Plataforma de petróleo no Brasil (Foto: Petrobras)

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Transição para renováveis é insuficiente

Relatório da Agência Internacional de Energia mostra que, mesmo crescente, a previsão de investimentos em fontes limpas não é o bastante para limitar aquecimento global em menos de 2°C

10.11.2015 - Atualizado 11.03.2024 às 08:27 |

CÍNTYA FEITOSA (OC)

O principal relatório anual sobre energia no planeta traz uma boa e uma má notícia. A boa é que a transição para energias renováveis já é uma realidade. As fontes limpas de energia responderam por quase metade dos novos investimentos em geração em 2014. O problema é que o crescimento dessas fontes ainda não nos coloca no caminho para limitar o aquecimento global em 2°C – o limite considerado seguro pelos cientistas para evitar mudanças climáticas perigosas. De acordo com o Panorama Energético Global, da AIE (Agência Internacional de Energia) divulgado nesta terça-feira (10), até 2040 as renováveis devem representar apenas 15% do total do investimento em energias em todo o mundo – US$ 7,4 trilhões.

As INDCs – compromissos dos países para a COP21, a conferência do clima de Paris – devem impulsionar medidas de eficiência energética e baixa emissão de carbono. As energias renováveis devem liderar os investimentos em nova capacidade instalada até 2040. O abastecimento provido por elas deve ultrapassar o carvão em 2030 e, em 2040, deve chegar a 50% na União Europeia, cerca de 30% na China e no Japão, e ultrapassar os 25% nos Estados Unidos e na Índia.

Mas a tendência de descarbonização no fornecimento de energia elétrica não é acompanhada com a mesma velocidade na ponta: ainda é difícil e caro substituir o carvão e o gás na indústria e o petróleo como combustível para os transportes. O resultado é que as atuais políticas de energia levam a um aumento mais lento das emissões de CO2 relacionadas ao setor, mas não à redução absoluta de emissões necessária para cumprir o objetivo de 2°C.

A preferência por opções de energia de baixo carbono é influenciada por fatores econômicos, como o custo elevado de extração de petróleo e gás enquanto os custos de energias renováveis ​​e de tecnologias mais eficientes tendem a cair. A Índia, por exemplo, aproveitou a queda nos preços do petróleo para retirar os subsídios aos combustíveis fósseis – algo que países desenvolvidos ainda resistem a fazer.

A análise destaca, no entanto, que o preço mais baixo do petróleo, por si só, não tem grande impacto sobre a implantação de tecnologias de energias renováveis, a menos que os tomadores de decisão permaneçam firmes em estabelecer as regras de mercado, políticas e subsídios, reduzindo a ajuda aos combustíveis fósseis – que foram subsidiados em cerca de US$ 490 bilhões em 2014.

Para manter as esperanças nos 2°C , a AIE recomenda investimentos de US$ 400 bilhões em tecnologias renováveis em 2030 – mais que o dobro em relação aos menos de US$ 150 bilhões em 2014 – e a eliminação dos subsídios aos combustíveis fósseis para os usuários finais em 2030. Além disso, é essencial a redução progressiva do uso de usinas movidas a carvão pouco eficientes, e a proibição de novas construções.

O diretor executivo da AIE, Fatih Birol, alerta para a necessidade de manter a preocupação com segurança energética. “Agora não é o momento para relaxar. Muito pelo contrário: um período de baixos preços do petróleo é o momento para reforçar a nossa capacidade de lidar com futuras ameaças.”

MAIS DEMANDA

Atualmente, 1,2 bilhão de pessoas, 17% da população mundial, não têm acesso a eletricidade. De acordo com a Agência Internacional de Energia, a demanda deve crescer cerca de um terço até 2040, quando 800 milhões de pessoas no mundo ainda devem estar sem energia.

O aumento será impulsionado principalmente por Índia, China, África, Oriente Médio e Sudeste Asiático. Os países em desenvolvimento, principalmente a Índia, representam todo o aumento no uso de energia global, devido às tendências econômicas e demográficas. Por outro lado, nos países da OCDE a tendência é de declínio da demanda, aliada à maior eficiência energética. Na União Europeia a queda deve ser de 15 % até 2040. No Japão e Estados Unidos, de 12% e 3%, respectivamente.

“Os preparativos para a COP21 têm sido uma rica fonte de orientação sobre as intenções futuras de política energética e os componentes relacionados com os compromissos de energia se refletem em nosso cenário central”, diz o estudo. Se as INDCs forem alcançadas, as energias renováveis devem ser 25% do mix global de energia em 2040 – hoje são 19%. Entre os fósseis, o gás natural é o único que deve crescer.

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