Por Karl Mathiesen, de Bonn, do Climate Home

Os representantes dos países que participam da Convenção do Clima em Bonn estão indignados e exigiram que a convenção climática da ONU continue a financiar o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), principal autoridade do mundo sobre a ciência do clima.

Um projeto de orçamento de 2018-19 da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) propõe eliminar o financiamento do IPCC, pedindo aos países para que apoiem diretamente com pagamentos voluntários.

De acordo com fontes presentes na discussão do orçamento na quarta-feira (10) à noite, a ideia é modificar a natureza dos recursos do IPCC, até agora mantido pelo orçamento da UNFCCC, com recursos de contribuições obrigatórias dos países membros. A proposta é que o IPCC seja mantido por doações individuais e voluntárias.

Raramente tão unidos nestas conversas, a maioria dos representantes rejeitou a proposta do secretariado de forma uníssona. “As partes são o órgão supremo da convenção, eles são o secretariado”, disse Bernarditas Muller, conselheira de clima para o governo das Filipinas, do Grupo dos 77 e do bloco de negociação da China.

Um diplomata alemão disse ao Climate Home: “Nós deixamos muito claro que duas instituições tão intimamente ligadas, como a UNFCCC e o IPCC, tem de agir juntas, seria um sinal muito ruim se as contribuições da Convenção não continuassem”.

A UNFCCC enviou US$ 243.245 ao IPCC em 2016 e entre US$ 250.000 e US$ 300.000 tinham sido reservados para o próximo orçamento, de acordo com a porta-voz da UNFCCC Nicholas Nuttall. Perguntado se tinha havido uma força-tarefa de países para barrar esta questão, Nuttall disse que não. “É sim um grande interesse de todos em entender e garantir o orçamento atual”, disse.

“O Secretariado da UNFCCC têm debatido abertamente as discussões sobre orçamento com todos os países envolvidos e esperamos chegar a um bom resultado no final das sessões de maio”, acrescentou Nuttall.

O IPCC tem lutado para garantir seu orçamento nos últimos anos. Em 2016, reuniu US$ 4,3 milhões de países doadores e de vários órgãos das Nações Unidas, incluindo a UNFCCC. Em 2013, o grupo recolheu mais de US$ 7 milhões.

Muller disse que a ciência do IPCC, que realiza revisões periódicas e abrangentes de ciência do clima global formam a base da convenção. “O IPCC é um órgão independente, não está sob nosso controle. Mas nos fornece uma valiosa análise científica. Eles são os únicos, na verdade, que colocam a questão climática na agenda política dos Estados. E só assim para obtermos decisões importantes para resolver o problema”, disse.

O IPCC e UNFCCC são duas organizações passíveis de corte orçamentário pelo presidente Donald Trump. Os Estados Unidos são o maior financiador único do processo climático da ONU. No seu projeto de orçamento original, a UNFCCC assumiria os gastos e os EUA continuariam a contribuir.