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Observatório do Clima discute estratégia de atuação conjunta para os próximos anos

Oficina estratégica em SP reuniu representantes das organizações da sociedade civil que fazem parte do OC para refletir sobre os desafios e as possibilidades de atuação coletiva até 2016

07.01.2015 - Atualizado 11.03.2024 às 08:25 |

Oficina estratégica em SP reuniu representantes das organizações da sociedade civil que fazem parte do OC para refletir sobre os desafios e as possibilidades de atuação coletiva até 2016. Além dos membros, a oficina também contou com a presença das organizações observadoras do OC e do professor Ricardo Abramovay.

OC, 29/05/2014
Bruno Toledo

Oficina estratégica do Observatório do Clima (15/05/2014)O ano de 2014 abre uma temporada importantíssima para o destino da humanidade no planeta. Além da discussão no âmbito das Nações Unidas sobre os resultados dos Objetivos do Milênio e a construção de Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para as décadas que se seguirão, nos próximos anos acontecerão as Conferências das Partes da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, fundamentais para a construção de uma resposta internacional viável e efetiva para enfrentar o desafio das alterações do clima causadas pela ação humana. No Brasil, este ano também é bastante particular, pois inicia um ciclo importante de grandes eventos internacionais no país em meio a manifestações sociais frequentes, e nos traz mais uma eleição presidencial, possivelmente a disputa eleitoral mais acirrada desde 2002.

Para dialogar com esse cenário de transformação, o Observatório do Clima promoveu nos dias 15 e 16 de maio uma oficina estratégica que reuniu representantes das organizações membro para pensar em como atuar conjuntamente em prol da construção de um novo modelo de desenvolvimento pautado na baixa emissão de gases de efeito estufa, na capacidade adaptativa às mudanças climáticas e em práticas sustentáveis e na inclusão social.

“Além de mapear os principais marcos no caminho até 2016, as organizações da sociedade civil que fazem parte do OC refletiram também sobre as estratégias de atuação em temas considerados prioritários para a agenda das mudanças climáticas no Brasil”, resumiu Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima.

A oficina contou ainda com a participação de organizações observadoras do OC, como a 350.org, o World Resources Institute (WRI) e o Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da FGV-EAESP. “Um diferencial do encontro anual desse ano foi a participação de convidados externos, que trouxeram a visão de outros setores da sociedade, dos governos e da academia para ajudar a desenhar a estratégia de atuação do OC nos próximos anos”, ressaltou André Ferretti, coordenador geral do Observatório do Clima.

Horizonte em rede

Oficina estratégica do Observatório do Clima (16/05/2014)Para pensar no futuro, o encontro do OC também trouxe Ricardo Abramovay, professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) e do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Universidade de São Paulo. Ele defendeu que a América Latina, especialmente o Brasil, se engaje fortemente no que ele chama de “revolução digital”. 

“Muitas pessoas que trabalham com desenvolvimento sustentável na perspectiva das ciências sociais consideram que essa revolução é apenas mais uma fase do desenvolvimento tecnológico que vivemos desde a Revolução Industrial”, afirma Abramovay. Mas para ele, essa revolução vai além do avanço tecnológico e tem o potencial de transformar profundamente os modelos de desenvolvimento e de organização social para as próximas décadas, permeados pela lógica das estruturas e dinâmicas em rede. Para ilustrar os desafios e oportunidades dessa nova conformação, Ricardo Abramovay destaca o exemplo do potencial transformador associado à geração de energia elétrica.

“Nos últimos 20 anos, a potência da energia solar dobrou a cada dois anos”, comemora Ricardo Abramovay. “Se continuarmos nesse ritmo nos próximos 16 anos, a geração de energia elétrica seria tanta que cobriria toda a necessidade global”. Num contexto de redução de custos e de emissões de gases de efeito estufa, a energia solar pode se destacar como uma forma barata e descentralizada de produção de eletricidade – mas isso trará um impacto profundo para as companhias elétricas tradicionais. “A produção doméstica de energia elétrica pode reduzir drasticamente os custos da eletricidade, o que obviamente vai colocar as companhias elétricas numa situação problemática – elas poderão perder até 50% da sua renda”.

Ricardo Abramovay (USP), durante oficina estratégica do Observatório do Clima (16/05/2014)Nesse cenário, a revolução digital permitirá o desenvolvimento de um novo modelo de produção energética, mais barato e descentralizado, o que diluirá o papel atual da energia elétrica como fator de poder. “Se esses sistemas energéticos podem ser descentralizados, se existem meios técnicos que nos oferecem essa perspectiva, acho que a consequência disso será uma mudança no foco da nossa atuação em clima”, argumenta Abramovay. “Estamos falando de um mundo de produção descentralizada, mais barato, que pode solapar o sistema centralizado da exploração de hidrelétricas e termelétricas caríssimas”.

No entanto, o aproveitamento desse potencial depende diretamente das políticas públicas, particularmente na América Latina. “Corremos o risco de que esse processo nos conduza a um abismo entre as sociedades que vão conseguir dar o salto em direção à energia descentralizada, em que ela deixa de ser um fator de poder, e sociedades que vão continuar aproveitando o padrão centralizado”, alerta o professor.

Daí, a importância dos países latino americanos se posicionarem como protagonistas dessa revolução descentralizadora. “A insegurança hídrica e energética não é apenas resultado da competência ou incompetência dos gestores públicos”, pondera Abramovay. “Vivemos sob uma concepção segundo a qual os modelos centralizados são mais eficientes que os descentralizados, o que não é verdadeiro, e isso vem orientando nosso progresso material e a organização social”.

Essas e outras provocações do professor Ricardo Abramovay foram um estímulo adicional às conversas do Observatório do Clima, que em breve dará início a seu novo plano de ação para os próximos anos, dialogando com os marcos nacionais e internacionais da agenda das mudanças climáticas na perspectiva da sociedade em rede.

Fotos: Felipe Frezza (GVces)

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