Castanheira queimada na Flona do Jamanxim, no Pará (Foto: Vinícius Mendonça/Ibama)

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Brasil segue líder na destruição de florestas

43% da perda de matas tropicais do mundo em 2022 aconteceu no país, aponta relatório

27.06.2023 - Atualizado 11.03.2024 às 08:31 |

DO OC – Relatório publicado nesta terça-feira (27/06) pela organização World Resources Institute (WRI) aponta que o Brasil segue ocupando a desonrosa posição de líder mundial no ranking de perda de florestas tropicais: em 2022, foram 1,77 milhões de hectares de floresta tropical primária destruídos (ou 17.700 km2), um aumento de 15% na comparação com o ano anterior. O montante representa 43% da perda total de florestas no mundo em 2022. 

A perda florestal no Brasil — monitorada na Amazônia, no Cerrado, no Pantanal e na Mata Atlântica,  — significou a emissão de 1,2 bilhão de toneladas de CO2 na atmosfera, duas vezes e meia mais do que tudo o que o país emite pela queima de combustíveis fósseis. Os dados são da ferramenta de monitoramento Global Forest Watch e da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, que realizam o levantamento anualmente desde 2002. 

O relatório deste ano mostra que o índice de perda florestal não relacionada a incêndios no Brasil foi o maior desde 2005. O desmatamento por corte raso (a derrubada total das árvores e vegetação de áreas selecionadas) aparece como principal causa da devastação. 

Os dados indicam ainda que a perda de florestas primárias no Brasil escalou na Amazônia ocidental, com destaque para os estados do Amazonas e Acre. No Amazonas, a taxa de destruição de florestas primárias praticamente dobrou nos últimos três anos, sendo causada principalmente pelo desmatamento em larga escala para a abertura de pastagens de gado no entorno de grandes rodovias. Dados do Inpe produzidos a pedido do OC já mostraram que o desmatamento dobrou de um ano para o outro no entorno da BR-319 após o anúncio do asfaltamento da estrada pelo então ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas, atual governador de São Paulo. A perspectiva da estrada tornou o Amazonas um dos principais pontos quentes de desmatamento nos últimos quatro anos.

Mais uma vez, Brasil responde por quase metade do desmatamento tropical no mundo (Fonte: GFW/WRI)

“Além dos impactos relativos à emissão de carbono, a perda de floresta na Amazônia impacta os regimes de chuva regionais e pode levar ao tipping point, processo de transformação da maior parte do ecossistema em savanas”, diz o texto.

As terras indígenas Apyterewa (Pará), Karipuna (Rondônia) e Sepoti (Amazonas) são citadas como pontos críticos de desmatamento na Amazônia em 2022. Os três territórios, segundo o relatório, registraram recordes na destruição florestal, causada pela ação de invasores. O texto cita ainda a detecção de perda florestal na TI Yanomami, decorrente da ação do garimpo ilegal na região. 

Onze campos de futebol por minuto

No mundo, a taxa de destruição das florestas tropicais primárias em 2022 foi de 4,1 milhões de hectares, o equivalente a 11 campos de futebol por minuto. A taxa representa um aumento de 10% na destruição das florestas na comparação com 2021, ano em que líderes de 145 países assinaram a declaração conjunta para a preservação de florestas na COP26, em Glasgow. A destruição, segundo o relatório, produziu emissões de 2,7 Gt de CO2, o equivalente a toda a emissão anual por combustíveis fósseis da Índia. 

A República Democrática do Congo é a vice-líder do ranking, com uma perda de 512 mil hectares (ou 5.126 km²) em 2022. O documento destaca o rápido crescimento da perda florestal em países como Gana e Bolívia, enquanto Indonésia e Malásia conseguiram manter os níveis de destruição próximos às taxas mais baixas registradas. Em Gana, um país produtor de cacau, o desmatamento subiu 71%, puxado pelo aumento da demanda global por chocolate após a pandemia. Mesmo assim, a área total desflorestada no país africano foi de 18 mil hectares – só a Amazônia perde uma área de florestas desse tamanho em menos de uma semana.

“Em 2022, o desmatamento global continuou aumentando, apesar de necessitarmos uma redução anual de 10% para atingir a meta de desmatamento zero em 2030”, conclui o relatório, enfatizando que a humanidade caminha na contramão das metas ambientais e climáticas pactuadas para viabilizar o futuro do planeta. (LEILA SALIM)

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