Rodrigo Agostinho mostra mapas de risco de fogo (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

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Ibama desloca brigadistas para combate ao fogo no Amazonas

Manaus segue encoberta por intensa fumaça e há concentração de focos também no sul do estado; maioria das queimadas ocorre em áreas desmatadas nos últimos anos

13.10.2023 - Atualizado 11.03.2024 às 08:31 |

DO OC – A quantidade de material particulado em suspensão no ar na região de Manaus está dez vezes acima do limite previsto pela Organização Mundial de Saúde, afirmou a ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) em entrevista coletiva nesta sexta-feira (13/10).  A capital amazonense amanheceu coberta por fumaça resultante de queimadas pelo terceiro dia consecutivo e, segundo a ministra, os focos de calor  também afetam intensamente a região sul do estado.

Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama, anunciou o deslocamento de 149 brigadistas de outras regiões do país para o combate aos incêndios no Amazonas. Eles se somarão nos próximos dias aos 140 agentes que já atuam no estado. “O principal vetor das queimadas é o desmatamento. Não existe fogo natural na Amazônia. O fogo é feito propositadamente por criminosos ou é a transformação da cobertura vegetal para determinados usos e, depois, o ateamento de fogo”, declarou Marina Silva.

A ministra destacou ainda que, mesmo com a redução de 64,4% nos alertas de desmatamento no Amazonas entre janeiro e setembro deste ano (na comparação com o mesmo período do ano passado), a situação é de emergência – os dados mais recentes, de quinta-feira (12/10), mostram 1.664 focos de calor ativos no Amazonas. No entorno de Manaus, o município mais afetado é Autazes, com 140 focos. Os dados do sistema Deter, do Inpe, mostram que entre 1 e 10 de outubro houve queda de 71% nos alertas de desmatamento no Amazonas, em comparação com o mesmo período do ano passado. “Imagine se tivéssemos mantido o padrão que tínhamos no ano passado”, apontou.

Rodrigo Agostinho reforçou que a principal estratégia para combater incêndios é combater o desmatamento e mostrou que, entre 2019 e 2023, 73,5% dos focos de incêndio no estado do Amazonas ocorreram em áreas já desmatadas, sendo 55% deles em áreas recém desmatadas.

“As pessoas derrubam a floresta, que é úmida, esperam ela secar e queimam; a floresta tenta se regenerar e é queimada no ano seguinte; regenera de novo e queima no terceiro ano. Normalmente, são de três a cinco anos de queimada em uma mesma área para que haja o fim da floresta naquele local”, afirmou, destacando que a seca está tão intensa que o fogo dessas áreas têm fugido do controle e agora começa a atingir também a floresta em pé.

Apresentando um panorama mais geral, o presidente do Ibama explicou ainda que as queimadas são resultado da combinação entre o intenso El Niño deste ano, o aquecimento das águas do Atlântico Norte – fenômenos agravados pelas mudanças climáticas e que intensificam a seca na região – e o acúmulo de matéria orgânica ressecada no solo, fruto das derrubadas de vegetação nos anos anteriores.  Um mapa da Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês) apresentado por Agostinho mostra o agravamento contínuo da tendência de risco de fogo em função do El Niño, com a alteração das temperaturas, chuvas, vento e umidade na América do Sul.

Além do reforço de brigadistas, foram anunciadas outras iniciativas do governo federal para apoio ao Amazonas, como a doação de 200 kits de equipamentos individuais para brigadistas, a disponibilização de dois helicópteros, a estruturação de uma equipe especializada para apoio à fauna e uma campanha de utilidade pública para a prevenção dos incêndios florestais, além da intensificação das ações de fiscalização e responsabilização dos infratores ambientais. “As áreas queimadas estão sendo embargadas. É importante as pessoas saberem: queimou a propriedade, não vai conseguir mais financiamento agrícola”, declarou Agostinho.

No entanto, reforçou Marina, sem enfrentamento às mudanças climáticas as importantes ações de emergência são como “enxugar gelo”. “Nós não estamos vivendo mais as regularidades climáticas com as quais convivíamos. Esse diagnóstico foi feito há mais de 30 anos e era dito e redito que esse momento chegaria. Infelizmente, ele chegou. (…) A atitude correta é atacar as causas. Por isso que nossa abordagem é enfrentar o desmatamento e mudar o modelo de desenvolvimento. Por isso, há o Plano de Transformação Ecológica, os investimentos em bioeconomia, os investimentos em agricultura regenerativa, o Plano Safra com transição para agricultura de baixo carbono”, disse.

A ministra defendeu novamente sua proposta de decretar emergência climática nos 1.038 municípios mais sensíveis mapeados pelo Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), para que haja ação continuada de adaptação aos eventos extremos. A coletiva completa pode ser assistida aqui. (LEILA SALIM)[:][:]

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