Enchente no Acre em 2023 (Foto: Marcos Vicente/Secom AC)

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Déficit para financiamento de adaptação pode alcançar US$ 366 bi anuais

Investimento é essencial para que países pobres acelerem planos que reduzam danos e riscos, diz Pnuma

02.11.2023 - Atualizado 11.03.2024 às 08:31 |

Investimento é essencial para que países pobres acelerem planos que reduzam danos e riscos, diz Pnuma

DO OC – O progresso para a adaptação em um momento de crise climática intensa está lento nas áreas de financiamento, planejamento e implementação, aponta o “Relatório de Lacunas para a Adaptação 2023” (AGR 2023, na sigla em inglês), publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) nesta quinta-feira (2). O estudo, que é lançado anualmente desde 2014, aprofundou a análise financeira e constatou que há um déficit estimado nos países em desenvolvimento entre US$ 194 bilhões e US$ 366 bilhões por ano para adaptação. Compare-se isso aos US$ 100 bilhões por ano prometidos e jamais entregues pelos países ricos para adaptação e corte de emissões nos países pobres.

A pesquisa, nomeada “Subfinanciado. Despreparado – Investimento e planejamento inadequados na adaptação climática deixam o mundo exposto”, mostra que os custos modelados para adaptação eram estimados em US$ 215 bilhões por ano nesta década para os países em desenvolvimento, mas o financiamento necessário saltou para US$ 387 bilhões por ano até 2030. Por outro lado, o fluxo de financiamento público internacional foi de US$ 21,3 bilhões em 2021, uma queda de 15% em relação ao valor de US$ 25,2 bilhões disponibilizado entre 2018 e 2020.

O déficit estimado tem como base a diferença dos custos modelados e o financiamento necessário com o fluxo internacional de 2021. Assim, as necessidades para o financiamento de adaptação são entre 10 e 18 vezes maiores que os fluxos públicos internacionais – pelo menos 50% superiores ao previamente estimado.

O Pnuma ressalta que a desaceleração do apoio internacional é preocupante, visto que a maioria dos planos de adaptação exige apoio externo para concretização e as necessidades são crescentes. Inger Andersen, diretora-executiva do programa, lembra que, em 2023, as mudanças climáticas ficaram mais perturbadoras e mortais com registros recordes de temperaturas altas e devastações causadas por tempestades e incêndios florestais.

“Esses impactos intensificados nos dizem que o mundo deve reduzir urgentemente as emissões de gases de efeito estufa e aumentar a adaptação, os esforços para proteger as populações vulneráveis. Nenhum dos dois está acontecendo”, diz Andersen. Para a diretora-executiva, as ações são urgentes, pois, mesmo que a comunidade internacional deixe de emitir todos os gases poluentes hoje, a perturbação climática pode demorar décadas para se dissipar. “Então, eu peço que os tomadores de decisões políticas intensifiquem o financiamento e aproveitem a COP28 [que ocorrerá entre 30 de novembro e 12 de dezembro em Dubai]”, completa.

Segundo o relatório, ao mesmo tempo que os financiamentos são insuficientes, o planejamento e a implementação parecem estar estagnados, embora cinco a cada seis países tenham pelo menos um plano nacional de adaptação. Essa morosidade para melhorar a adaptação resulta em enormes implicações relacionadas a perdas e danos, principalmente para os mais vulneráveis.

O Pnuma lembra que as 55 economias mais vulneráveis ao clima já sofreram perdas e danos que alcançaram mais de US$ 500 bilhões nas últimas duas décadas. A previsão é que os valores poderão aumentar nas próximas décadas, principalmente com a ausência de mitigação e adaptação rigorosas. Um novo fundo para perdas e danos será um instrumento importante para mobilizar recursos, mas precisará avançar em iniciativas inovadoras e novos mecanismos de financiamento. “Investir agora na adaptação e na mitigação minimizará os custos climáticos no futuro. A adaptação ambiciosa pode aumentar a resiliência, o que é particularmente importante para países de baixa renda e grupos desfavorecidos, incluindo mulheres”, diz o Pnuma.

O relatório lembra que estudos já indicam que a cada bilhão investido na adaptação contra inundações costeiras possibilita uma redução de US$ 14 bilhões nos danos econômicos. Enquanto que US$ 16 bilhões investidos por ano na agricultura evitariam que aproximadamente 78 milhões de pessoas fossem vítimas da fome ou fome crônica fortalecida pelos impactos climáticos.

Por fim, o relatório destaca sete formas de aumentar o financiamento para adaptação. As propostas são divididas em dois grupos: abordagens principais e adicionais. O primeiro é composto pelo financiamento internacional, investimentos internos e financiamento oriundo do setor privado. As abordagens adicionais propõem o aumento do financiamento para pequenas e médias empresas, remessas de migrantes para os países de origem, que muitas vezes contribuem significativamente para o PIB, reforma da arquitetura financeira global e implementação do artigo 2.1 do Acordo de Paris, que trata de fluxos financeiros dos países ricos para os pobres. (PRISCILA PACHECO)

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