A Amazônia é uma das impactadas pelo El Niño e aquecimento global causado por humanos (André Kumark/Instituto Mamirauá)

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El Niño enfim arrefece; planeta não

Fenômeno natural tem sido turbinado pelo aquecimento causado por ações humanas

05.03.2024 - Atualizado 14.03.2024 às 10:12 |

DO OC – Análise da Organização Meteorológica Mundial (OMM) publicada nesta terça-feira (5) aponta que o El Niño atingiu o pico entre novembro e janeiro, mas mesmo em ritmo de enfraquecimento ainda tem 60% de chances de contribuir para temperaturas acima do normal em quase todo o planeta entre março e maio. A instituição ressalta que o El Niño não age sozinho. O calor intensificado é causado pelos gases de efeito estufa emitidos por atividades humanas.

“Todos os meses desde junho de 2023 tiveram recordes de temperatura e o ano passado foi o mais quente já registrado. O El Niño contribuiu para essas temperaturas, mas os gases de efeito estufa são inequivocamente o principal culpado”, diz a argentina Celeste Saulo, secretária-geral da OMM. Saulo também chama a atenção para as anormalidades da temperatura nos oceanos. “A temperatura da superfície do mar em janeiro de 2024 foi de longe a mais alta já registrada no mês. Isso é preocupante e não pode ser explicado apenas pelo El Niño”, completa. É possível que a superfície do mar também continue mais aquecida que o normal nos próximos meses.

O El Niño é um fenômeno climático natural que aquece a superfície do oceano no Pacífico tropical central e oriental, que influencia no clima e na formação de tempestades em diferentes partes do mundo. “Mas isso tem ocorrido no contexto de um clima sendo alterado pelas atividades humanas”, diz a análise.

Segundo a OMM, no pico, o El Niño atingiu cerca de 2°C acima da temperatura média da superfície do mar de 1991 a 2020 no oceano Pacífico tropical central e oriental, o que o tornou um dos cinco El Niños mais fortes, embora menos intenso do que os ocorridos em 1997, 1998, 2015 e 2016.

A OMM lembra que o El Niño contribuiu para fortes chuvas no Chifre da África e no sul dos Estados Unidos, e condições secas e quentes no Sudeste Asiático, Austrália, África Austral e norte da América do Sul. Um exemplo é a seca que atingiu a Amazônia e deixou comunidades isoladas por causa do baixo nível dos rios no Brasil.

Um estudo recente publicado na revista Scientific Reports também indica continuidade da influência do El Niño. O artigo, no entanto, diz que há uma probabilidade de 90% de a temperatura do ar superar os registros históricos até junho em todo o planeta por causa do fenômeno. Porém, há regiões mais suscetíveis a recordes, caso da Amazônia, áreas costeiras da Ásia, como a Baía de Bengala e o Mar da China, Alasca e Caribe. (PRISCILA PACHECO)



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