O climatologista Hans-Joachin "John" Schellnhuber (esq.) fala durante painel em Katowice (Foto: Divulgação)

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“Loucos como Trump e Bolsonaro tiram minha esperança”, diz diretor de instituto alemão

Climatólogo John Schellnhuber diz que “com certeza” humanidade não conseguirá cumprir a meta de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5ºC

13.12.2018 - Atualizado 11.03.2024 às 08:28 |

DO OC, EM KATOWICE – O climatologista alemão Hans-Joachin “John” Schellnhuber atribuiu a “loucos como Trump e Bolsonaro” parte da razão para não acreditar mais que o mundo possa cumprir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a 1,5oC.

Um dos cientistas climáticos mais conhecidos do mundo, Schellnhuber, 68, é diretor-emérito do Instituto de Pesquisa de Impactos Climáticos de Potsdam, o PIK. Foi pioneiro no estudo dos chamados “pontos de virada” do clima, nome dado a respostas do planeta ao aquecimento global que podem ser induzidas por elevações baixas de temperatura e causar transformações graves – como a morte em massa de corais e a perda da Amazônia.

Falando em tom francamente pessimista na última quarta-feira em Katowice, Polônia, num evento paralelo à COP24, o cientista disse que “nós vamos perder a meta, com certeza”, e que as ações que para evitar que o aquecimento da Terra ultrapasse 1,5oC precisariam ter sido adotadas 30 anos atrás. “Quero dizer, 1,5oC é maravilhoso, 1oC seria ainda melhor, mas infelizmente não se trata aqui de uma lista de desejos.”

Trata-se de uma mudança de posição do cientista em relação a 2015. Na noite anterior à aprovação do Acordo de Paris, quando ficou claro que o documento faria menção a limitar o aquecimento global a 1,5oC, John Schellnhuber, como é conhecido, participou de um evento no qual defendeu que a meta era “ainda compatível com a ciência”. Questionado pelo OC sobre o que o fez mudar de ideia, respondeu que era uma combinação de três fatores: novos dados científicos sobre o aquecimento com o qual o planeta já está comprometido, a total falta de ação política dentro das conferências do clima e o mundo exterior.

“Quando malucos como Trump e Bolsonaro são eleitos, minha esperança se esvai rapidamente”, disse.

Segundo ele, existem evidências de que pontos de virada no clima já estão acontecendo. Um exemplo é o derretimento de geleiras do oeste da Antártida, que sozinhas são capazes de elevar os oceanos em mais de 3 metros. Há evidências de que algumas dessas geleiras já entraram num colapso autossustentado, e nem se parássemos de emitir carbono hoje esse fenômeno seria revertido.

Outro ponto de virada são as mudanças na corrente de jato, os ventos de altitude que ditam os padrões do tempo no hemisfério Norte. A estabilidade desses ventos depende da diferença de temperatura entre o Ártico e as latitudes mais baixas. Como o Ártico esquenta duas vezes mais depressa que o resto do planeta, essa diferença está diminuindo rapidamente, resultando em mudanças de ventos que causam incêndios na Rússia, enchentes no Paquistão e nevascas anormais na Europa e nos EUA.

“Trabalho nisso há 30 anos e nunca estive tão preocupado”, afirmou o cientista.

O pesquisador alemão foi precedido dos britânicos Richard Betts, da Universidade de Exeter, e Katy Richardson, do Met Office (a agência de meteorologia do Reino Unido). Os dois mostraram resultados de um novo estudo sobre impactos do aquecimento global que usaram novos modelos climáticos, muito mais refinados do que os utilizados pelo IPCC (o painel do clima da ONU) em seu relatório de 2013.

Os dados apresentados por Betts mostram que, com um aquecimento global de 4oC – que é a tendência atual caso os países deixem de implementar o Acordo de Paris, como o Brasil e os EUA ameaçam fazer –, toda a zona tropical do planeta sofrerá estresse térmico extremo no mês mais quente do ano. Ou seja, só será possível viver na maior parte do Brasil nessas épocas em ambientes com ar-condicionado 24 horas por dia. Com 2oC de aquecimento, um objetivo já bastante otimista, 43 milhões de pessoas a mais estarão expostas a enchentes.

Também com 4oC, 30 países, a maioria na África, teriam sua exposição à fome mais do que duplicada em relação a hoje. “O aumento da vulnerabilidade é maior do que em qualquer época histórica”, disse Richardson.

Para Schellnhuber, é preciso fazer o possível para implementar o que for possível do Acordo de Paris e tentar evitar os piores efeitos. “Perdemos a oportunidade de manter o planeta como ele é 30 anos atrás. O que buscamos com o Acordo de Paris é uma barreira contra o caos climático.” (CLAUDIO ANGELO)

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