, atrás apenas de Estados Unidos, China e Rússia. Apesar de dizer que para o Brasil o novo acordo climático precisa ser universal, ambicioso e legalmente vinculante, Dilma Rousseff sai da Cúpula olhando para o retrovisor e perdendo a oportunidade de olhar estrategicamente para a realidade e para o futuro que se avizinha. E, ao final, ainda deixou, em seu discurso, alguma dúvida no ar: enquanto defende que o Brasil é um caso de sucesso na busca pelo desenvolvimento aliado à ação climática, sua fala cria, ao final, a sensação de que, ao priorizar o desenvolvimento e melhoria de qualidade de vida das pessoas, esta prioridade seria superior à ação climática. Está mais do que claro que o maior risco ao desenvolvimento é a falta de ação. E isto é um desafio de todos, em especial dos grandes emissores de gases de efeito estufa, como o Brasil Definitivamente, a Presidente Dilma não atendeu à nossa expectativa.

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