Protestos em réplica da Torre Eiffel no parque de exposições de Le Bourget (Foto: Claudio Angelo/OC)

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Ricos prometem US$ 67 bi por ano em finanças públicas no clima

19.10.2016 - Atualizado 11.03.2024 às 08:27 |

CAMILA FARIA
DO OC

Os governos de 38 países desenvolvidos afirmaram nesta terça-feira que estão “no caminho” de cumprir o compromisso de mobilizar US$ 100 bilhões por ano a partir de 2020 para combater a mudança climática nos países pobres. Num relatório divulgado conjuntamente pela Austrália e pelo Reino Unido, eles traçam um roteiro para o atingimento da meta, uma “combinação de financiamento público e mobilização de financiamento privado”. Deste valor, US$ 67 bilhões seriam dinheiro público. Organizações da sociedade civil e governos dos países em desenvolvimento, porém, não parecem impressionados com o movimento.

A promessa de US$ 100 bilhões por ano a partir de 2020 foi sugerida pela primeira vez em 2009, na fracassada conferência do clima de Copenhague. Em Cancún, no ano seguinte, ela foi ratificada, com a criação do Fundo Verde do Clima. No ano passado, foi escrita em pedra, como um dos pontos centrais das decisões de Paris.

A questão do financiamento é central para os países em desenvolvimento. Eles afirmam que, como não foram eles que causaram a mudança climática – e sim os países ricos, no curso de seu desenvolvimento –, é justo que estes mobilizem recursos para que os pobres combatam a mudança do clima e se adaptem a ela. Em Paris, os países em desenvolvimento pressionaram por muito mais do que US$ 100 bilhões – a necessidade real de financiamento está na casa do trilhão de dólares –, mas tiveram de se contentar com US$ 100 bi.

Para a Oxfam, uma das maiores ONGs do mundo, o esforço apresentado nesta semana pelos países ricos está “longe do suficiente”, e, ao invés de realizar doações, a maioria dos países estaria emprestando dinheiro ou apenas renomeando financiamentos existentes como financiamentos de clima.

Tracy Carty, da Oxfam, afirmou ao jornal britânico The Independent que a publicação do roteiro é positiva, pois “é a primeira vez que os países desenvolvidos disseram como vão atingir a meta de US$100 bilhões, mas é necessário ir além”, mas questiona os métodos e totalidade do valor.

A organização aponta que o financiamento está focado em adaptação aos danos climáticos e não na tentativa de reduzi-los através, por exemplo, de uma mudança da matriz de combustíveis fósseis para energias renováveis. Além disso, afirma que cálculos da ONU estimam que países em desenvolvimento precisariam gastar valores entre US$130 bilhões e US$300 bilhões por ano para uma adaptação de sucesso às mudanças climáticas.

“Hoje, se vê claramente que essa meta, além de ter sido arbitrária, não é suficiente para realmente atender as metas do Acordo de Paris e as necessidades dos países em desenvolvimento”, afirma Everton Lucero, secretário de Mudança Climática e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente. “Não se pode depositar crenças apenas na transferência líquida de recursos. O Acordo de Paris trouxe o objetivo, junto com a meta da temperatura, de redirecionar fluxos financeiros globais para uma economia de baixo carbono. Não é uma questão de contabilidade, é algo bem maior que isso”, defende.
Em pronunciamento, a Oxfam pediu que os líderes mundiais que estarão presentes na COP22 no próximo mês em Marrakesh quadrupliquem o apoio à adaptação até 2020, apontando que as pessoas mais pobres do planeta foram as “menos responsáveis e que estão mais vulneráveis às mudanças climáticas”.

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