O presidente Lula e a primeira-dama Janja Silva desembarcam em Washington (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

#PRESS RELEASE

Sociedade pede a Lula e Biden que se comprometam com o desmate zero

Coalizão lista recomendações aos dois governos para interromper a degradação da Amazônia, incluindo colocar os povos indígenas no centro dos esforços de preservação

10.02.2023 - Atualizado 11.03.2024 às 08:30 |

Uma coalizão liderada por povos indígenas brasileiros, movimento negro, ONGs ambientais e outros grupos da sociedade civil pede aos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Joe Biden que se comprometam a atingir urgentemente o desmatamento zero na Amazônia e em outros biomas brasileiros, durante a visita de Lula hoje à Washington, DC.

O documento apresentado pelo grupo contém recomendações de políticas públicas para ambos os governos conservarem a floresta e outros biomas e combaterem as mudanças climáticas e o racismo ambiental. Entre essas recomendações, a coalizão pede a ambos os presidentes o seguinte:

  • Tornar a Amazônia uma prioridade global, apoiando o Brasil e países vizinhos em sua preservação;
  • Que os Estados Unidos contribuam com o Fundo Amazônia, destinando recursos para preservação e restauração florestal;
  • Fortalecer as leis dos EUA para impedir a importação de produtos associados adesmatamento e degradação da Amazônia ou violação dos direitos humanos;
  • Fortalecer a cooperação Brasil-Estados Unidos no combate ao crime organizado internacional associado a crimes ambientais;
  • Cooperar com o Brasil para garantir que os projetos de conservação e transição energética incluam proteções claras para garantir os direitos humanos.

Uma lista completa das demandas pode ser vista nesta carta aberta enviada aos dois presidentes e suas equipes em nível de gabinete

De acordo com a imprensa, Biden está considerando sua primeira contribuição ao Fundo Amazônia, um fundo multilateral voltado para o combate ao desmatamento na Amazônia, com possível anúncio durante a visita de Lula. Mas o dinheiro por si só não é suficiente. Os EUA têm um papel central a desempenhar como o segundo mercado de carne bovina mais importante do Brasil, e o que acontece na Amazônia impacta diretamente os EUA..

Dados comerciais revelam que quase um sexto de toda a carne bovina brasileira importada por empresas americanas agora vem dos estados amazônicos. À medida que as exportações de carne bovina dos estados amazônicos crescem, é urgente que os importadores dos EUA monitorem suas cadeias de fornecimento quanto a abusos ambientais. Da mesma forma, um estudo concluiu que o desmatamento total da Amazônia resultaria em uma redução de 10 a 20% nas chuvas no litoral noroeste dos EUA e em até 50% na redução de neve na Sierra Nevada (Medvigy et al. 2013).

A Amazônia está quase em um ponto sem volta, quando a floresta tropical se transforma em uma savana seca, como resultado do desmatamento e degradação excessivos. Pesquisadores estimam que em 30 a 50 anos o mundo poderá perder até 70% da Amazônia. Quase 40% da floresta tropical já foi degradada.

Organizações brasileiras pedem a Lula que se comprometa a desfazer o legado de Bolsonaro, inclusive impedindo ou vetando o chamado “Pacote da Destruição” – um conjunto de projetos de lei em tramitação no Congresso brasileiro que prejudicariam consideravelmente o compromisso de Lula de proteger a Amazônia e outros biomas brasileiros, tornando difícil para o presidente alcançar suas ambições ecológicas.

Para a sociedade civil brasileira, é fundamental tomar medidas para reverter o legado destrutivo de Bolsonaro, já que a Amazônia desempenha um papel fundamental na regulação do clima global. O ecossistema da Amazônia equilibra o ciclo das chuvas, estabiliza as temperaturas e absorve uma grande quantidade de dióxido de carbono, um dos principais contribuintes para o aquecimento global. O desmatamento desenfreado e as maiores e mais frequentes queimadas na Amazônia estão reduzindo a cobertura florestal e, consequentemente, diminuindo a capacidade do bioma de espalhar umidade para outras regiões e reter os gases do aquecimento global.

As organizações brasileiras estão instando os dois líderes a trabalharem juntos para evitar uma maior degradação da Amazônia e de outros biomas brasileiros e evitar danos ainda maiores às pessoas que já sofrem com os efeitos das mudanças climáticas e do racismo ambiental

Os organizadores da carta emitiram as seguintes declarações para a imprensa:

Diego Casaes, diretor de campanhas da Avaaz: “Este é um dos legados mais sangrentos de Bolsonaro. As mesmas forças e atores que financiaram ações terroristas no Brasil nos últimos dois meses são também responsáveis pelo desmatamento, pela mineração ilegal e invasão de terras indígenas. É por isso que pedimos que Biden e Lula formalizem o seu compromisso de preservar a Amazônia e inverter as políticas climáticas desastrosas dos seus antecessores”.

Joci Aguiar, coordenadora executiva da Rede GTA (Grupo de Trabalho Amazônico) e membro da coordenação do Observatório do Clima: “Neste encontro histórico, o Brasil e os EUA devem definir estratégias para enfrentar problemas comuns: a manutenção da democracia e soluções para a crise climática, no respeito pela soberania dos países. Também precisa estar  na ordem do dia a união de esforços na luta contra o desmatamento, para manter os biomas e garantir os direitos dos defensores da floresta. Ações concretas de ambas as nações são cruciais para garantir a vida no planeta. Não há mais tempo a perder”.

Igor Travassos, membro da Coligação Negra por Direitos: “O compromisso com a agenda ambiental e climática tem de ser urgente. Ainda mais: uma agenda que tem como prioridade a defesa dos biomas e a erradicação do racismo ambiental, compreendendo que os povos indígenas, quilombolas, povos ribeirinhos, e a população negra periférica são os mais vulneráveis à devastação ambiental, às alterações climáticas, e aos desastres ambientais. Isto tem de estar em cima da mesa como um princípio não negociável para qualquer acordo entre o Brasil e os EUA”.

Assinam a carta (em ordem alfabética):

350.org Brasil

APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil)

Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida – Apremavi

Avaaz

COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira)

CONAQ

Ciupoa

Coalizão Negra Por Direitos

Comitê de Defesa dos Direitos dos Povos Quilombolas de Santa Rita e Itapecuru Mirim MA

Global Youth Biodiversity Network (GYBN Brazil)

IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas

Instituto Alana

Instituto Climainfo

Instituto Internacional de Educação do Brasil

Instituto Sociedade, População e Natureza

Instituto Vladimir Herxog

Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM Amazônia

Mater Natura – Instituto de Estudos Ambientais

Observatório do Clima

Pretah Consultoria e Projetos

Universidade Estadual de Campinas

WWF BRASIL

 

Carta completa aqui.

Briefing para jornalistas aqui.

 

Para mais informações e entrevistas:

Bia Calza +55 61 982901900 / [email protected]

Diego Casaes +55 11 98101-5145 / [email protected]

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