Contingente da Operação Verde Brasil 2 em Mato Grosso, em 2020 (Bruno Batista/VPR)

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Governo repete receita militar fracassada na Amazônia

Tropas voltam à Amazônia para combater desmatamento, mas em municípios específicos e sem articulação clara com os órgãos ambientais

29.06.2021 - Atualizado 11.03.2024 às 08:30 |

PRESS RELEASE

Após dois meses de vácuo com o fim da Verde Brasil 2, o presidente Jair Bolsonaro assinou, nesta segunda (28/6), decreto autorizando a terceira fase da operação militar destinada, em tese, a garantir a lei e a ordem na floresta e combater o desmatamento. Hamilton Mourão e seu Conselho da Amazônia retomam as rédeas em uma ação improvisada e que tem chance alta de ter tanto sucesso quanto a última — ou seja, nenhum.

Em 2020, as multas do Ibama por crimes contra a flora na Amazônia caíram pela metade em relação a 2018, mesmo com o “reforço” de mais de 3 mil militares a partir de maio do ano passado. Os embargos despencaram 85% no mesmo período. Neste ano, os militares chegam em condições bem distintas e pioradas. O novo decreto estabelece que eles atuarão apenas em áreas da União, em 26 municípios considerados prioritários, em quatro estados (AM, RO, PA e MT). Com isso, está dito para os criminosos onde é que as tropas vão se movimentar. Os estados poderão ter apoio em outras áreas, caso solicitem formalmente, e é possível que tenham de pagar a conta.

Dessa vez, o prazo da GLO é menor: são dois meses de operação (a anterior estava prevista para durar dois anos). O efetivo chega no fim de junho, quando a máquina da devastação já ganhou inércia e a estação de queimadas avança no bioma. O texto do decreto não define o que os militares irão fazer de fato: quantos envolvidos, custo da operação, quem pagará e, fundamental, como será a articulação com os órgãos ambientais.

A GLO não envolve queimadas especificamente, mas um segundo decreto, também assinado ontem, determina a suspensão da permissão do emprego do fogo pelo prazo de 120 dias, nos moldes do que foi publicado no ano passado. Outra cortina de fumaça para o que realmente se fazia necessário: plano de combate ao fogo, treinamento de brigadas, fornecimento de equipamentos.

“O governo insiste no fracasso da GLO porque o objetivo não é combater o desmatamento. No ano passado, enquanto o Exército gastava milhões de reais na floresta, o ministro do Meio Ambiente montava um gabinete do crime ambiental na esplanada, segundo investigações da Polícia Federal”, afirma Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Essa nova GLO é uma versão anêmica do que não deu certo. Se o Exército quer realmente combater o desmatamento, precisa tomar providências contra o pior inimigo do meio ambiente, que é a pessoa que ocupa a presidência da República.”

Os alertas de desmatamento de maio foram os mais altos já registrados para o mês, com 1.391 Km2 de devastação. Embora a situação meteorológica tenda a ser menos grave que a de 2020, o Centro-Sul do país enfrenta sua pior seca em 91 anos, o que além de causar a baixa nos reservatórios também aumenta o risco de fogo na porção sul da Amazônia. Agora em junho, o norte de Mato Grosso, o sudeste do Pará e partes de Rondônia e do Acre já estão sob risco “crítico” de queimadas, segundo o Inpe. “O governo assina decretos ao mesmo tempo em que distribui gasolina e fósforo na Amazônia”, conclui Astrini.

 

Informações para imprensa

Solange A. Barreira

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