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Perdidos na transição energética

Relatório da Carbon Tracker Initiative acusa indústria dos combustíveis fósseis de enganar investidores ao apontar cenários de crescimento que desconsideram o avanço de renováveis

22.10.2015 - Atualizado 11.03.2024 às 08:27 |

CÍNTYA FEITOSA (OC)

O mercado de combustíveis fósseis está em negação sobre a queda de demanda futura e iludindo seus investidores. Uma análise da Carbon Tracker Initiative questiona os cenários promovidos por grandes empresas de energia, que calculam que o uso de fósseis continuará a crescer nas próximas décadas – sem considerar o barateamento das fontes renováveis, a inclinação à descarbonização de muitos países e o alto investimento em outras tecnologias de armazenamento de energia e eficiência energética.

Alguns cálculos da indústria do carvão, petróleo e gás apontam crescimento de 30% a 50% no setor, chegando a 75% da matriz energética em 2040. De acordo com o relatório, tem ocorrido justamente o contrário: uma queda na demanda por energia de fontes fósseis. Por exemplo, a demanda por carvão na China caiu 2,9% em 2014 e 5% no primeiro semestre de 2015. No entanto, as empresas de carvão tendem a citar cenários que apontam crescimento anual de 1,3% na demanda chinesa até 2040.

Na ausência de demanda na China, os produtores estão se voltando para a Índia. Porém, em outubro de 2015, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi anunciou a meta de 175GW de capacidade de energia renovável até 2022 – cerca de 160GW devem ser de capacidade solar e eólica.

Ou seja, o setor está apostando no business-as-usual, um cenário em que nada é feito para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e introduzir novas fontes. “Os investidores precisam desafiar as empresas que estão ignorando a destruição da demanda muito mais cedo do que o cenário business-as-usual”, diz o chefe do estudo, James Leaton. “Caso contrário, vão estar no lado errado da revolução energética.”

De acordo com os cenários avaliados pelo relatório, as empresas esperam que a demanda por petróleo cresça entre 0,4% e 0,8% ao ano até 2040, principalmente pelo setor de transporte, sem considerar os regulamentos de eficiência de carros de motor por combustão. Além disso, os cenários da indústria petrolífera consideram um crescimento insignificante do setor de veículos elétricos (EVs) em 2040, mas de acordo com previsões alternativas, esses automóveis podem ser competitivos já em 2025.

As projeções da indústria dos fósseis também apostam no aumento populacional – prevê 9 bilhões em 2040, enquanto as Nações Unidas calculam que este número será alcançado em 2050 – e incha as previsões de produto interno bruto global, apostando no crescimento de 3,4% para 2040, enquanto a OCDE prevê 3,1%.

Os autores do estudo afirmam que a indústria depende dos cenários positivos sobre aumento da demanda para justificar novos investimentos de alto custo para os acionistas—e apostam no cenário conservador em suas expectativas para o crescimento das energias renováveis. “Vimos nas últimas semanas como o setor de combustíveis fósseis tem enganado os consumidores e os investidores sobre as emissões e deliberadamente agiu contra a ciência do clima”, diz Leaton, citando os escândalos envolvendo Volkswagen e Exxon.

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