Coral branqueado nas Maldivas em 2016 (The Ocean Agency/XL Catlin Seaview Survey)

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Na newsletter: Agência alerta para branqueamento de corais na despedida do El Niño

Fenômeno pode afetar todo o hemisfério Sul, diz biólogo

11.03.2024 - Atualizado 15.03.2024 às 11:00 |

No rosário de desgraças cada vez mais previsíveis do combo El Niño-crise climática, um elemento ainda estava faltando: o aquecimento do Pacífico tropical no biênio 2023-2024 ainda não havia causado branqueamento maciço de corais na Austrália e em outras regiões do planeta, como ocorreu em 2015-2016. 

Pelo visto não falta mais: o Coral Reef Watch, do governo americano, emitiu um alerta para o que pode ser o pior evento de branqueamento da história, com potencial de afetar o mundo inteiro. Nesses fenômenos, ondas de calor marinhas fazem as colônias de coral perderem as algas simbiontes que lhes dão cor e das quais os corais dependem para se alimentar. O resultado é que os recifes ficam brancos e frequentemente morrem depois. Quanto menor o intervalo entre as grandes ondas de calor oceânicas, menor a chance de recuperação dos recifes.

O primeiro branqueamento em massa foi registrado no El Niño de 1997-1998, quando incêndios florestais destruíram 40 mil quilômetros quadrados de mata em Roraima. A dupla catástrofe ambiental se repete agora: o número de focos de calor detectados no estado em fevereiro foi o maior desde o início da série histórica do Inpe, em 1999.

O caso dos corais assusta por dois motivos: primeiro, porque eles podem ser o primeiro grande ecossistema extinto pela mudança do clima – e arrastarão consigo o modo de vida de milhões de seres humanos que dependem dos seus recursos pesqueiros e do turismo em seu entorno. Segundo, porque seu colapso não era previsto pela ciência para antes dos anos 2030. Com o aquecimento da Terra prestes a ultrapassar o limite de 1,5 °C de forma permanente, esses ambientes mágicos e delicados não resistirão. Dói dizer, mas conheça-os enquanto pode.

Quarto branqueamento em massa de corais está batendo à porta

O Coral Reef Watch, da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA), disse nesta semana que estamos prestes a ver o quarto branqueamento em massa de recifes de coral, ecossistemas essenciais para a sobrevivência de outras espécies marinhas. Para o biólogo Derek Manzello, coordenador do Coral Reef Watch, este pode ser o pior evento de branqueamento da história do planeta. “Parece que todo o hemisfério Sul vai provavelmente branquear neste ano”, afirmou à agência Reuters. Isso inclui o Brasil e a Grande Barreira de Coral da Austrália, considerada o maior organismo vivo do mundo. Os corais estão mais suscetíveis ao branqueamento por causa do aumento anormal da temperatura dos oceanos. Episódios globais de branqueamento aconteceram em 1997-1998, 2010 e 2016-2017. 

O aquecimento do oceano tem batido recordes nos últimos meses. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), o termômetro disparado na superfície do mar não é culpa apenas do fenômeno natural El Niño. O aquecimento global causado pelas ações humanas tem uma responsabilidade gigantesca nesse distúrbio. A propósito, o El Niño atingiu o pico e está em ritmo de enfraquecimento, mas ainda tem 60% de chances de contribuir para temperaturas do ar acima do normal em quase todo o planeta entre março e maio. 

Nesta semana, o serviço climático europeu Copernicus mostrou que o mês passado já foi o fevereiro mais quente da história, com 1,77 °C mais que a estimativa da média do mês para o período pré-industrial (1850-1900). Além disso, por quatro dias consecutivos a temperatura média global alcançou 2°C acima dos níveis pré-industriais. A temperatura média global dos últimos doze meses, de março de 2023 a fevereiro de 2024, também é a mais alta registrada: 1,56 °C acima da média pré-industrial.

Roraima bate recorde de emissões por incêndios florestais em fevereiro

O Copernicus também divulgou que as emissões de CO2 por queimadas em Roraima atingiram o nível mais alto para fevereiro em 22 anos. Até o dia 27, o fogo no estado havia emitido 2,3 milhões de toneladas de CO2, valor que corresponde a 56% do total emitido por queimadas no país inteiro no mesmo período. Roraima terminou fevereiro com 2.057 focos de fogo, a maior contagem desde o início da série histórica do Inpe, em 1999. O estado tem enfrentado altas temperaturas e uma estiagem que afetou o fornecimento de água potável.

Situado no hemisfério Norte, Roraima tem estações de chuva e estiagem diferentes do restante da Amazônia, e costuma queimar no começo do ano, quando a maior parte da região ainda está no auge das chuvas. As queimadas anormais deste ano, porém, servem de alerta para o “verão” (estação seca) nos outros estados, vitimados por uma estiagem histórica e por megaincêndios florestais no ano passado. Em dezembro, janeiro e fevereiro o número de focos de fogo ficou muito acima da média no bioma, o que sugere que o “inverno” (estação chuvosa) pode ter sido insuficiente para restabelecer o equilíbrio hídrico amazônico.

Trump pode aumentar emissão dos EUA em 4 bi de toneladas

Uma análise do Carbonbrief estima que um retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos pode embutir mais 4 bilhões de toneladas de CO2 nas emissões do país até 2030, em comparação com os planos futuros do democrata Joe Biden. Significa simplesmente o não cumprimento da NDC (meta climática) do país. Mas, francamente, esse seria o menor dos problemas de um presidente que está disposto a fazer um governo de revanche, que já disse que iniciará seu mandato com uma “ditadura” e que vai tirar os EUA novamente do Acordo de Paris.

Nem todo mundo parece preocupado, porém. Em entrevista à revista The New Yorker, John Kerry, enviado especial para o clima do governo Biden que deixou a Casa Branca há poucas semanas, disse que a transição energética já está “precificada” em grande parte da economia dos EUA e que nem a mudança de presidente (ou de regime, vai saber) fará, por exemplo, as montadoras desistirem dos carros elétricos e voltarem a fabricar veículos a combustão. Oremos. Leia a entrevista completa aqui.

Governo diz que concluiu desintrusão da terra Apyterewa

Homologada por decreto em 2007, a Terra Indígena Apyterewa, em São Félix do Xingu (PA), foi dominada por invasores. Finalmente, após um processo de desintrusão iniciado no ano passado, o povo parakanã se livrou dos criminosos – ao menos é o que diz o governo federal. Na quarta-feira (6), a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e o secretário-geral da Presidência, Márcio Macedo, entregaram a certidão que marca a retirada dos criminosos do território. “Demorou, foi difícil, foi tenso, teve gente da Funai que foi ofendida e baleada, mas a gente não desistiu”, disse a ministra.

A Apyterewa deveria ter sido limpa de invasores na década passada; sua desintrusão era condicionante da usina de Belo Monte, mas nunca foi cumprida. Grileiros criaram uma “associação de moradores” e levaram centenas de famílias pobres para a terra indígena, para forçar um fato consumado. No governo Bolsonaro, como revelou o jornalista Rubens Valente, a Funai chegou a patrocinar um acordo para cortar pela metade os 773 mil hectares do território e entregá-lo aos invasores. A manobra teve o dedo – oh, surpresa – do Ministério dos Direitos Humanos de Bolsonaro, então ocupado pela pastora Damares Alves.   

Organizações lançam manifesto para exigir paridade de gênero e raça na COP do Brasil

No Dia Internacional da Mulher, mais de 50 organizações da sociedade civil assinaram um manifesto para exigir paridade de gênero, raça, etnia, classe social, geração, identidade de gênero e orientação sexual nas equipes responsáveis pelos preparativos e negociações da COP30, a conferência do clima da ONU que será realizada no Brasil no fim de 2025. “Depois de três COPs sediadas por países em que ser mulher já é algo desafiador – Egito, Emirados Árabes e Azerbaijão, o governo brasileiro terá a oportunidade de construir história de maneira genuinamente democrática. Começando pela delegação do Brasil e se estendendo para as negociações, cada vez mais urgentes em respostas abrangentes e efetivas”, diz Isvilaine Silva, assessora de mobilização e engajamento do Observatório do Clima.

O documento cita seis condições importantes que vão além da composição de equipes: equidade e representatividade nas delegações; promoção da igualdade de oportunidades; inclusão de perspectivas de gênero em políticas climáticas; investimentos em formação; combate à violência de gênero relacionada ao clima; e transparência. “Promover a igualdade de gênero é não apenas uma questão de justiça social, mas também a estratégia mais eficaz para enfrentar os desafios ambientais”, comenta Nicole Figueiredo, diretora executiva do Instituto Arayara.

Na playlist

Tem disco novo dos perigosos comunistas Chico César e Zeca Baleiro na praça: Ao Arrepio da Lei, já no streaming. Ficamos com esta faixa, Verão, que homenageia a estação que se encerra neste mês.

 

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