G7 se compromete com descarbonização
Com Angela Merkel retomando liderança, grupo sinaliza declínio no uso de combustíveis fósseis e se compromete a financiar iniciativas de países menos desenvolvidos; metas apresentadas até agora, porém, são tímidas
CÍNTYA FEITOSA (OC)
Os países mais ricos do mundo reconheceram e assumiram, pela primeira vez, a necessidade de descarbonização de suas economias neste século. Ainda que sem apresentar objetivos concretos, o G7 declarou nesta segunda-feira que reduzir as emissões globais entre 40% e 70% até 2050, tendo como base 2010, só será possível a partir de um esforço de todo o mundo – e tomou para si algumas responsabilidades.
“Comprometemo-nos a fazer a nossa parte para alcançar uma economia global de baixo carbono no longo prazo, incluindo desenvolvimento e implantação de tecnologias inovadoras para uma transformação dos setores de energia até 2050, e convidamos todos os países a se juntar a nós neste esforço”, diz a declaração conjunta do grupo, assinada nesta segunda-feira no castelo de Elmau, na Alemanha.
Além da descarbonização da economia ao longo do século, a declaração tem trechos sobre a necessidade de assumir regras vinculantes (com peso de lei) no acordo de Paris e acelerar o acesso à energia renovável na África.
Anfitriã do encontro e presidente temporária do G7, a chanceler alemã Angela Merkel mostrou-se disposta a recuperar a liderança perdida nas negociações internacionais sobre mudança climática: convocou o grupo a se empenhar na aplicação de recursos no Fundo Verde do Clima (GCF). O fundo foi criado em 2010, mas ainda está muito longe de atingir os US$ 100 bilhões prometidos na Cúpula do Clima de 2009. A sinalização de Merkel é que a Alemanha dobrará sua oferta de recursos.
O chamado parece já ter surtido algum efeito: o documento divulgado indica que o GCF estará operacional ainda em 2015, como “instituição-chave da futura arquitetura de financiamento climático”. Porém, apesar do compromisso em concretizar o acesso aos recursos, os países ricos incluem nesta conta a mobilização de capital do setor privado, algo que é mal visto pelos países pobres – já que pode gerar mais dívidas em vez de subsídios à transição para uma economia de baixo carbono.
“Os países do G7 não se comprometem a aumentar os fundos públicos, que é um alicerce fundamental para o sucesso em Paris no final do ano. Os países em desenvolvimento precisam de um roteiro financeiro digno de confiança, não um conjunto de truques de contabilidade”, reagiu Tim Gore, da Oxfam International.
Apesar da tentativa de retomar o protagonismo no debate climático no G7, Merkel tem uma tarefa de casa a cumprir para manter sua liderança pelo bom exemplo: mais de 40% da energia na Alemanha vem da queima de carvão. A chanceler se comprometeu na reunião do G7 a iniciar imediatamente a transição para fontes renováveis, mas depende de decisões internas em seu país.
Na próxima semana, a Alemanha definirá a implantação de um plano que prevê novas taxas de emissão e a obrigação de compra de novas licenças pelas usinas de carvão mais antigas e mais poluentes. A proposta do governo é criticada por sindicatos e pela indústria, que argumentam que a adoção da política eliminaria pelo menos 8 mil postos de trabalho.
Mesmo com a aparente boa vontade e com a sinalização de que os combustíveis fósseis devem ser deixados de lado em médio prazo, até agora o G7 não demonstrou de forma prática como vai contribuir para que o aquecimento do globo não ultrapasse o limite considerado seguro pelos cientistas – 2o Celsius em relação ao período pré-industrial.
Uma análise do think tank europeu Climate Analytics aponta que, com as INDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas) apresentadas até agora, em 2030 os países do G7 terão cumprido apenas 30% do necessário para evitar que o aquecimento ultrapasse o limite considerado seguro pela ciência.
“A ambição declarada e a urgência declarada pelos países mais ricos não corresponde aos compromissos colocados na mesa por EUA, União Europeia e Canadá e ao que o Japão tem sinalizado que fará”, disse Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Alguém precisa virar esse jogo, e quem está em melhores condições de fazer isso com ganhos para a economia é o Brasil.” O Brasil só deve apresentar a sua INDC após o encontro de Merkel com Dilma Rousseff, em agosto.
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