Auge da temporada do fogo na Amazônia costuma ser em setembro (Foto Bruno Kelly/Amazonia Real)

#PRESS RELEASE

Desmatamento acelerou após Código Florestal

Novo levantamento do MapBiomas mostra aumento de 38% na perda de vegetação nativa 5 anos após a nova lei, em relação a 5 anos antes; dados também indicam segundo arco do desmatamento na Amazônia

31.08.2023 - Atualizado 11.03.2024 às 08:31 |

DO MAPBIOMAS – Nos últimos 10 anos (2013 a 2022) a perda de vegetação nativa no Brasil acelerou. O período coincide com a vigência do novo Código Florestal, aprovado pelo Congresso em 2012. É o que mostra uma análise inédita feita pelo MapBiomas a partir da mais recente coleção de dados de uso e cobertura da terra, cobrindo o período entre 1985 e 2022, que está sendo lançada nesta quinta (31/08). A análise das imagens de satélite mostra que no período de 5 anos antes da aprovação do Código Florestal (2008-2012) houve uma perda de 5,8 milhões de hectares. Nos cinco anos seguintes à aprovação do código (2013-2018), a perda aumentou para 8 milhões de hectares. Nos últimos 5 anos (2018-2022), alcançou 12,8 milhões de hectares, um aumento de 120% em relação a 2008-2012.

“Analisando a evolução anual da perda de cobertura de vegetação nativa agrupadas em períodos de 5 anos desde 1992, quando foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, no Rio de Janeiro, o período de maior perda foi aquele imediatamente antes da aprovação do Código Florestal em 2012. Mas desde então a perda se acelerou ainda mais, com aumento do desmatamento. Estamos nos distanciando, em vez de nos aproximar do objetivo de proteger a vegetação nativa brasileira previsto no Código Florestal e do compromisso de zerar o desmatamento até o final desta década”, explica Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas.

Os dados desde 1985 até 2022, por sua vez, mostram uma perda de 96 milhões de hectares de vegetação nativa – uma área equivalente a 2,5 vezes a Alemanha. A proporção de vegetação nativa no território caiu de 75% para 64% no período.

De tudo que foi antropizado em cinco séculos no país, 33% foram antropizados, ou seja, convertidos para algum uso humano, como cidades ou atividades agropecuárias, nos últimos 38 anos. Esse processo se deu mais fortemente na Amazônia e Cerrado, onde 52 milhões de hectares (equivalente à área da França)  e 31,9 milhões de hectares foram antropizados nesse intervalo. Proporcionalmente à vegetação existente em 1985, os biomas que mais perderam vegetação nativa até 2022 foram o Cerrado (25%) e o Pampa (24%).

Foi realizada também uma avaliação das áreas de vegetação secundária, ou seja, que já foram convertidas para uso antrópico e agora possuem vegetação nativa regenerando. Em 2022, constatou-se mais de 44 milhões de hectares de vegetação secundária no Brasil, o que representa 9% de toda vegetação nativa do país.

O padrão de avanço da agropecuária

O avanço da agropecuária pode ser constatado em todos os biomas brasileiros entre 1985 e 2022. A exceção fica por conta da Mata Atlântica, o bioma mais desmatado do país, onde os dois terços do território ocupados por essas atividades permaneceram estáveis nas últimas duas décadas. Na Amazônia, a área ocupada pelo agro saltou de 3% para 16%; no Pantanal, de 5% para 15%; no Pampa, de 29% para 44%; na Caatinga, de 33% para 40%. No Cerrado, as atividades agropecuárias agora ocupam metade do bioma (50%); em 1985, era um pouco mais de um terço (34%). Em todo o Brasil, a área ocupada por atividades agropecuárias passou de cerca de um quinto (22%) para um terço (33%) do Brasil. As pastagens avançaram sobre 61,4 milhões de hectares entre 1985 e 2022; a agricultura, sobre 41,9 milhões de hectares.

As imagens de satélite mostram relação forte da dinâmica de ocupação de solo de agricultura e de pecuária. Entre 1985 e 2022, 72,7% dos 37 milhões de hectares do crescimento da área de agricultura no Brasil se deram sobre áreas já antropizadas, especialmente pastagens. Apenas 27,3% das áreas convertidas para lavoura temporária são provenientes de vegetação nativa, com destaque para o Pampa, a fronteira da Amazônia com Cerrado e a região do Matopiba. No caso da pastagem, a situação é oposta: mais da metade (55,8%) das áreas convertidas para pasto são provenientes de vegetação nativa. Foram 64 milhões de hectares de vegetação nativa convertidas para pastagens. Outros 5,4 milhões de hectares (mais do que o estado do Rio de Janeiro)  foram convertidos de vegetação nativa para pastagem e depois para agricultura.

O avanço da agropecuária se deu prioritariamente sobre áreas de floresta. De todas as classes de vegetação nativa analisadas pelo MapBiomas, a formação florestal foi a que mais perdeu em área: 58,6 milhões de hectares foram suprimidos no período. Se em 1985 as formações florestais respondiam por 68% do território nacional, em 2022 esse percentual caiu para 58%. Em seguida, vem a formação savânica, que perdeu 28,9 milhões de hectares – uma queda de 22% em relação a 1985.

Atualmente, dois novos arcos do desmatamento se destacam em pólos de forte expansão agrícola: no oeste da Amazônia, a fronteira entre Amazonas, Rondônia e Acre, conhecida como Amacro, onde o uso agropecuário aumentou 10 vezes nos últimos 38 anos, chegando a 5,3 milhões de hectares, que equivalem a 21% da área do território; e no nordeste do Cerrado, o Matopiba, na fronteira entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, onde a agropecuária aumentou 14 milhões de hectares, chegando a 25 milhões de hectares em 2022, equivalentes à 35% do território.

O novo conjunto de dados de cobertura e uso da terra do MapBiomas traz dados sobre 29 classes de uso e uso da terra, incluindo as versões beta de áreas de dendê e floresta alagável. Um dos dados que mais se destaca é o avanço da cultura de soja, que se deu em todos os biomas. Entre 1985, essa cultura passou de 4,5 milhões de hectares para 39,4 milhões de hectares em 2022 – área comparável a duas vezes o território do Paraná.  A soja avançou 3,1 milhões de hectares no Pampa, 18 milhões de hectares no Cerrado, 5,8 milhões de hectares na Amazônia e 8 milhões de hectares na Mata Atlântica. No caso do Pampa, ela está mudando o perfil econômico do bioma, que historicamente, assim como o Pantanal, sempre teve a pecuária sobre campos nativos como a principal atividade rural.

“O Pantanal e o Pampa são exemplos de biomas naturalmente aptos para a pecuária, pois seus campos são como pastagens naturais. Nos dois casos, o avanço da soja representa uma degradação do bioma”, alerta Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas.

A dinâmica de ocupação nos estados e municípios

A perda de vegetação nativa aconteceu em 25 dos estados brasileiros entre 1985 e 2022. Um único estado manteve estável a área de vegetação nativa: São Paulo. Apenas o Rio de Janeiro teve um leve aumento de vegetação nativa (de 31% em 1985 para 32% em 2022)

Os estados com maior proporção de vegetação são Amapá e Amazonas, com 95%, e Roraima, com 93%. Já os estados com menor proporção de vegetação nativa são Sergipe (16%), Alagoas (20%) e São Paulo (21%).

Os estados com maior proporção do território ocupado com agricultura são o Paraná, com 39%, e o Rio Grande do Sul, com 36%. Já Sergipe e Alagoas são os estados com maior proporção de pastagem no território, 62% e 52% respectivamente.

Em 1985, 46% dos municípios brasileiros tinham como principal cobertura e uso da terra a vegetação nativa. Em 2022, 602 municípios saíram desta condição e agora 36% dos municípios mantêm esta condição. Em 37% dos municípios hoje predomina como principal uso da terra a agropecuária.

Outros destaques

As terras indígenas ocupam 13% do território nacional, mas contêm 19% de toda vegetação nativa do país e apenas 1% da perda de vegetação nativa nas últimas três décadas se deu nestas áreas.

Os dados de água e campos alagados no bioma Pantanal chamam a atenção. Em 1985 o Pantanal tinha 47% de água e campos alagados; na última cheia, em 2018, a inundação alcançou 36% do bioma e, em 2022, apenas 12% do bioma foram mapeados como água e campos alagados.

O que esses dados mostram é que o Brasil é um país com intensa transformação do território. Essas mudanças trazem impactos significativos em temas chave para o bem estar como emissões e remoções de gases de efeito estufa, a conservação da biodiversidade e a regulação do regime de chuvas.

Novidades da Coleção 8

A Coleção 8 do MapBiomas traz mapas e dados anuais sobre a evolução de 29 classes de cobertura e uso da terra no Brasil desde 1985 a 2022  e inclui também módulos contendo dados sobre a evolução anual do desmatamento, vegetação secundária, irrigação, mineração e condição de vigor da pastagem. Entre as novidades da plataforma neste ano estão as novas classes de cultivo de palma e floresta alagável na Amazônia, além de novas análises temporais, como estabilidade das classes e número de mudanças, dos dados que permitem explorar com mais detalhes e profundidade as transformações que acontecem no território brasileiro. Na coleção 8 também é possível fazer análises territoriais incluindo municípios, estados, bacias hidrográficas, unidades de conservação, terras indígenas entre outros.

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Sobre o MapBiomas

O MapBiomas é uma rede colaborativa, formada por ONGs, universidades e empresas de tecnologia, que revela as transformações do território brasileiro, por meio da ciência, tornando acessível o conhecimento sobre o uso da terra, a fim de buscar a conservação e combater as mudanças climáticas. Produz mapeamento anual da cobertura e uso da terra desde 1985, valida e elabora relatórios para cada evento de desmatamento detectado no Brasil desde janeiro de 2019 e monitora a superfície de água e cicatrizes de fogo mensalmente desde 1985. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa

 

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