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“Não haverá garimpo em terra indígena no nosso país”, diz Lula

Na véspera do Dia Mundial do Meio Ambiente, pré-candidato do PT recebe ambientalistas e pede que sociedade “morda o calcanhar” do governo

04.06.2022 - Atualizado 11.03.2024 às 08:30 |

DO OC – Na sua fala mais enfática sobre a questão socioambiental desde o início da pré-campanha ao Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que “a gente tem que ter coragem de dizer não haverá garimpo em terra indígena no nosso país” e que áreas protegidas “terão de ser respeitadas”. Lula recebeu ambientalistas este sábado (4) em São Paulo, na véspera do Dia Mundial do Meio Ambiente.

O pré-candidato do PT, que lidera nas intenções de voto para a presidência, estava acompanhado do vice na chapa, Geraldo Alckmin (PSB), de auxiliares próximos como o ex-ministro Aloizio Mercadante (PT-SP), e de parlamentares do PT e de outros partidos aliados identificados com a temática ambiental, como Nilto Tatto (PT-SP), Alessandro Molon (PSB-RJ) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP).

O encontro foi organizado de última hora num hotel da capital paulista para marcar a posição da campanha petista sobre o tema, diferenciando-se do atual presidente, cujo regime é abertamente antiambiental e anti-indígena.

Lula falou no encerramento da reunião. Ecoando falas de ambientalistas e cientistas durante o evento, criticou duramente o desmonte socioambiental promovido por Jair Bolsonaro, afirmou que meio ambiente terá de ser transformado “numa política de Estado de verdade e que, caso eleito, as instituições ambientais voltarão a funcionar e o Brasil vai restabelecer sua relação com o mundo.

“Foi um trabalho imenso demarcar as terras indígenas, as áreas de proteção ambiental. Desmontaram. Precisamos, daqui para a frente, fazer mais e melhor. Primeiro teremos que fazer um trabalho para restituir tudo que já tivemos. O Conama vai ter que voltar a funcionar, Ibama, ICMBio, todos terão que voltar a funcionar”, disse Lula.

“Estamos brigando contra uma parcela da sociedade organizada de forma miliciana. Enfrentar garimpeiro é uma coisa complicada porque a febre do ouro é algo que faz o cidadão fazer qualquer coisa para achar sua pepita. O Estado terá que estar presente. O Estado terá que dizer que não pode, não é o indígena. O Estado precisa assumir responsabilidade”, prosseguiu.

O ex-presidente também fez um aceno à sociedade civil, pedindo que cobre do governo ações nessa área. “Político precisa ter sempre o povo mordendo o calcanhar. Se vocês derem moleza, a gente pensa que está tudo bom. Um grito, às vezes, acorda a gente. Por isso, peço que vocês sempre sigam me cobrando.”

Antes de Lula, Alckmin elogiou a redução do desmatamento realizada durante os governos dos ex-adversários petistas e também celebrou a sociedade civil: “A melhor maneira de comemorar o dia mundial do meio ambiente é fazendo o que nós estamos fazendo aqui: trazendo propostas. Um bom programa de um governo democrático nasce assim, ouvindo e dialogando com sociedade civil, universidade, setor produtivo. Não é fazendo motociata nem andando de jet ski”.

O candidato a vice, que fez cara de paisagem quando Lula disse que não sabia “de onde saiu esse tal Ricardo Salles” (o ex-ministro foi assessor direto e secretário de Meio Ambiente do ex-tucano), também falou sobre as causas da devastação da floresta, apontando que “organizações poderosas” grilam e desmatam na “expectativa de que haja titulação, em seguida e eles vendem as terras. Falta de fiscalização e expectativa de legalizar”.

Antes a dupla ouviu ambientalistas como Adriana Ramos, do Instituto Socioambiental, e Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, além de representantes da academia e de movimentos sociais.

O climatologista Carlos Nobre destacou a mudança de rumo que o país tomou ao longo dos últimos anos nas políticas ambientais.

“Se formos olhar o Brasil de dez anos atrás, eu jamais poderia prever que deixaríamos de ser um grande protagonista ambiental. Há dez anos éramos o país do mundo com a maior redução da emissão dos gases de efeito estufa, foi quando tivemos o mínimo de desmatamento da serie histórica desde a década de 1970 na Amazônia e, também, uma diminuição grande do desmatamento no Cerrado”, disse. “Infelizmente, hoje estamos vivendo o oposto dessa trajetória.

Astrini entregou a Lula e Alckmin cópias do primeiro volume da estratégia Brasil 2045, do OC, que contém ações emergenciais para desfazer as “boiadas” de Bolsonaro nos dois primeiros anos de governo. Na última quinta-feira, o documento também havia sido entregue em mãos à campanha de Ciro Gomes.

“Não existe um ambiente mais favorável no país para o criminoso ambiental do que o proporcionado pelo atual governo. É um governo que se associou ao crime ambiental, que é parceiro do crime ambiental no Brasil. E os números que temos são apenas reflexo disso”, afirmou Astrini. E citou como primeira prioridade de um novo governo na área socioambiental a questão indígena.

“Hoje no Brasil essa é uma questão de genocídio, estão matando os indígenas no Brasil. A gente vê, infelizmente, notícias diárias de indígenas ameaçados de morte, sendo mortos. Estão invadindo as áreas dessas pessoas. A gente sabe onde estão invadindo, quem está invadindo, e nada acontece”, complementou. No final de sua fala, o secretário-executivo do OC fez uma sugestão “em caráter particular” a Lula: que, como primeiro ato de seu eventual governo, desarquivasse a multa que Jair Bolsonaro levou em 2012 por pesca ilegal dentro de uma unidade de conservação em Angra dos Reis. Sorrindo, Lula anotou a sugestão.[:][:][:][:][:]

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