Área desmatada em Novo Progresso, no Pará (Vinícius Mendonça/Ibama)

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Área desmatada tem safra menor, mostra estudo

Destruição da Amazônia atrasa início da estação chuvosa em 76 dias e reduz produtividade em 12%

06.02.2024 - Atualizado 14.03.2024 às 10:16 |

DO OC – O setor agropecuário tem uma relação conflituosa com a proteção ambiental e o combate às mudanças climáticas. No entanto, o feitiço virou contra o feiticeiro. Um estudo publicado nesta terça-feira (6) na revista Royal Meteorological Society mostra que o desmatamento tem modificado o clima local e regional. Em consequência, as produções de soja e milho estão sendo prejudicadas. 

De acordo com o artigo assinado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entre 1999 e 2019, áreas desmatadas tiveram um atraso de aproximadamente 76 dias no início da estação chuvosa agrícola. Além disso, houve uma diminuição de 360 milímetros nas chuvas e um aumento de 2,5 °C na temperatura máxima. Os pesquisadores usaram estimativas diárias de volume de chuva e calcularam a extensão de perda florestal no período selecionado para as análises. 

A soja é plantada no início da estação chuvosa agrícola, que tem duração entre 6 e 7 meses, enquanto o milho é plantado na mesma terra após a colheita da soja. As sementes precisam de umidade – entre 400 e 800 milímetros de água para o primeiro grão e 400 a 700 milímetros para o segundo – e de uma temperatura no solo que não seja muito alta para a germinação e desenvolvimento. A partir do momento em que há atraso para o plantio, o duplo cultivo é afetado e gera prejuízos.

Segundo a pesquisa, a perda exagerada de florestas já reduziu em média 12% da produtividade de grãos. “A redução do desmatamento poderia, assim, evitar maiores perdas agrícolas no sul da Amazônia brasileira”, diz.

De acordo com a análise, em áreas com menos de 20% de desmatamento há uma probabilidade de 28% de redução de chuva para 100 milímetros ou menos durante a safra de soja e 37% na safra de milho. O percentual aumenta para 58% e 63%, respectivamente, quando a perda florestal é superior a 80%. 

Em 2021, os autores já haviam mostrado o impacto do desmatamento para o agro. Uma pesquisa publicada na Nature Communications mostrou que a quantidade anual de chuva tinha diminuído pela metade ao longo de 20 anos em regiões de Rondônia, norte de Mato Grosso e sul do Pará, lugares onde a agropecuária tinha ocupado até 60% de áreas onde existia floresta. A falta de vegetação, inclusive, intensificou a estiagem que secou rios amazônicos no ano passado.

A destruição da Amazônia é impulsionada pela criação de gado, mas a agricultura também tem participação. Segundo o MapBiomas, os pastos ocupavam 13,7 milhões de hectares do bioma em 1985, mas aumentaram para 57,7 milhões de hectares em 2022. Já a plantação de soja passou de cerca de 1 milhão de hectares para 7 milhões de hectares nas duas últimas décadas.

Desmatar a Amazônia é um péssimo negócio, pois a umidade atmosférica da floresta é responsável por aproximadamente 20% a 30% do volume total de chuvas na região. A floresta também contribui para as chuvas nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do Brasil, além de outros países como a Bolívia, a Argentina e o Paraguai por causa da evapotranspiração e transporte da umidade pelos ventos, são os chamados rios voadores. 

“Os resultados do [atual] trabalho são um apelo veemente para que investidores, formuladores de políticas públicas e cientistas se engajem com empresas agrícolas para eliminar o desmatamento de suas cadeias de suprimentos”, diz Argemiro Teixeira, co-autor da pesquisa e professor na UFMG. (PRISCILA PACHECO)



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