Display da sorveteria Ben&Jerry's em Bonn; marca lançou sorvete "sabor mudança climática" (foto: Claudio Angelo/OC)

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Metas de Paris põem mundo no rumo de aquecer 3 graus, diz estudo

Nova análise conclui que, com compromissos de redução de emissões para 2030, manter aquecimento no limite de 1,5 grau é impossível e alvo de 2 graus Celsius fica caro demais

03.09.2015 - Atualizado 11.03.2024 às 08:26 |

CLAUDIO ANGELO
(DO OC, EM BONN)

Uma nova análise dos planos climáticos submetidos pelos países para a conferência de Paris confirma que o mundo está no rumo dos 3oC de aquecimento neste século caso não haja uma séria escalada na ambição das metas propostas para 2030.

Segundo afirmou nesta quarta-feira o Climate Action Tracker, um grupo que reúne pesquisadores de quatro instituições europeias, as INDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas) apresentadas por 29 governos até agora, que cobrem cerca de 65% das emissões do mundo, ainda deixam o planeta em 2030 com 17 bilhões a 21 bilhões de toneladas de gás carbônico a mais do que seria necessário para evitar que o aquecimento global atinja o limite de 2oC.

Essa temperatura foi acordada na conferência de Copenhague, em 2009, como o limiar máximo em relação à era pré-industrial para evitar os piores impactos da mudança do clima, como o aumento potencialmente catastrófico do nível do mar – embora vários estudos tenham apontado desde então que mesmo esse grau de aquecimento é perigoso demais.

Das INDCs apresentadas até aqui, apenas duas – as da Etiópia e do Marrocos – são consistentes com um aquecimento menor do que 2oC. Todas as outras foram qualificadas como “inadequadas” ou “médias”.

A avaliação do Climate Action Tracker confirma o estudo apresentado na semana passada pelo Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas) sobre a insuficiência das INDCs. Segundo o Idesam, as propostas apresentadas até aqui excedem em 3,6 bilhões de toneladas o teto de emissões neste século compatível com os 2oC. Se incluídas as metas chinesas, o buraco de ambição chegaria a 31 bilhões de toneladas.

Ambos usaram metodologias diferentes: o Idesam calculou o déficit considerando a média de emissões anuais permitidas neste século pelo orçamento de carbono disponível segundo os cientistas (1 trilhão de toneladas de CO2). O Climate Action Tracker procurou olhar especificamente para os anos de 2025 e 2030.

O estudo divulgado em Bonn aponta que estabelecer metas capazes de segurar o aquecimento da Terra em 1,5oC, como desejam alguns países, já não é mais possível. Limitar o aquecimento a 2oC com metas para o ano de 2030 será, na melhor das hipóteses, caro demais.

Segundo Bill Hare, pesquisador da Climate Analytics e um dos responsáveis pelo Climate Action Tracker, a única saída para o impasse é adiantar o prazo das metas e propor compromissos de mais curto prazo.

“Está claro que, se o acordo de Paris travar os compromissos atuais no ano de 2030, segurar o aquecimento em 2oC poderia tornar-se basicamente impraticável e, em 1,5oC, fora de alcance. Dado o nível de ação climática na mesa, metas só deveriam ser adotadas até 2025”, disse Hare, em comunicado.

O grupo também sugere que os países que já colocaram suas metas na mesa aumentem significativamente sua ambição até Paris, e os que ainda não o fizeram – entre eles o Brasil e a Índia – apresentem metas muito elevadas.

O alemão Arthur Runge-Metzger, negociador da União Europeia, diz que não há a menor chance de uma revisão prévia das INDCs. “Havia essa proposta no ano passado, na conferência de Lima, mas ela foi jogada fora”, afirmou ao OC. Os ciclos de compromisso de cinco anos vêm sendo defendidos pela UE e por outros países, como o Brasil. “Mas tudo só será decidido em Paris.”

Veja o Ambiciômetro, ferramenta criada pelo Idesam para visualizar as metas dos países.

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