Auge da temporada do fogo na Amazônia costuma ser em setembro (Valter Campanato/Agência Brasil)

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Fazendeiros causam recorde de queimadas em junho

Mês teve o número mais alto de focos desde 2007, concentrados em MT; segundo Inpe, 68% dos fogos ocorreram em propriedades rurais

03.07.2023 - Atualizado 11.03.2024 às 08:31 |

DO OC – A extrema-direita foi à loucura neste fim de semana com os dados do Inpe que mostraram um recorde de focos de queimada no bioma Amazônia no mês de junho. O número, 3.075, é o maior desde 2007 e representa um aumento de 20% em relação ao ano passado.

Perfis bolsonaristas nas redes sociais brandiram o dado, questionando o “silêncio” nas redações. A revista Oeste, revelada por uma investigação da Agência Pública e do NetLab-URFJ como um dos principais veículos de desinformação ambiental do país, destacou o número, atribuindo os piores recordes de queimadas na Amazônia desde o início da série histórica ao governo Lula.

A alta no início da estação seca traz mau presságio para o segundo semestre; segundo Alberto Setzer, coordenador do programa Queimadas, do Inpe, junho costuma ter um número de focos 12 vezes menor que setembro, o auge da temporada de fogo. Um El Niño forte já atua no oceano Pacífico, o que permite antecipar um segundo semestre muito seco e com muito fogo – mesmo com as taxas de desmatamento em queda. Fenômeno semelhante já aconteceu em 2007, também de El Niño forte, quando o número de queimadas no bioma Amazônia cresceu 29%, enquanto o desmatamento caiu 18%.

Uma análise dos dados de fogo feita pelo próprio Inpe dá uma pista do que está acontecendo. Segundo a Sala de Situação do portal TerraBrasilis, a maior parte dos focos de queimada detectados entre 3 de junho e 2 de julho está em Mato Grosso: 64% (1.982 focos). O Pará ocupa um distante segundo lugar, como 624 focos. No último dia 30, o site Oeco trouxe dados da sala de situação.

INPE mostra a concentração de queimadas em MT. 3.200 hectares, o que equivale a 19 parques Ibirapuera, foram queimadas somente em uma cidade

Em Mato Grosso, 81% das queimadas aconteceram em áreas inscritas no Cadastro Ambiental Rural – ou seja, em propriedades rurais. Na Amazônia inteira, 68% dos focos aconteceram em propriedades rurais. O fogo está sendo ateado por fazendeiros.

Análises do Inpe também mostram queimas extensas em propriedades no médio-norte e nordeste de Mato Grosso, duas das principais regiões produtoras de grãos e carne da Amazônia. Em Querência, no nordeste mato-grossense, a equipe de Setzer detectou uma única queima de área desmatada de 3.200 hectares entre os dias 24 e 25 de junho. Em Nova Maringá, centro-oeste do estado, uma outra grande queima de vegetação desmatada, de 1.500 hectares, foi detectada em 28 de junho.

Setzer diz ainda ser cedo para tirar conclusões, já que a temporada de fogo está apenas começando. Uma hipótese é que os produtores anteciparam a queima das áreas desmatadas para junho, de forma a não correrem risco de fiscalização a partir de 1o de julho, quando começou a vigorar o período de proibição de fogo em Mato Grosso.

“Chamam atenção as queimadas nas regiões de Feliz Natal [médio-norte] e Peixoto de Azevedo [norte], que foram as campeãs de alertas de desmatamento neste ano em Mato Grosso, juntamente com os municípios do noroeste do estado, que ainda não estão queimando porque a vegetação derrubada ainda não secou totalmente”, diz Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). (CLAUDIO ANGELO)

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