O ministro Ricardo Salles fala no Senado, ao lado da deputada Joênia Wapichana Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

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Salles é vaiado e chamado de “fujão” em sessão do Senado

Ministro do Meio Ambiente foi alvo de protesto ao negar que esteja promovendo o desmonte da política ambiental, e saiu da cerimônia antes do fim

06.06.2019 - Atualizado 11.03.2024 às 08:29 |

DO OC – O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (Novo-SP), foi vaiado nesta quinta-feira (6) durante sessão solene do Senado Federal em homenagem ao Dia Mundial do Meio Ambiente. Os protestos aconteceram durante fala em que o minstro negou que esteja promovendo o desmonte da política ambiental no Brasil e afirmou que recebeu o ministério “sucateado”. Ao deixar o plenário, antes do fim da cerimônia, ouviu gritos de “fujão! Fujão!”

Esta foi a primeira vez na história que um ministro do Meio Ambiente do Brasil ouviu vaias da tribuna do Senado, ainda mais em plena Semana do Meio Ambiente.

A sessão foi realizada pela manhã, sob presidência da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA). Além de Salles, estavam na mesa o ministro do STJ Herman Benjamin, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, o ex-ministro do Meio Ambiente José Carlos Carvalho, o senador Confúcio Moura (MDB-RO) e os deputados Joênia Wapichana (Rede-RR) e Rodrigo Agostinho (PSB-SP). O evento integra a agenda do Junho Verde, uma série de eventos no Senado dedicados à temática ambiental.

Gama abriu a sessão falando de suas preocupações com o rumo da política ambiental no Brasil e lendo mensagens dos ex-ministros Gustavo Krause, Marina Silva e Izabella Teixeira que faziam referência ao que os ex-ministros chamaram de “desmonte” da governança. Foi seguida de Joênia, que fez um discurso duro contra os ataques à Amazônia e às terras indígenas e a flexibilização do licenciamento ambiental, lembrando Brumadinho. “A gente vem alertar que as flexibilizações do licenciamento ambiental colocam em risco vidas.”

A palavra em seguida foi passada a Salles, que, como de hábito, atacou as premissas de seus críticos dizendo que eram “versões” e não “fatos”.

Afirmou que o governo Bolsonaro “não nega a existência de mudanças climáticas”: “Mais do que não nega, o governo permaneceu no Acordo de Paris [e] manteve inalteradas todas as políticas”, afirmou.

Na verdade, o próprio Salles já disse repetidas vezes que não tem certeza sobre se os humanos causam a mudança do clima, que ele considera um tema “secundário” e uma “discussão acadêmica”.

Em seguida, explicou-se sobre unidades de conservação, dizendo que “não é intenção” do governo extinguir áreas protegidas e sim fazer a regularização fundiária. Ao citar o exemplo do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, o ministro cometeu uma gafe: perguntou se havia algum senador do Maranhão na sessão. “Eu!”, disse Eliziane, sentada exatamente ao lado de Salles.

Àquela altura, vários ambientalistas presentes no plenário, sentados nas cadeiras giratórias dos senadores, haviam se virado de costas para a tribuna.

A primeira vaia surgiu quando Salles disse ser “absolutamente inverídica” a frase sobre o desmonte do Ibama e do ICMBio.

“Pode se manifestar à vontade, o desmonte foi herdado de gestões anteriores, quem recebeu a fragilidade orcamentária fui eu, quem recebeu déficit gigantesco de funcionários fui eu, quem recebeu frotas sucateadas e prédios abandonados fui eu.”

Após a eleição, em novembro, o presidente Jair Bolsonaro reagiu da seguinte forma à informação de que havia necessidade de contratar mais 3.000 agentes para o Ibama e o ICMBio, órgãos que ele chama de “indústria de multas”: “Cês tão de brincadeira!” Sobre os veículos, logo na primeira semana no cargo o ministro queastionou o valor do contrato de aluguel de carros do Ibama, o que precipitou a demissão da presidente do órgão, Suely Araújo, que em resposta o chamou de desinformado.

O ministro recebeu novas vaias quando disse que o agronegócio brasileiro era um “exemplo de sustentabilidade para o mundo”.

Ao final de sua intervenção, Salles levou mais uma vaia e fez menção de deixar o plenário alegando que precisava viajar, antes de ouvir um discurso do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). O senador disse que ansiava para que o ministro o esperasse falar “como o vigia anseia pela aurora”. Eliziane pediu que ele ficasse três minutos. A plateia gritou “fica! Fica!” e, quando o ministro se levantou, parte da audiência de ambientalistas, indígenas, movimentos sociais, militares e representantes de delegações estrangeiras começou a gritar “fujão! Fujão!”

Após a saída de Salles, Randolfe fez um discurso duro, contestando o que chamou de “mentiras” do ministro uma a uma.

“Da tribuna do Senado eu nunca vi ninguém a compô-la com tanta indignidade como esse senhor a compôs agora. Indignidade misturada com covardia”, discursou. “Nunca a verdade foi tão violentada neste plenário como neste dia de hoje. O ministro teria feito talvez um ato melhor se nem aqui tivesse comparecido. Para comparecer, vomitar mentiras e sair fugido covardemente era melhor não ter vindo.”

Fora do plenário, à imprensa, Salles disse que protestos eram naturais na democracia.

(CLAUDIO ANGELO)

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