President Donald Trump meets with German Chancellor Angela Merkel in the Oval Office, Friday, March 17, 2017. (Official White House Photo by Shealah Craighead)

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Alemanha enfraquece declaração do G20 para agradar a Trump

Último esboço do documento preparado para a reunião de Hamburgo esta semana deve incluir grandes concessões aos EUA e abrir as portas para que projetos baseados em carvão sejam considerados iniciativas "limpas"

03.07.2017 - Atualizado 11.03.2024 às 08:28 |

DO CLIMATE HOME, EM BRUXELAS – Num apelo ao presidente norte-americano Donald Trump, a presidência alemã do G20 enfraqueceu dramaticamente o texto da declaração oficial do bloco sobre mudança climática, ao adotar uma linguagem que coloca até mesmo a energia poluente do carvão como “tecnologia limpa”.

O plano de ação climática será tema de destaque na reunião do G20 em Hamburgo esta semana. O Climate Home teve acesso a duas versões do plano, redigidas em março e maio deste ano. Na última versão, há uma clara submissão aos anseios da Casa Branca e vários elementos foram retirados do último texto, como os destacados a seguir:

– Prazo até 2025 para o fim dos subsídios de combustíveis fósseis.

– Referências ao risco de “ativos encalhados”.

– Apelo para “o alinhamento da despesa pública e planejamento da infraestrutura com os objetivos do Acordo de Paris”.

– Apoio para o mercado do carbono.

– Compromisso de publicar até o próximo ano planos de descarbonização para o meio do século.

– Promessa de desenvolver um plano climático “profundo” para bancos multilaterais de desenvolvimento.

– Sete referências à revisão da ONU de 2018 para as contribuições nacionais.

– 11 referências sobre a emissão zero de 2050.

– 16 menções sobre descarbonização de infraestrutura.

“Os EUA enfraqueceram maciçamente o plano de ação, especialmente na parte energética”, disse uma fonte, que tem acompanhado as negociações. “Eles pressionaram para que fossem incluídas referências aos chamados combustíveis fósseis ‘limpos’ e tornaram menos explícito o fato de que a transição energética deva ser construída sobre os pilares da eficiência energética e de renováveis”.

Trump também teve o apoio dos sauditas e da Rússia, membros do G20, na tentativa de minimizar alguns termos do documento, incluindo a promessa de eliminar gradualmente os subsídios aos combustíveis fósseis. Diplomatas tentarão amarrar os compromisso antes da reunião de cúpula nesta sexta-feira. Fontes do governo alemão ainda não sabem se o texto atual será mantido ou modificado.

Desde que o documento foi redigido, o cenário político mudou bastante. Representantes dos EUA acham que os alemães podem estar menos flexíveis agora, após oanúncio da saída de Trump do Acordo de Paris. Como se sabe, o discurso de Trump foi fortemente criticado pela chanceler alemã, Angela Merkel. Espera-se, portanto, um clima de tensão entre ambos. Merkel chegou a dizer que a decisão de Trump de retirar-se do acordo de Paris a tornou “mais determinada do que nunca” na missão de tornar o G20 um sucesso.

“Estou certa de que os cidadãos do mundo procurarão uma mensagem contundente dos líderes do G20”, disse Laurence Tubiana, diretora executiva da Fundação Europeia do Clima, embaixadora do clima da França na época das negociações climáticas de Paris. “Os países do G20 e todos os governos além deles devem permanecer firmes no apoio a uma rápida implementação do Acordo de Paris. Devemos acelerar a ação à medida que estamos atrasados ​​e preparar estratégias de baixo carbono a longo prazo que nos permitam cumprir os objetivos de Paris.”

A última versão do plano de ação usa termos como “tecnologias limpas” para se referir a eficiência energética e fala sobre “tecnologias avançadas e limpas de combustíveis fósseis”. Se o texto provisório for aceito da forma como está, será uma grande vitória diplomática de Trump – uma forma de toda a comunidade internacional aceitar que os projetos de carvão podem ser considerados limpos.

O último documento, de 5 de maio, inclui uma nota de rodapé que deixa claro que os EUA estão revisando suas políticas climáticas e ainda retornarão com um posicionamento oficial. Fontes consultadas para a matéria disseram que os EUA falharam na tentativa de introduzir um “mecanismo de bloqueio” para o financiamento climático no texto.

Patricia Espinosa, secretária-executiva da Convenção do Clima da ONU, a UNFCCC, diz esperar que o plano de ação para o clima seja colocado no centro das deliberações de financiamento de bancos de desenvolvimento, como o Banco Mundial e o Banco de Desenvolvimento da África. “Eles deveriam garantir que todas as decisões de financiamento tivessem que passar por um filtro no que se refere aos riscos climáticos e à resiliência. Isso seria muito útil”, disse Espinsa ao Climate Home. Ela acrescentou que não havia falado com Trump desde a eleição, mas esperava uma oportunidade de fazê-lo o mais breve possível. “Eu certamente pediria que ele reconsiderasse sua decisão sobre o Acordo de Paris”, disse.

O ministro alemão do Meio Ambiente, Jochen Flasbarth, disse ao Climate Home: “A implementação do Acordo de Paris continua a ser uma questão central da Alemanha no G20. Queremos que a cúpula dos líderes envie um sinal claro sobre a implementação”. No entanto, não há mais negociações, disse uma fonte do governo alemão, que garante que elas já estariam concluídas.

“Nesta fase, estamos um pouco cansados de usar o nosso potencial persuasivo”, acrescentou Maros Sefcovic, vice-presidente da Comissão Europeia, que pediu à equipe de Trump que não deixasse Paris. Quando Trump fez o anúncio, ele disse que estaria disposto a “renegociar” o acordo. “Estamos 100% convencidos de que não é hora de renegociar Paris, mas implementá-lo”, disse Sefcovic.

Dada a falta de detalhes no discurso de Trump, tem-se a sensação de que o presidente continua a ser influenciado por forças de ambos os lados. Uma fonte do Climate Home descreveu o discurso de Trump como “um ato espontâneo que resulta de um estado de forças influenciadoras do momento”, dando a entender que a decisão poderia ser outra em circunstâncias diferentes.

Uma fonte da UE disse: “As trocas de informações estão acontecendo com frequência, algumas vezes por mês, envolvendo diretores da União Europeia”. Já o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, defendeu que Trump deve permanecer na mesa de conversas sobre o clima, apesar de considerar o Acordo de Paris economicamente desvantajoso. Sefcovic confirmou que as negociações informais continuam.

“Nossa maior dificuldade é entender em que pontos as decisões do governo dos EUA são de fato válidas”, disse uma fonte da UE. “Não é sobre prever o próximo passo, mas entender a lógica de como as coisas acontecem, isso é difícil”. Mesmo assim, disse, “há uma razão para continuar conversando com os EUA”, disse um dos principais funcionários da gestão Obama ao Climate Home. “Isso tornaria mais fácil trazer de volta os americanos ao acordo; afinal, o interesse ambiental é do mundo todo e a influência da China poderia trazer grandes retrocessos ao planeta.” (ARTHUR NIELSEN)

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