Trabalhadores limpam neve em Toledo, Espanha, após tempestade Filomena (Foto: D. Esteban González/JCCM/Wikimedia Commons)

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Crise do clima bate 4 de 7 recordes em 2021

Documento anual da Organização Meteorológica Mundial mostra que planeta alcançou valores sem precedentes em concentração de CO2, nível do mar, teor de calor e acidificação do oceano

18.05.2022 - Atualizado 11.03.2024 às 08:30 |

DO OC – “Nosso clima está mudando diante de nossos olhos”, alertou o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial das Nações Unidas (OMM), Petteri Taalas, nesta quarta-feira (18) ao divulgar os preocupantes resultados do relatório anual sobre o estado do clima global, o State of the Global Climate in 2021. De acordo com o documento, as concentrações de gases do efeito estufa, o aumento do nível do mar, o conteúdo de calor dos oceanos e a acidificação dos oceanos – quatro dos sete principais indicadores das mudanças climáticas – “registraram valores sem precedentes” no último ano.

Como o oceano assimila grande parte do impacto das ações humanas sobre o planeta, absorvendo cerca de 90% do calor acumulado da Terra, as mudanças registradas nos corpos d´água apontadas no relatório ganharam destaque. O documento indica que o

oceano aqueceu muito mais rápido nos últimos 20 anos e em maiores profundidades (mais de 2.000 metros), atingindo um novo recorde em 2021, e com tendência a seguir aquecendo nos próximos anos. De acordo com a OMM, essas mudanças podem levar séculos ou até milênios para serem revertidas.

O oceano também está mais ácido do que nos últimos 26 mil anos, já que é responsável por absorver cerca de 23% das emissões anuais de CO2 emitido por atividades humanas. Essa acidificação ameaça ecossistemas marinhos e zonas costeiras, e também reduz a capacidade do oceano de servir de “esponja” para os gases de efeito estufa.

O relatório indicou ainda que o nível do mar subiu 4,5 centímetros, sendo o aumento anual de 2013 a 2021 mais que o dobro do que foi de 1993 a 2002. Isso ocorreu principalmente devido ao derretimento acelerado das geleiras e mantos de gelo, o que coloca em risco os habitantes de zonas costeiras. O documento destaca que a Groenlândia experimentou um degelo excepcional em meados de agosto de 2021, e teve a primeira chuva registrada na Estação Summit, o ponto mais alto do manto de gelo, que fica a uma altitude de 3.216 metros.

Em relação à atmosfera, apesar de dois anos seguidos de restrições por causa da pandemia de Covid-19, as emissões de gases de efeito estufa continuaram a subir e são superiores ao recorde de 2020, quando a concentração de CO2 alcançou a marca de 413.2 ppm (partes por milhão) globalmente, algo em torno de 149% acima dos níveis pré-industriais.

“O aumento da concentração atmosférica em CO2 de 2019 a 2020 foi ligeiramente inferior ao observado entre 2018 e 2019, mas superior à média anual da última década. Isso ocorreu apesar de uma diminuição nas emissões de CO2 a partir de combustíveis fóssil de aproximadamente 5,6% em 2020 devido a restrições relacionados à pandemia de COVID-19”, diz o relatório. O documento explica que dados coletados em localizações específicas do planeta ao longo dos últimos meses indicaram que 2021 e o início de 2022 já estão acima deste último recorde.

A OMM confirmou que os últimos sete anos foram os mais quentes já registrados, e que 2021 só não bateu recorde porque esteve sob efeito do La Niña, que causou um resfriamento temporário no planeta. Apesar disso, a temperatura média global foi cerca de 1,1°C acima do nível pré-industrial. O documento também listou uma série de eventos extremos registrados no último ano, como ondas de calor, incêndios florestais, inundações e outros desastres relacionados ao clima que somaram mais de US$ 100 bilhões em danos.

Em entrevista coletiva após o lançamento do relatório, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que a guerra na Ucrânia está servindo como um alerta para o mundo abandonar os combustíveis fósseis. “O sistema global de energia está quebrado e estamos nos aproximando cada vez mais da catástrofe climática. Os combustíveis fósseis são um beco sem saída – ambiental e economicamente”, disse. “A guerra na Ucrânia e seus efeitos imediatos sobre os preços da energia são mais um alerta. O único futuro sustentável é o renovável”, complementou.

Guterres também propôs um plano para acelerar a transição global para energias renováveis destacando cinco pontos, entre eles tornar as tecnologias de energia renovável, como armazenamento de baterias, “essenciais e disponíveis gratuitamente”, acabar com os subsídios dos combustíveis fósseis e que os investimentos privados e públicos em energia renovável tripliquem para pelo menos US$ 4 trilhões por ano.

O documento divulgado nesta quarta-feira pela OMM complementa o último relatório do IPCC, que incluía dados até 2019. Ele será usado como um dos documentos oficiais para as negociações da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP27, que ocorrerá no Egito em novembro deste ano.[:][:]

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