Crédito: Stela Herschmann

#OPINION

Eleições brasileiras: um dos mais importantes eventos climáticos de 2022

Se Bolsonaro se manter no cargo, tanto a Amazônia como a meta de limitar o aquecimento do planeta em 1,5°C estão correndo sério risco

15.06.2022 - Atualizado 11.03.2024 às 08:30 |

CLAUDIO ANGELO
DO OC, EM BONN*

O Brasil está estranhamente tímido na reunião de clima de Bonn, a SB56. Seja pela falta de debates relevantes sobre o Artigo 6 ou pela incerteza em torno das próximas eleições presidenciais de outubro, o fato é que Brasília parece ter dado a seus diplomatas algum espaço para respirar. Geralmente, os negociadores brasileiros fazem intervenções construtivas ao invés de dificultar as negociações.

É claro que existe um “mas”.

O bom comportamento da delegação está em total dissonância com o que acontece dentro de casa. O Brasil, o 5º maior emissor de carbono do mundo está, está sob constante risco de tumulto, com o sociopata-em-chefe Jair Bolsonaro ameaçando um golpe todos os dias. Neste momento, enquanto o mundo se desespera com o desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira na Amazônia, o governo age de forma lenta nas buscas. O presidente inclusive chamou a investigação jornalística sobre as violações aos direitos indígenas, trabalho que estava sendo realizado pela dupla na floresta, de “uma aventura desnecessária”.

O episódio ilustra o desumano tratamento dado aos povos indígenas por Bolsonaro, um aspirante a autocrata que vem cumprindo sua promessa de entregar a Floresta Amazônica para os negócios (desencadeando, assim, um genocídio e uma bomba de carbono no processo). Também mostra o risco que o mundo corre se a sua administração continuar. O negacionista climático mais perigoso da América – que foi convidado especial de Joe Biden para a Cúpula das Américas na última semana – comandou um aumento sem precedentes do desmatamento na Amazônia ao longo dos últimos três anos e enfraqueceu a NDC do Brasil duas vezes. Se ele conseguir se manter no cargo, seja pela via democrática ou por meio de um golpe, tanto a Amazônia como a meta de limitar o aquecimento do planeta em 1,5°C estão correndo sério risco.

É por isso que a próxima eleição no Brasil é provavelmente o mais importante evento climático de 2022 depois da catastrófica invasão russa à Ucrânia. Em um momento em que governos de todo mundo buscam a comodidade dos combustíveis fósseis para escapar da crise de energia, seria bom ter um grande emissor de volta à mesa de negociações com um novo presidente e um plano para controlar o desmatamento.

 

*Texto originalmente publicado na ECO, revista produzida por organizações não-governamentais durante as principais conferências internacionais sobre o clima.

 

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